A intenção do governo federal de reduzir a alíquota de importação de celulares é um risco para a indústria nacional, especialmente se não vier acompanhada de reformas que tornem a economia nacional mais eficiente, alerta o analista principal da Ovum para a América Latina, Ari Lopes.

“A princípio sou a favor de reduzir a carga tributária, o que inclui impostos de importação. Mas uma redução pura e simples de alíquotas de importação é um risco para a indústria em um momento em que o país tem alto nível de desemprego. Isso deveria ser parte de uma estratégia mais ampla de tornar a economia brasileira mais competitiva, incluindo uma reforma tributária”, comentou Lopes, em entrevista para Mobile Time. E acrescentou: “Se reduzir a tarifa de importação mas o produtor local seguir tendo infraestutura ineficiente para transportar produtos e dificuldades na contratação de mão de obra, fica uma disputa injusta porque a a importação vem de economias mais eficientes.”

Lopes lembrou que o Brasil é o único país da América Latina com uma indústria diversificada de bens de informática e de telecomunicações, incluindo a fabricação de estações rádio-base de telefonia celular. Porém, ele entende que não basta proteger essa indústria para que ela se desenvolva de maneira saudável. “(A indústria) tem que ser exposta à competição para se modernizar e ser mais competitiva. Mas isso tem que ser parte de uma discussão maior. A proteção pela proteção não vai nos dar uma indústria saudável e resiliente a longo prazo”, avalia.

Chegada de concorrentes

Lopes entende que a redução da alíquota pode atrair novos players para o Brasil. Porém, discorda que haverá uma avalanche de importados, porque há uma série de outras dificuldades para se operar no País além da alta alíquota de importação.

“Há uma série de questões do mercado local que tornam complexa a operação de vir para o Brasil. O custo de logística aqui é mais caro. Xiaomi e Huawei vieram e tiveram uma série de dificuldades que as obrigaram a voltar atrás. Lembro que a Xiaomi reclamava, por exemplo, do trâmite de importação, pois demorava muito tempo para peças serem liberadas no porto”, relembra.