A popularidade do WhatsApp no Brasil pode ser usada a favor da educação, mais especificamente do ensino de inglês. É o que pretende a startup EduSim, que construiu o ChatClass, uma solução para ensinar o idioma através do WhatsApp.

“É difícil instalar um app novo no celular das pessoas. A massa dos alunos brasileiros não têm espaço no celular para baixar mais aplicativos. Por outro lado, todo mundo já tem e usa o WhatsApp diariamente, tanto professores quanto alunos. O WhatsApp é quase como o sistema operacional do celular brasileiro”, comenta Jan Krutzinna, fundador e CEO da EduSim, em entrevista para Mobile Time. Sua fala tem respaldo na mais recente pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre mensageria móvel: 98% dos smartphones brasileiros têm o WhatsApp instalado e o app é acessado todo dia ou quase todo dia em 98% deles.

Jan Krutzinna, fundador e CEO da EduSim (Foto: Marco Torelli)

Mesmo nas escolas mais carentes de infraestrutura, boa parte dos professores e dos alunos têm smartphone com WhatsApp, destaca Krutzinna: “A escola pode não ter WiFi, nem laboratório de informática, mas a população escolar usa WhatsApp, Youtube, Instagram etc. A escola é digitalizada porque o consumidor é digital”.

O ChatClass serve de apoio ao ensino de inglês tanto dentro da sala de aula quanto fora dela. Na escola, a ideia é servir como uma ferramenta extra para os professores de inglês de colégios públicos e particulares. Através do smartphone do professor ou mesmo dos alunos, são realizadas conversas com tutores estrangeiros treinados para uso da plataforma ChatClass com o WhatsApp. A interação pode acontecer tanto por meio de uma conversa em grupo quanto por videochamada. “O tutor fala sobre a vida diária na sua cidade, alinhado com o tópico que o professor brasileiro estiver trabalhando. É uma oportunidade para os estudantes se comunicarem com um estrangeiro. É uma experiência intercultural, como um intercâmbio em sala de aula”, descreve o CEO da EduSim.

Cabe destacar que na solução desenvolvida o tutor estrangeiro não tem acesso ao número telefônico dos alunos e vice-versa. Na verdade, um robô atua como ponte entre os dois lados: ele repassa as mensagens dos alunos no grupo para o tutor e as mensagens deste para dentro do grupo de WhatsApp de cada turma. O tutor precisa apenas usar alguns comandos em sua conversa com o robô para identificar com qual turma quer conversar no início de cada aula.

Cerca de 20 escolas já estão experimentando o ChatClass. A startup cobra aproximadamente R$ 5 por aluno por mês.

Bot

Fora de sala de aula, o ChatClass oferece uma série de exercícios para a prática do inglês via WhatsApp para estudantes em diferentes níveis de aprendizado, do básico ao avançado. Neste caso, o ensino acontece através de uma uma conversa com um chatbot. Os exercícios tratam de temas diversos, à escolha do aluno. Há exercícios para completar uma frase e também para descrever imagens usando algumas palavras pré-definidas. Em todos os exercícios o estudante pode responder por escrito ou por fala, com o envio de mensagem de áudio. O bot usa processamento de linguagem natural e responde rapidamente se o estudante acertou ou não, mesmo no caso de mensagens de áudio.

“Priorizamos exercícios de fala porque o brasileiro tem medo de falar inglês errado, mas com um robô é mais tranquilo. O aluno pode escutar o que disse e refazer”, diz Krutzinna. Ele reconhece, com tudo, que as ferramentas de processamento de linguagem natural ainda precisam ser aprimoradas para entenderem melhor o inglês com sotaque.

Cerca de 200 mil estudantes já conversaram com o bot do ChatClass. A maioria foi por causa de um recente projeto chamado Olimpíada de Inglês, realizado pela EduSim com apoio da embaixada norte-americana.

Cabe destacar que a conversa com o bot é gratuita. Ele pode ser testado através deste link.

Exemplo de exercícios respondidos em áudio com o bot do ChatClass

História

Krutzinna é alemão, filho de professores. Ele estudou computação em Harvard, nos EUA, e lá fez um curso de português por seis meses. Depois, fez um estágio na Bahia e percebeu que os brasileiros, embora muitos façam curso de inglês, quase não falavam o idioma com ele. “Na Bahia, vi muito investimento em cursos de inglês, mas ninguém falava comigo. Então resolvi investigar o assunto. No Brasil muita gente quer falar inglês, mas ninguém fala. Vi como uma oportunidade”, relembra. Foi a partir dessa experiência que ele decidiu fundar a EduSim. A startup está hoje no Google Campus, em São Paulo.