Cinegrafista com mochilink 5G durante transmissão do Rock in Rio 2022 (Crédito da imagem: divulgação)

A Globo vem realizando uma série de testes com tecnologia móvel para a transmissão de eventos ao vivo, com seus cinegrafistas levando mochilinks conectados às redes das operadoras celulares. O teste mais recente foi feito na rede 5G da TIM durante a transmissão do Prêmio Mulitshow. A emissora tem conseguido atingir 10 Mbps no upload, mas teme que essa velocidade caia se houver muita gente conectada ao mesmo tempo na rede. Por isso, a Globo entende que é importante que as operadoras adotem ferramentas de garantia de banda, como o network slicing, o que conferirá mais segurança para a transmissão ao vivo em 5G. Em entrevista para Mobile Time, o gerente de estratégia e licenciamento em telecom da Globo, Francisco Peres, relata como foram os testes até o momento, as vantagens de uso da rede móvel e os planos da empresa para essa tecnologia. Peres participará no dia 29 de novembro da segunda edição do MPN Fórum, que será realizada no WTC, em São Paulo, Nela, o executivo detalhará ainda mais a experiência da Globo com 5G.

Mobile Time – Por que a Globo decidiu experimentar a transmissão de eventos ao vivo via 5G? 

Francisco Peres – A captação de sons e imagens ao vivo frequentemente demanda sistemas sem fio. A mobilidade dá a liberdade de que o cinegrafista precisa para captar as melhores imagens e é um valor presente em eventos noticiosos e shows, seja dentro ou fora dos estúdios. Essa facilidade pode ser alcançada por meio do uso de redes privadas, usando inclusive espectro destinado à radiodifusão, ou por meio das redes de operadoras do serviço móvel. Por um lado, há a confiabilidade de usar as próprias frequências; do outro, a conveniência de poder ligar a câmera a qualquer hora e em qualquer lugar sem precisar montar uma infra dedicada. Ao longo do tempo, os sistemas que se conectam às redes móveis celulares ganharam escala e ficaram menores e mais leves que uma mochila, razão pela qual ficaram conhecidos no Brasil por mochilinks. As redes do tipo 3G e 4G se mostraram úteis no decorrer dos últimos anos para prover conectividade em ambientes com baixo volume de usuários, como nas entradas cotidianas dos telejornais. Em eventos com grandes aglomerações, como jogos de futebol e shows, a performance desses sistemas fica degradada e quase não dá para transmitir o sinal das câmeras com a qualidade e confiabilidade de que as emissoras precisam. Nesse contexto, o 5G traz uma expectativa de que, por meio das suas novas ferramentas, seja possível garantir banda com altas taxas e estáveis no tempo.

Quantos testes foram feitos até agora?

O ano de 2022 começou usando um sistema ainda em testes, no Carnaval de São Paulo, transmitindo uma das câmeras da pista, uma na concentração e outra na arquibancada. Após o lançamento oficial do 5G nas capitais, foi possível contar com um número maior de estações 5G disponíveis, daí o desafio de usar os shows do Rock in Rio para avaliar o comportamento das conexões, as taxas obtidas e sua estabilidade. Nesse evento, quatro câmeras transmitiram seus sinais simultaneamente, com alta qualidade, captando imagens de todos os palcos do evento, além de entrevistas nas plateias em toda a Cidade do Rock. Algumas semanas depois do Rock in Rio, o Prêmio Multishow foi o evento escolhido para servir de palco de mais um teste da tecnologia. Nessa ocasião, duas câmeras puderam se movimentar livremente entre o palco, o tapete vermelho e o estúdio do evento.

O que acharam dos resultados nessas primeiras experiências? Atingiram a velocidade e a consistência desejadas?

Nessas experiências, foi possível atingir e manter taxas da ordem de 10 Mbps por câmera. Usando codificadores de altíssimo rendimento, essas taxas são suficientes para transmitir, com qualidade, eventos noticiosos e shows. Comparando com os Gbps que frequentemente vemos nos testes de velocidade para download, as câmeras precisam de banda no upload, e, nesse sentido, a taxa total de uma operadora ainda fica na ordem de 100 Mbps. A expectativa das empresas que realizam captações de imagens desse tipo é de que as operadoras implementem as ferramentas que o 5G promete para permitir garantia de banda, quando mais usuários estiverem acessando a rede.

Serão feitos mais testes nos próximos meses? Com quem? Em quais eventos?  

Todo evento com necessidade de transmissão de imagens é uma oportunidade para mais um teste. É importante aproveitá-las para testar diferentes operadoras e diferentes fornecedores de sistemas de transporte de vídeo. Esse casamento tem sido feito à medida que os eventos se apresentam; por isso, a divulgação dos testes tem sido após a realização dos eventos.

Quais as vantagens enxergam no uso do 5G frente a outras tecnologias utilizadas em transmissões ao vivo?

Uma das ferramentas que prometem sucesso nessa atividade é o network slicing. Em todos os eventos, tem-se buscado avaliar a performance dessa técnica para que, quando as redes estiverem com uso massivo, a captação de imagens possa ter garantia de banda e estabilidade de conexão. A baixa latência da rede também nos permitirá buscar delays cada vez menores nas imagens captadas.

Pretendem adotar o 5G definitivamente para transmissões ao vivo? Para quais tipos de eventos? 

São usados diferentes tipos de sistemas para transportar todos os sinais que os eventos possuem. Quando as técnicas de garantia de banda estiverem implantadas no 5G, será uma tecnologia com amplo uso das empresas que precisam realizar produções ao vivo e com grandes aglomerações.