Publicada originalmente no Teletime | Assim como o governo chinês, a Huawei também diz não acreditar que o Brasil impedirá a empresa de atuar no 5G. Segundo o diretor global de cibersegurança da Huawei, Marcelo Ikeagami Motta, não haveria “respaldo técnico” se isso acontecer por meio de “interferência política”. Sobretudo, há de se levar em consideração a integração da infraestrutura de redes fixas com a móvel, e como retirar a fornecedora desse ecossistema traria custos às operadoras – que acabariam sendo repassados aos clientes.

“É um vespeiro muito grande para a operadora mexer”, afirmou Motta durante evento online promovido pela Huawei com jornalistas nesta sexta-feira, 28.

“Temos participação extremamente grande, com base instalada de 4G e 4,5G que pode rapidamente, por meio de software, evoluir para o 5G com custo reduzido e ‘time-to-market’ baixíssimo”, disse. “Tem vários elementos que são compartilhados, como o core de rede. É um negócio muito complicado de se mexer porque está integrado com diversas aplicações das operadoras, como o controle de diversas tecnologias e serviços, como sistema de billing.”

A tarefa é complicada e envolve uma diversidade de fornecedores que precisariam se mobilizar em curto espaço de tempo. Outro problema é que isso faria o início da operação comercial do 5G (desconsiderando as implantações já em curso com o compartilhamento de espectro dinâmico – DSS) atrasar no Brasil. “Fugir disso em função de aspectos não técnicos vai implicar em custos elevadíssimos, terão que construir toda uma rede nova com outros fornecedores”, afirma o diretor.

Ainda segundo Motta, em uma eventual manutenção da Huawei apenas em tecnologias anteriores – 3G e 4G – causaria uma queda na experiência do usuário, uma vez que a migração entre as redes provocaria um tempo maior para o handover entre sistemas. ”

Impacto no preço

No evento online, Marcelo Motta citou estudo que avalia que o impacto do bloqueio no preço do serviço pode ser de 8% a 29%. Mas, comparando o preço em áreas rurais, ele argumenta que há um crescimento de duas a cinco vezes nos casos de não utilização de equipamentos da Huawei. “Isso inviabiliza muitas vezes a operação das pequenas operadoras que atuam dentro desses mercados mais interioranos, e é algo que a gente não gostaria que acontecesse no Brasil”, diz, lembrando que os ISPs deverão ter acesso a bloco regional de espectro no leilão de 5G.

Minicom

Contudo, ainda falta combinar com o governo brasileiro. Motta diz que há uma “interação muito boa” com o Ministério das Comunicações, mas que, por problemas de agenda, ainda não foi possível encontrar o ministro Fábio Faria. “Mas temos contato com as pessoas do ministério”, diz. Vale lembrar que Faria já se encontrou com Nokia e Ericsson para tratar de 5G – ambas no mesmo dia.