O diretor sênior e analista do Gartner, Peter Krensky, acredita que o desenvolvimento da IA generativa dentro das empresas virá de baixo para cima, uma vez que os comandos das organizações não vão ditar as estratégias, mas determinar apenas algumas linhas de trabalho.

“Os diretores vão dar o dinheiro e esperar que as pessoas resolvam o seu problema, usando as ferramentas mais preparadas ao trabalho delas. Por isso será uma abordagem bottom up”, disse o executivo, nesta terça-feira, 26, durante a Data & Analytics Conference.

Em complemento, Aura Popa, diretora sênior e analista do Gartner, entende que as empresas devem avançar para dar mais poder para suas equipes, que trabalharão de modo descentralizado em IA, e cada vez mais com a utilização de dados e analytics na ponta. Isso permitirá a criação de microlideranças.

Para chegar neste caminho, a executiva afirmou que é preciso agir em três fases:

  1. Criação de valores – focar na execução e não na estratégia e nos fundamentos da análise de dados e inteligência artificial, como letramento digital e qualificação dos dados;
  2. Ter ambição em IA – definir a ambição da companhia em IA, além de revitalizar e ampliar a confiança e o uso da IA nas companhias;
  3. Atingir a inteligência coletiva – explorar novos modelos operacionais e novas ferramentas no mercado, além de avançar no letramento em dados.

Krensky acredita ainda que as organizações terão ‘pequenos chefes de IA’ e ‘head de IA’, mas não tem certeza se haverá um especialista de inteligência artificial no C-Level. Enquanto não definem isso, o papel de desenvolvimento de IA nas organizações deve ficar sob o comando de pessoas ligadas a dados (CDO), digitalização e tecnologia (CIO).

Oportunidades

Mesmo com o aumento da automação em IA, o profissional ainda precisará validar aquilo que é produzido por um algoritmo, como uma informação para tomada de decisão, diz Popa. Krensky complementa que isso trará uma necessidade de novos especialistas que ainda não estão no mercado. É o caso dos profissionais de FinOps para validar ações de IA nas tarefas de operações financeiras e executivos especializados em regulação, compliance e governança para garantir que os dados usados em uma IA estão de acordo com as normas de cada País: “Hoje esses profissionais não existem, pois ainda não houve tempo de eles serem treinados”, afirmou o diretor.

De fato, 80% dos chefes de dados e analytics que participaram de uma pesquisa do Gartner em janeiro deste ano afirmaram que o treinamento de suas equipes em IA será prioridade em até um ano e meio. Outros 61% afirmam que educar a liderança sobre IA é uma de suas principais responsabilidades.

Desafios

Entre os entraves para avanços em IA generativa, o diretor da companhia de análise de mercado acredita que o custo ainda é um problema. Com isso, Krensky entende que muitas empresas estão no vale da desilusão (quando as empresas caem na realidade diante das dificuldades de implementar uma tecnologia). Depois disso, o uso da IA generativa ficará restrito – em um momento inicial – “apenas às áreas de maior grau de retorno sobre o investimento”.

Mas Edgar Macari, diretor e analista do Gartner, afirmou que o cenário é melhor que um ano antes. Uma outra revelação da pesquisa do Gartner mostra que 35% das empresas estão em modo de exploração de IA generativa, queda de 35 pontos percentuais contra 2023; outros 38% estão em testes, alta de 23 p.p; e 21% em produção, alta de 17 p.p.

Porém, a análise indica que a maioria das empresas ainda estão preocupadas com usar a IA para gerar redução de custos (23%), melhorias da experiência de clientes (20%) e iniciativas de crescimento interno (18%). Ou seja, a criação de produtos e serviços fica em segundo plano (16%). Mas Macari acredita que haverá uma mudança em prol do desenvolvimento de produtos e serviços no próximos anos – e quando isso ocorrer permeará por diversas áreas dentro das organizações.

Imagem principal: da direita para esquerda, Peter Krensky; Aura Popa; Edgar Mascari (divulgação: Gartner)