O vice-presidente de relações públicas da Huawei na América Latina e Caribe, Atilio Rulli, espera que a Anatel reveja a decisão de destinar todo o espectro do 6 GHz para o Wi-Fi. Durante evento organizado pela empresa nesta segunda-feira, 27, o executivo afirmou que a companhia tem uma “visão democrática” na divisão da banda, pensando nas próximas gerações das redes celulares.

“Na nossa visão, a banda de 6 GHz tem que ser dividida em uma faixa de 700 MHz para o IMT e outra de 500 MHz para Wi-Fi, o que dá conta suficiente de banda para a Internet sem fio. O Wi-Fi nunca teve tanta banda em uma única frequência. E as evoluções do 5G para 5,5 G e 6G vão precisar dessa frequência. Ou vamos ter dificuldade nesta evolução”, disse o VP, ao lembrar que este posicionamento vai de encontro às decisões de China e países da região 1 da UIT (majoritariamente na Europa).

Além disso, Rulli disse que o ecossistema de equipamentos celulares com frequência de 6 GHz está em “pleno vapor e desenvolvimento pela Huawei”. Lembrou ainda que a fornecedora fez testes com esses hardwares em oito países, inclusive no Brasil – com duas operadoras brasileiras –, e atualmente faz testes com DU e Etisalat, nos Emirados Árabes Unidos, palco da reunião da Conferência Mundial de Radiocomunicadores (WRC-23).

Iniciada no último dia 20 de novembro e com término agendado para 15 de dezembro, a WRC-23 tem como um dos temas principais a destinação da frequência de 6 GHz. No Brasil, a Anatel definiu, em 2020, que a frequência seria usada apenas no Wi-Fi, mas fornecedores de equipamentos de rede celulares e operadoras pedem a divisão de espectro.

Rulli lembrou que, em audiência recente na Câmara do Deputados, a Anatel confirmou que a WRC-23 pode ser um momento de revisão da decisão que tomou em 2020.

Inclusão digital

Rulli ainda argumentou que “o Wi-Fi tem seu papel”, mas que a inclusão digital é feita via rede celular. Como exemplo, a empresa apresentou os resultados de uma parceria com a operadora regional Veloso.Net. Com equipamentos da fornecedora e uma rede local ao longo do Rio Solimões, o ISP atualmente cobre 30% da população no interior do estado.

De acordo com Júnior Veloso, CEO do ISP local, as aplicações usadas pelos ribeirinhos são “as mais básicas”, como o Pix. Antes da chegada da rede LTE e 5G NSA, os usuários da cidade Caiambé/AM precisavam encarar seis horas de barco para pegar fila em uma agência e fazer as transferências. Agora, os cidadãos só precisam abrir o app do banco, exemplificou o executivo. Outro benefício que conseguem fazer com a rede celular é teleatendimento de saúde (triagem) e pedir a ‘ambulancha’, uma lancha ambulância para emergência em regiões ribeirinhas.

Durante o evento, Juliane Costa, moradora de Santa Rita do Weil/AM, cidade próxima da fronteira com a Colômbia, explicou que a rede celular trouxe mais mobilidade, uma vez que tinham Wi-Fi, mas precisavam conectar parados em um canto específico: “Hoje os nossos filhos usam a Internet para estudar. Eu trabalho com loja. A internet ajuda bastante a vender produtos, em grupos (do WhatsApp) e falar com clientes”, relatou por meio de videochamada.

“A base para começar a economia é ter conectividade, com toda a questão de preservação ambiental, empregabilidade. Nós contratamos pessoas locais para auxiliar a instalação, por exemplo”, afirmou Rulli. “Levando a conectividade se faz a inclusão social, a inclusão digital e o apoio à economia local. Os pontos de vendas passam a estar conectados, não precisam só do dinheiro em espécie. Do começo da pandemia para cá, o Brasil teve 27 milhões de pessoas bancarizadas, isso só é feito com estrutura e conectividade”, afirmou Rulli.

Imagem principal: (da direita para esquerda) Atilio Rulli, da Huawei; Júnior Veloso, da Veloso.NET; eBeatriz Barros, da IUCN.