“Se não fizermos alguma coisa urgente para ajudar o lojista de não-alimentação vai ser uma quebradeira geral”, alerta Saulo Brazil, co-CEO do Delivery Center

As lojas de shopping precisaram se reinventar para seguir funcionando agora em um modelo de “delivery only”, enquanto permanecem de portas fechadas para o público. A startup Delivery Center, com hubs de entrega instalados em 25 shoppings brasileiros, procura auxiliar os varejistas nessa transição. A empresa registra durante a pandemia um aumento de três vezes no seu volume de entregas. Se excluído o segmento de comida, o crescimento é de 15 vezes, relata o co-CEO do Delivery Center, Saulo Brazil, em entrevista para Mobile Time. O executivo participará na quinta-feira que vem, dia 4, de debate online realizado por Mobile Time e terá a companhia de Danilo Mansano, diretor geral do 99Food; Fabien Mendez, CEO da Loggi; e Sergio Saraiva, presidente do Rappi no Brasil.

Mobile Time – Como está sendo o impacto da quarentena na operação do Delivery Center?

Saulo Brazil – Temos muitas oportunidades e desafios. O principal desafio é manter as pessoas seguras e a operação rodando. Temos hubs urbanos. Cada um com 10 a 15 funcionários. São mais de 300 pessoas em campo, fora a rede de entregadores. A gente precisa tomar cuidado com a vida dessas pessoas. Temos duas prioridades: 1) o cuidado com as pessoas; 2) a continuidade dos negócios. As duas têm que caminhar juntas.

Que medidas foram tomadas para proteger os colaboradores?

Dia a após dia estamos aprendendo e tomando novas medidas, desde home office para o corporativo, assim como estreitar a comunicação na ponta, e o fortalecimento de ações de prevenção, como divisão de turnos, planos de contingência etc. Adotamos também o distanciamento na central onde são despachados os pedidos, e medidas de higienização, como uso de máscaras, álcool em gel e entregas à distância. Estamos fazendo tudo para que a gente consiga ter cuidado com as pessoas e manter o negócio rodando.

O Delivery Center trabalha principalmente com lojas em shopping centers. Essas lojas estão atuando agora como “dark stores”?

Cerca de metade dos lojistas de comida fecharam as portas. Mas os que permanecem abertos, em sua maioria de grandes redes, estão vendendo de 4 a 5 vezes mais que antes da pandemia.

No caso das demais lojas, ou seja, aquelas que não são de comida, só 10% estão operando hoje, no modelo “delivery only stores”. As lojas ficam fechadas ao público para não ter aglomeração, mas o lojista vai lá uma vez por dia só para fazer as entregas. As vendas dessas lojas de não-comida aumentaram 15 vezes em comparação com o período pré-crise.

Os restaurantes já faziam delivery, mas o lojista de não-comida foi pego totalmente de surpresa. A maioria não tinha nenhum canal de venda online nem estoque de loja para isso. Daí, em um primeiro momento ele simplesmente fechou as portas. O nosso papel junto às administradoras de shopping é dar a segurança jurídica de que essas lojas podem atuar com delivery e ajudar na transformação digital delas. Muitos franqueados de grandes marcas nacionais não sabem que podem vender pelo Mercado Livre, Rappi ou WhatsApp. Ajudamos o lojista a se plugar em diversos marketplaces e a usar sua força de vendas pelo WhatsApp. Fazemos um verdadeiro trabalho de catequização do lojista de ‘goods’ para ele entender que não precisa ficar fechado. E mesmo quando a loja for reaberta ao público, não vai ser com a mesma frequência de antes, então a transformação digital é uma mudança que veio para ficar. Estamos correndo contra o relógio para fazê-la do jeito mais rápido possível.

O Delivery Center fornece o software que gerencia os pedidos recebidos?

Sim, é uma ferramenta que fica no lojista e na qual ele sobe seu catálogo, gerencia a conexão com os marketplaces e opera suas vendas. A gente cuida para que as vendas da Rappi, do Mercado Livre ou do vendedor caiam nessa plataforma, que consulta o estoque e faz a interligação com a nossa central. Nela, o lojista pluga o máximo de canais que quiser, gerencia seu catálogo e inventário, e garante o escoamento do produto com entrega expressa, por meio dos hubs do Delivery Center nos shoppings.

