O avanço da inteligência artificial vai gerar um aumento no tráfego das redes de telecomunicações ao redor do mundo, seja para a comunicação com aplicações instaladas em dispositivos dos usuários finais, seja para a interconexão entre data centers. Mas as operadoras de telecomunicações não querem ficar mais uma vez com o papel de serem apenas um cano de tráfego de dados, como aconteceu no 4G. Elas querem subir alguns degraus na cadeia de valor na era da IA, o que é visto como uma oportunidade para melhorar sua margem de lucro, que anda estagnada nos últimos anos. Isso ficou claro em painel realizado na Futurecom, nesta terça-feira, 29, em São Paulo.
“Não acredito que as operadoras vão ser apenas um pipe”, disse Rafael Mezzasalma, country manager da Nokia no Brasil, em conversa com Mobile Time após a participação em painel. Ele aposta, por exemplo, na capacidade de processamento de dados nas estações rádio-base (ERBs) 5G. O executivo entende que haverá demanda para que o processamento de IA aconteça em diferentes pontos de uma rede, desde o device até o data center, passando pela ERBs.
Debora Bortolasi, vice-presidente de B2B da Vivo, também enxerga oportunidade de as teles venderem capacidade de processamento em suas redes. “O processamento de dados na borda da rede atende a aplicações que demandem pronta-resposta”, comentou, também em conversa com este noticiário após o painel.
Há espaço ainda para as teles desenvolverem aplicações de IA não apenas para seus próprios processos mas para terceiros. Essa é uma das apostas da Algar, que pretende chegar até o fim deste ano com mais de 100 agentes de IA rodando em seus sistemas. O mais famoso deles é o Billy, que auxilia na checagem de faturas para clientes B2B e que foi um dos finalistas do Prêmio Seleção Mobile Time deste ano. “A grande inovação é mudarmos de telco para techco, quando as operadoras viram empresas fornecedoras de soluções digitais”, disse Luiz Alexandre Garcia, diretor-presidente da Algar. Bortolasi, da Vivo, concorda e lembrou que o lançamento das APIs do Open Gateway representa um movimento nesse sentido.
Pablo Guaita, managing director da Deutsche Telekom, destacou a importância de se prover serviços de segurança para o tráfego e o armazenamento de dados em aplicações de IA, outra oportunidade para o ecossistema de telecom.
Infraestrutura das teles para IA
Quanto ao uso da infraestrutura de telecom para suportar o avanço da IA, os prognósticos são otimistas. “A IA não funciona sem conectividade. Estamos impulsionando um círculo virtuoso para o setor de telecom. Vamos trazer muito tráfego para backbone e backhaul”, disse Garcia, da Algar.
Lucas Aliberti, CCO da V.tal, ressaltou, entretanto, que novos investimentos em infraestrutura precisam ser feitos com a razão, para evitar desperdício. “É consenso de que a infraestrutura precisa ser construída de forma inteligente, otimizada e estratégica. Não vai ser sustentável se todo mundo quiser ter toda infra. O compartilhamento racionaliza o Capex e o Opex. Saber os limites do que é relevante estrategicamente será o grande definidor de quem vai ganhar a corrida por infra”, avaliou o executivo da V.tal.
“O setor está preparado para suportar a onda de IA. Temos infra e temos condições e inteligência de compartilharmos. Somos coopetidores: competidores e parceiros ao mesmo tempo”, resumiu Garcia.
Foto no alto: painel sobre IA em telecom na Futurecom 2025 (crédito: Fernando Paiva/Mobile Time)