Durante o Mobishop 2020, evento virtual organizado por Mobile Time nesta sexta-feira, 23, especialistas de tecnologia do setor financeiro compartilharam que os principais desafios da entrada do Sistema Financeiro Aberto (open banking, do original em inglês) no Brasil são a possibilidade de monetizar e controlar as APIs, além do cronograma de entrega, que seria curto para cumprir todas as etapas exigidas pelo Banco Central.

Cristiano Gomes, head de arquitetura digital de banco Santander, explicou que as instituições financeiras brasileiras estão fazendo o open banking na metade do tempo e com um alcance com o dobro do tamanho que os ingleses, que são atualmente uma das principais referências mundiais no sistema aberto, ao lado dos australianos.

Marcio Serra, sales manager de financial services industry da Red Hat, concordou com a fala de Gomes e reconheceu que é uma agenda desafiadora. Contudo, ele vê que há aspectos positivos, como observar o movimento de outros mercados mais maduros no open banking, como Ásia e Europa. Além disso, Serra lembrou que o cronograma foi construído pelo regulador com todos os participantes do ecossistema, inclusive as fintechs que disputam em pé de igualdade por espaço no open banking com os grandes bancos.

Competição

A eventual disputa entre os bancos tradicionais (incumbentes) e as fintechs (novos entrantes) foi outro tema do debate promovido por Mobile Time. Para Valeria Lobo, consultora de governança de open banking e BaaS do banco Original, o fato de o regulador ouvir todos os participantes foi vital para o desenvolvimento do sistema financeiro aberto. Neste sistema, ela vê um cenário oportuno para as fintechs, uma vez que propicia mais competitividade e ofertas para o consumidor final: “Antes, os bancos tinham um posicionamento de oportunidade maior. Agora, dependendo do modelo, eles serão parceiros de negócios”, disse Lobo.

O head de arquitetura do Santander, por sua vez, citou o BC ao dizer que o motivador do open banking é alavancar a competitividade e atrair uma camada de desbancarizados. Em sua visão, os participantes que oferecem um bom serviço vão se beneficiar disso, independente dos seus tamanhos: “O mercado ficará mais aberto. Será possível ver os produtos e serviços e as políticas de preços para o cliente decidir. Mas essas informações deverão ser levadas de forma palatável. A competitividade já existe, mas vai ser esticada, com os pequenos disputando em pé de igualdade. Quem sai beneficiado é o cliente”, completou.

Outra executiva que participou do painel, Mellissa Penteado, CEO da proScore/Bancoin, acredita que a competição reduz a inércia e criará soluções palatáveis ao consumidor, além de trazer liberdade, conveniência e oportunidade. Para ela, o consumidor deixa de ser cliente de uma instituição e passa a ser cliente do mercado financeiro. Com isso, é necessário aos bancos repensar os modelos de negócios para manterem seus progressos.

Negócios

Em relação aos novos modelos de negócios que podem ser criados, Carlos Alberto Sangiorgio, head de TI e transformação digital do banco Fibra, explicou que estão mapeando a jornada dos usuários para entregar produtos e serviços assertivos para o cliente, seja através de parceria ou novas soluções. Além disso, a outra proposta de entrega de negócios é “realmente abrir o banco”, adotando o Bank as a Service (BaaS) ou fazendo monetização de APIs.

Para Lobo, do Original, o diferencial nesta jornada de open banking será pensar em modelos de negócios e estratégias. Para ela, as APIs precisam ser tratadas como produtos e estão no caminho de comoditização. Por isso, as APIs precisam ser desenhadas com as áreas de negócios para serem monetizadas e agregarem valor ao parceiro do BaaS ou outro parceiro plugado, com gerenciamento de contratos e SLAs.

Gomes, do Santander, lembra que as APIs são nada mais do que softwares e precisam de uma porta de entrada padrão, para facilitar sua movimentação na indústria financeira. Neste sentido, ele acredita que o desafio será em controlar as APIs e os volumes de informação e devem ser abertas: “Essas ferramentas precisam conversar entre elas. Tentamos entender quais ferramentas têm código aberto e como elas funcionam, verificando se elas estão integradas no padrão de mercado. E nós sabemos que essas tecnologias precisarão ser escaláveis, pois o open banking vai crescer e será maior do que no momento da abertura no próximo ano”.