Somando restaurantes e demais lojas, quanto aumentou o volume de entregas do Delivery Center durante a pandemia?

Nossas entregas de comida duplicaram e aquelas de outras mercadorias explodiu. No total, nosso volume de entregas mais que triplicou.

Vocês precisaram aumentar a quantidade de entregadores?

Mais do que duplicamos o número de entregadores depois da pandemia. Cabe lembrar que temos centrais que procuram casar os pedidos. O nosso entregador pode levar um pedido de comida e outro de outro tipo de produto juntos, o que aumenta a eficiência dele. Enquanto isso, o resto do mercado trabalha com um pedido por entregador.

Quais segmentos de lojas se adaptaram mais rapidamente à nova realidade, de “delivery only”?

Aquelas que vendem itens de primeira necessidade, como mercado e farmácia, foram as primeiras. Mas temos vários cases de diferentes segmentos, como a loja de brinquedos Ri Happy: ela se conectou rapidamente ao Mercado Livre e ao WhatsApp e agora estamos vendo uma explosão das vendas online deles. Neste caso, é um lojista que já pensava em transformação digital, estava mais preparado e, ao acelerar, encontrou uma forma de manter seus negócios girando.

Houve loja que tinha se estocado para datas festivas, como a Páscoa, e não tinha ainda canais digitais. Mas só com uma adaptação simples, tipo plugar um marketplace, conseguimos escoar mais de 40% do estoque em duas semanas de projeto.

Teve também uma marca de celulares que havia feito pré-venda de um novo modelo que era para ser trocado na loja. O consumidor entregava o antigo e recebia o novo. Criamos uma operação para fazer essa troca na casa do cliente e não na loja física.

Ou seja, todos os segmentos, inclusive alguns bem diferentes, que a gente não esperava, estão passando por uma transformação rápida. Tem grupos de moda fazendo trabalhos espetaculares. E de casa e decoração também.

O Delivery Center vinha seguindo um ritmo rápido de abertura de hubs antes da pandemia. Como ficaram os planos de expansão agora?

Queremos multiplicar o plano de expansão por cinco. Estamos sem dormir para ver formas de quintuplicar a nossa expansão. Hoje estamos em aproximadamente 25 shoppings, distribuídos pelas regiões metropolitanas de Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. Entraremos em Belo Horizonte e Curitiba nas próximas semanas. E queremos terminar o ano em mais de 80 shoppings em 25 estados.

Agora vêm Dia dos Namorados, Dia dos Pais, Black Friday, mas o varejo de loja física vai demorar para reabrir ou para ter o tráfego que tinha antes. Junto com os varejistas e as empresas de shopping, nós estamos quebrando a cabeça para terminar o ano com um plano cinco vezes mais acelerado. De repente vamos adotar modelos mais leves, focando na solução para o lojista. Se a gente não ajudar esse lojista a se transformar, é difícil ele fazer isso sozinho. Acreditamos na transformação digital do lojista e no multicanal.

O varejo no Brasil é 15% alimentação, 70% não-alimentação e o resto é serviço. Se não fizermos alguma coisa urgente para ajudar o lojista de não-alimentação vai ser uma quebradeira geral. Há canais e soluções disponíveis, precisamos agora ajudar o lojista a fazer essa ponte.

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A live “Entrega em casa: a explosão de demanda em apps de delivery durante a quarentena” acontecerá no dia 4 de junho, entre 9h30 e 11h. O debate contará com as participações de Danilo Mansano, diretor geral do 99Food; Fabien Mendez, CEO da Loggi; Saulo Brazil, co-CEO do Delivery Center; e Sergio Saraiva, presidente no Brasil do Rappi. Para compra de ingressos e mais informações acesse a página do evento no Sympla ou entre em contato com nossa equipe de vendas: [email protected]/ 11-96619-5888 / 11-3138-4619 (WhatsApp).

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