O ano de 2023 está representando um divisor de águas para o RCS no mercado brasileiro: esse padrão de mensageria móvel está finalmente ganhando tração, com várias marcas saindo da fase de testes e adotando esse canal com recorrência, o que está gerando um tráfego significativo de mensagens. Servem de exemplo os números da Pontaltech, uma das poucas integradoras homologadas junto ao Google e a todas as grandes operadoras nacionais para a comercialização do RCS: a empresa deve superar 100 milhões de mensagens RCS enviadas este ano. E para 2024 a previsão é alcançar algo entre 350 milhões e 500 milhões de mensagens, estimativa que ainda não leva em conta a adesão da Apple ao RCS, divulgada na última quinta-feira, 16.

“Estimamos que a Pontaltech seja a maior empresa de RCS da América Latina. E o Brasil é o segundo maior mercado do mundo em volumetria de RCS, atrás apenas da Índia”, diz o CEO da Pontaltech, Carlos Secron, em conversa com Mobile Time.

“Estimamos que a Pontaltech seja a maior empresa de RCS da América Latina. E o Brasil é o segundo maior mercado do mundo em volumetria de RCS, atrás apenas da Índia”, diz Carlos Secron, CEO da Pontaltech

O RCS chegou ao Brasil em 2019 com a Oi sendo a primeira operadora a adotá-lo oficialmente de forma integrada à plataforma do Google para esse serviço. Nos anos seguintes, as demais teles seguiram o mesmo caminho, também conectadas ao Google. Mas até bem pouco tempo os casos se limitavam a provas de conceito, testes ou campanhas pontuais. O que mudou em 2023 para os números crescerem tanto?

“Faltava padronização dos processos no Google e nas operadoras. Mas no fim  do ano passado e começo deste ano muita coisa mudou. Todas as operadoras estão com modelos comerciais e processos operacionais e de cobrança definidos tanto nos parceiros quanto no Google”, relata Secron.

Outra mudança importante é o aumento da base de smartphones habilitados a operar com RCS. A Samsung, por exemplo, tem apoiado bastante esse padrão, já devidamente integrado como app principal de mensageria nos aparelhos da marca. Nas versões mais recentes do Android não é mais necessário habilitar o RCS: essa tecnologia já vem configurada como default.

“Nos primeiros cases que fizemos, entre 30% e 35% da base Android era apta a receber as mensagens. Agora está entre 70% e 75%. O único impedimento são os aparelhos mais antigos”, comenta o CEO da Pontaltech. Quando o destinatário é um celular não habilitado, os integradores fazem automaticamente um novo envio, mas através do SMS, técnica conhecida como “fallback”. 

Outra barreira removida é a Apple. A partir de 2024, o RCS vai funcionar também nos iPhones, conforme anunciado pela fabricante nesta semana.

Cases

As aplicações mais populares com RCS no Brasil são vendas e recuperação de dívida. Entre as empresas que mais têm utilizado o canal através da Pontaltech estão Casas Bahia, Mercado Livre, Shopee e Di Santinni. Mais de 200 marcas já foram homologadas para uso do RCS através da Pontaltech no Brasil, seguindo os requisitos exigidos pelo Google.

Os resultados obtidos costumam superar aqueles com SMS e outros canais digitais. A Di Santinni em uma campanha da Black Friday no RCS conseguiu uma conversão de vendas online 102% maior que sua média em outros canais. A Casas Bahia, em uma ação no Natal do ano passado, registrou taxa de abertura de 43%, aumento de 10 vezes nas interações e crescimento de 109% nas vendas. O Mercado Livre, em uma campanha de recuperação de crédito, conseguiu aumentar a interação em 14 vezes e a conversão em 20%.

Vantagens e modelos de negócios

O RCS é tido como uma evolução do SMS por se tratar de um protocolo de mensageria com a participação das operadoras móveis, mas com uma série de recursos mais sofisticados que seu predecessor. No RCS, é possível incluir conteúdo multimídia no corpo da mensagem, como fotos, vídeos e áudios, além de interação com botões. A experiência pode ser a de uma conversa, tal como em apps de mensageria OTT, em vez de uma mera notificação. As marcas têm seu perfil verificado, com a exibição de um selo de autenticação, o que confere maior segurança para o consumidor final. E, por fim, as empresas conseguem acompanhar taxas de abertura, leitura e cliques, o que não é possível no SMS.

As operadoras brasileiras oferecem o RCS em três “sabores”: basic, single e conversacional. O básico tem o mesmo preço do SMS e é limitado a conteúdo de texto, mas tem a vantagem de informar a taxa de leitura e de exibir o selo de verificação da identidade do remetente. O single é cerca de três vezes mais caro que o basic, mas permite a inclusão de conteúdos multimídia. E o conversacional é para aplicações em requeiram uma sessão de bate-papo entre marca e consumidor, tendo um preço mais alto. 

Em relação ao SMS, o RCS tem como principal diferencial competitivo os seus recursos. E na comparação com o WhatsApp a principal vantagem do RCS é o preço mais baixo.

Notificações multimídia e P2A

Para 2024, há expectativa de aumento de cases de notificações com recursos multimídia, como o envio de cartão de embarque e de ingresso de evento, com armazenamento automático na Google Wallet. Também é esperado que surjam experiências de RCS conversacional no Brasil e de P2A (Peer to Application), em que o usuário inicia a conversa com a marca, o que pode ser usado para atendimento digital, como acontece hoje no WhatsApp. O modelo de negócios para P2A ainda está sendo desenhado pelas teles.