Infraestrutura

Depois de explicar o que é o metaverso, a segunda parte do especial de Mobile Time sobre o tema entra nos desafios da criação desses universos que juntam o mundo físico e virtual. Sabemos que o universo da Meta começa com aplicações e dispositivos avançados, como óculos de realidades virtual, aumentada e mista. Mas, antes de acessarmos toda essa tecnologia, o que será preciso para avançar neste novo mundo tecnológico? Quais serão os combustíveis no back-end do metaverso?

A holding Meta lidera a jornada ao metaverso. Para isso, desenvolve uma série de tecnologias, como os óculos de realidade virtual Oculus e seus aplicativos. E, no começo do ano, a companhia anunciou um supercomputador para acelerar o desenvolvimento do metaverso. O RCS possui inteligência artificial e machine learning. E no último dia 18 de maio, Nick Clegg, presidente de assuntos globais da Meta, explicou como o metaverso está sendo construído em sua empresa.

“Um modo de pensar a estrutura do metaverso é imaginar como uma construção de uma casa. Em cada piso você tem a fundação que suporta o piso superior. Para cada piso, e entre cada piso, há diferentes tipos de regras, regulações e demandas”, exemplifica o executivo em uma publicação no seu blog no Medium.

Em seguida, Clegg define a criação do metaverso da Meta em “três pisos”:

  1. A fundação da casa com hardware, protocolos e padrões;
  2. O térreo com plataformas e redes;
  3. E as experiências e aplicações no primeiro andar.
Meta Standards NickClegg

Construção de um metaverso (crédito: divulgação)

Falando especificamente da fundação, o presidente da Meta explica que ela será a base para a interoperabilidade, algo que será necessário para que todos os pisos funcionem em harmonia.

Mas, como começar a fundação da casa?

Estrutura

Michael Biltz, diretor geral da Accenture, afirma que pelo fato de o metaverso ter diversas variantes e aplicações, há uma necessidade de construção de infraestrutura digital básica. Explica que os problemas de tecnologia do futuro não serão diferentes daqueles que temos agora, como a conectividade em alta velocidade e baixa latência. Contudo, lembra que os preços de infraestrutura em TIC estão baixando.

Ainda assim, Biltz acredita que as empresas que querem entrar no metaverso precisarão fazer investimentos robustos em infraestrutura: ‘Nós precisaremos expandir o mundo físico em camadas virtuais. Teremos camadas de governos inteligentes, indústria inteligente e outros. Hoje, já conseguimos imaginar que isso pode acontecer, tudo isso é possível. Mas nós vamos precisar de infraestrutura básica. Em especial porque o metaverso será mobile. Não será com a pessoa presa em um único local”, afirma.

Vale lembrar, uma pesquisa recente da Accenture revelou que 75% dos executivos globais querem investir ou fazer parcerias para resolver problemas atuais com tecnologias da próxima geração. Portanto, Biltz afirma que há vontade por parte das empresas em investir nessas tecnologias.

No MWC deste ano, Andy Penn, CEO da operadora australiana Telstra, lembrou que as redes de comunicações terão papel vital no desenvolvimento do metaverso, uma vez que o volume de dados trafegado nesses universos dependerá de rede de alta qualidade e baixa latência, algo que começa a chegar com o 5G.

“Muitos players do setor de tecnologia estão ocupados em desenhar visões de um mundo em inteligência artificial e realidade virtual, em um metaverso que é mais abrangente e profundo do que tudo que vimos antes. A visão de competição que temos para este mundo virtual vai levar anos para ser concretizada e dependerá de hardware que ainda não está disponível. Será necessária uma rede de alta qualidade e baixa latência”, diz Penn.

Importante dizer, o metaverso é uma das cinco apostas para o futuro da operadora australiana, ao lado de automação e robótica; avanço em tecnologia de ponta para telecomunicações; trabalho híbrido; e proteção em cibersegurança.

Hardware x software

Para Guilherme Moika, consultor em engenharia de software do CESAR, as empresas de cloud (públicas e privadas) saem na frente e poderão avançar com ofertas de “serviços para hospedar e rodar algoritmos” dentro de suas nuvens. No entanto, o executivo acredita ainda ver algumas empresas avançando para ter seus próprios servidores (on-premise).

“Devemos ver ainda mais uso dos parques de hardware. Mas isso dependerá do modelo de negócios no metaverso. Para uma empresa pagar para outra rodar o seu algoritmo, talvez o custo seja muito elevado. Por isso, provavelmente, nós veremos algumas empresas investindo no on-premisses”, explica, ao dizer que grande parte dessa jornada ainda está sendo desenhada.

Outro ponto defendido por Moika é que a demanda no hardware, em especial com a necessidade de testes de erro-acerto nos serviços e produtos que serão adicionados no metaverso, também demandará um investimento robusto em software. Em especial, os programas baseados em low-code e no-code, de modo a diminuir a escassez de profissionais no setor: “Quando falamos de criação de software, nós precisamos de tecnologia de desenvolvimento fácil. Precisa ser mais fácil criar softwares”, completa.

Fernando Moulin, consultor na Sponsorb e professor da ESPM, acredita que a busca pelo on-premise é para empresas que querem “ganhar autonomia interna”. Mas ressalta que é um investimento em early stage e que não tirará espaço do cloud, que está em crescimento no mundo.

“É um movimento natural com Capex intenso para acelerar segurança dessa liderança. Mas são movimentos paralelos, cloud e on-premise. Trata-se de uma finalidade especifica de ter servidores próprios”, completa.

Moulin também acredita que haverá “uma disputa enorme” por empresas buscando soluções low-code e no-code: “Empresas que se tornaram impérios na Web 2 querem continuar no Web 3. Mas esse movimento terá a entrada de novos entrantes que não querem ficar para trás”, aposta.