Geração de renda para comunidades amazônicas, tecnologia de ponta e sustentabilidade: essa é a combinação por trás do projeto Amazônia 4.0, liderado por um instituto homônimo com dezenas de parceiros, entre empresas, ONGs e instituições de pesquisa. A proposta é de promover a bioeconomia, identificando cadeias produtivas em que comunidades locais possam ser beneficiadas com a agregação de valor a partir da utilização de tecnologia, ao mesmo tempo em que se garante a preservação da floresta. A primeira etapa vai focar na cadeia produtiva do cacau cupuaçu, com o objetivo de transformar comunidades extrativistas em produtores de chocolate.

“Hoje, a população local vende o cacau a R$ 10 por quilo, enquanto poderia ganhar R$ 200 por quilo de chocolate. Vamos criar uma cadeia produtiva, adicionando valor agregado, com a fabricação de chocolate”, explica, em conversa com Mobile Time, Tereza Cristina Melo de Brito Carvalho, coordenador geral do Laboratório de Sustentabilidade (Lassu) da USP, membro do IEEE e uma das responsáveis pelo Amazônia 4.0.

Foram identificadas quatro comunidades para receberem as biofábricas. Em uma primeira fase, será construída uma instalação móvel, chamada de Laboratório Criativo da Amazônia (LCA), que ficará cerca de três meses em cada comunidade, para ensinar o passo a passo da fabricação do chocolate. Depois, em uma segunda fase, serão instaladas versões definitivas das biofábricas. A primeira beneficiada, que acaba de receber o LCA, é uma comunidade ribeirinha na margem direita do rio Aracá, que hoje produz amêndoas de cacau fermentadas. As outras três escolhidas ficam em Belterra, Moju Miri e na reserva extrativista Arapiuns-Tapajós, e envolvem associações de mulheres trabalhadoras e quilombolas.

O LCA é composto de ocas, cada uma com uma função na cadeia produtiva e na educação da comunidade local. Todo o processo produtivo do chocolate acontecerá dentro do LCA, desde a fermentação da pinha do cacau, passando pela torrefação, pelo descascamento e pela moagem, até a adição da manteiga de cacau, que confere o brilho ao chocolate. A produção será monitorada por sensores conectados a uma rede Wi-Fi local. E os chocolates terão em sua embalagem um QR code informando a origem do produto, incluindo a própria árvore de onde foi extraído o cacau – todas as informações validadas e rastreáveis por Blockchain. O LCA será abastecido 100% por energia solar. O escoamento da produção para centros de distribuição será feito por drones e tuk-tuks elétricos.

“É um projeto que gera renda para  a comunidade local, aproveita todos os resíduos (lixo zero) e utiliza energia renovável”, resume a pesquisadora.

As biofábricas futuras poderão ser compartilhadas pelas comunidades próximas que quiserem utilizá-las. A capacidade de cada uma será de produzir entre 100 e 200 quilos por dia.

Futuro

A cadeia produtiva do cacau cupuaçu é apenas a primeira a ser beneficiada pelo projeto Amazônia 4.0. Há planos de fazer o mesmo com outros produtos da região, como açaí e castanha. 

Também se pretende fazer o sequenciamento genético de espécies amazônicas para a criação de cosméticos e remédios, vinculada ao conhecimento ancestral das comunidades locais. Empresas interessadas em produzir a partir desse conhecimento pagariam pelo sequenciamento e distribuiriam parte dos ganhos para as comunidades originárias, explica a pesquisadora.

Imagem no alto: maquete digital com vista aérea do Laboratório Criativo da Amazônia (Crédito: Divulgação)