O CEO do PagSeguro, Ricardo Dutra, disse nesta quinta-feira, 18, que “não se arrepende de não dar empréstimos” durante a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) via seu banco digital, o PagBank (Android, iOS). Em conferência com analistas de mercado para apresentar os dados de crescimento e o futuro da companhia, o executivo afirmou que busca criar uma empresa com um modelo sustentável de negócio.

“Nós estamos construindo um negócio muito sustentável. Nós lançamos o PagBank há dois anos e ainda estamos construindo e está crescendo bem. O fato de que nós não demos crédito durante a pandemia é algo que nós não nos arrependemos. Era um período difícil, com muitas incertezas, mas agora podemos olhar para frente”, defendeu Dutra.

Segundo dados do IBGE divulgados em outubro deste ano, a pandemia fez com que 656,4 mil empresas fechassem as portas entre 2019 e 2020, quase o dobro em relação às 382,5 mil do período entre 2014 e 2018. Além disso, o País encerrou o último mês com 14,1 milhões de desempregados.

“Se compararmos (o PagSeguro) com outras companhias do setor, nós estamos montando algo sustentável, somos mais lucrativos e, no fim do dia, melhores que os outros”, completou ao ressaltar o valor e a busca de lucratividade de sua companhia.

Em especial recente publicado por Mobile Time, outras empresas de liberação de crédito como Mercado Pago e Recarga Pay apresentaram-se receosas em liberar crédito nos primeiros três meses da pandemia, mas passados os períodos de incertezas e a necessidade de muitas empresas reestruturarem seus negócios, e pessoas comuns estruturarem suas vidas financeiras, as companhias voltaram a dar linhas de crédito aos clientes. Inclusive, houve a entrada de novos players, como a Vivo, e o avanço de FIDCs, os fundos de investimento em direitos creditórios, segundo dados da Anbima.

Inimigo roxo

Durante apresentação que durou quatro horas, o chairman e fundador da PagSeguro, Luis Frias, afirmou que apenas PagSeguro, XP e Stone são lucrativos, ou seja, “nenhuma outra fintech” de grande dimensão lucra no Brasil. Afirmou ainda que o seu banco digital, PagBank, acumulou em dois anos 35% dos clientes do Nubank e 15% de suas receitas, sendo que possui apenas 5% do portfólio de clientes com penetração de crédito na base, em comparação aos 35% do rival.

Além disso, Frias explicou que o seu “OPEX por cliente é equivalente a 57% do banco roxo” – R$ 74 x R$ 130. Contudo, vale dizer que o Nubank tem 35 milhões de clientes e o PagSeguro 12 milhões.

Nota-se que as comparações do PagSeguro com o Nubank acontecem próximo da IPO da rival, que começa a operar com ações na Bolsa de Nova Iorque com BDR na B3 brasileira no dia 8 de dezembro, o que pode trazer uma fuga de parte dos investimentos do PagSeguro. Coincide também que na última terça-feira, 17, começou o período de reservas de ações que vai até um dia antes da IPO. Se acontecer como esperado, o valor da oferta pública do Nubank pode chegar a US$ 3,6 bilhões, US$ 1 bilhão a mais que a IPO do PagSeguro, feita em 2018, na mesma Bolsa nova-iorquina.

Futuro

Citando que possuem 10% de market share e 20% do total de receita entre as fintechs brasileiras, Dutra explica que ainda há muito espaço para desenvolver o ecossistema financeiro do PagSeguro. Segundo Alexandre Magnani, COO da companhia, o crescimento deve ser puxado pelo aumento de transações eletrônicas no mercado brasileiro como um todo, que deve crescer em uma média de 20% ao ano, segundo dados recentes da Abecs.

Neste cenário, Artur Schunck, CFO do PagSeguro, estima que o PagBank terá o seu breakeven em EBITDA Ajustado até o final de 2022. E, ao final de 2024, o banco digital será responsável por 30% do total de receita da companhia, enquanto os outros 70% ficarão concentrados no negócio de adquirência.

“Em longo prazo, nós estamos olhando para o melhor equilíbrio entre crescimento e lucratividade”, disse Schunk. “Nós podemos ter mais penetração do cartão de crédito no futuro e a nossa operação de crédito está apenas começando”, declarou.

Para manter essa operação ativa, Dutra confirma que deve aumentar valores para parte de sua base de adquirência no próximo mês: “Nós estamos fazendo aumentos e ajustes de preços. Tivemos queda de ganho líquido no terceiro trimestre e vamos ter no quarto trimestre muito churn por conta da saída de clientes da Wirecard (adquirida em agosto) e por comércios que fecharam as portas na pandemia. Mas vamos nos recuperar no primeiro trimestre de 2022”, disse.

Dados

Outras informações relevantes da operação do PagSeguro que foram divulgadas nesta quinta-feira são:

  • A cada dois meses, o PagSeguro registra 1 bilhão de transações;
  • Em setembro de 2021, o PagSeguro tinha 7,7 milhões de comerciantes ativos;
  • 70% dos novos comerciantes nunca aceitaram cartões como meio de pagamento antes;
  • A cada duas semanas, uma nova versão do PagBank é lançada para a base de clientes;
  • Mais de 200 parceiros tecnológicos estão integrados ao ecossistema de serviços da companhia via APIs para serem ofertados nos dispositivos inteligentes dos clientes;
  • Entre os serviços para comerciantes: 1 milhão usam o Pagvendas (gestão de empresas) e 20% fazem reconciliação (negociação de dívida) via Concil;
  • O app do PagBank registrou no terceiro trimestre deste ano: 795 milhões de aberturas de seções com login diariamente; 1,3 milhão de clientes tiveram cashback e 2 milhões usaram serviços de conveniência;
  • O banco digital teve R$ 58,8 bilhões de transações no terceiro trimestre de 2021, 2,6 vezes mais que o mesmo período um ano antes.