Aplicativos com mecanismos de gameficação para estimular a militância; WhatsApp para disseminar conteúdo oficial; e vaquinhas virtuais para compensar a proibição das doações de empresas: estas são algumas das novas ferramentas digitais adotadas pelos candidatos à presidência da República nas eleições de 2018, de acordo com levantamento feito por Mobile Time junto aos sites oficiais dos principais candidatos: Jair Bolsonaro (PSL); Marina Silva (Rede); Ciro Gomes (PDT); Geraldo Alckmin (PSDB);Haddad (PT); Henrique Meirelles (MDB); Álvaro Dias (Podemos); João Amoedo (Novo); e Guilherme Boulos (PSOL).

A vaquinha virtual é a grande novidade. Embora já tivesse sido experimentada por alguns candidatos nas eleições municipais de 2016, sua adoção desta vez se tornou praticamente obrigatória depois que as doações por empresas foram proibidas. O objetivo é levantar recursos diretamente com os eleitores que apoiam as candidaturas. A ferramenta é quase uma unanimidade entre os presidenciáveis. Dentre as campanhas pesquisadas, a única que não adotou a vaquinha virtual é a da Henrique Meirelles. As campanhas do PSL e do PT são até agora as que conseguiram mais doações: R$ 958 mil e R$ 743 mil, respectivamente, até a tarde de sexta-feira, 31. A mais modesta por enquanto é a de Álvaro Dias, que levantou somente R$ 25 mil.

O combate às notícias falsas (ou fake news, em inglês) também marca estas eleições. Pela primeira vez, os sites oficiais de quatro candidatos a presidente trazem seções dedicadas a desmentir notícias falsas. No site da campanha petista a seção se chama “Fake News” e traz textos contestando notícias falsas que circularam pela Internet. Na página de Alckmin, a área foi batizada como “Anti FaKe-News” e é tão importante que aparece no topo da homepage, ao lado do botão de mobilização da campanha. Além disso, a campanha do candidato do PSDB destaca um formulário exclusivo para o recebimento de denúncias de notícias falsas. No site de Bolsonaro, a seção “Conheça a verdade” tem vídeos gravados pelo candidato para esclarecer suas posições sobre assuntos polêmicos e sobre determinadas acusações. E no site de Amoedo há alguns desmentidos dentro da área “Mitos & verdades”.

WhatsApp

As campanhas de Amoedo, Boulos e Meirelles são aquelas que mais destacam a utilização do WhatsApp. Nos sites dos candidato do Novo e do PSOL, o cadastro do WhatsApp para recebimento de conteúdo de campanha aparece logo no topo da página. No caso de Meirelles, é divulgado o número de contato e uma frase para o opt-in: #chamaomeirelles.

Os sites das campanhas dos candidatos do PSDB, do PSL, do PDT e da Rede disponibilizam formulários para cadastro de apoiadores nos quais pedem o número de celular. Dentre eles, contudo, somente o do Alckmin menciona o uso do WhatsApp.

Apps de mobilização

Aplicativo do Novo

Aplicativo do Podemos

Há ainda apps móveis para estimular a mobilização da militância. O app do Novo se chama Novo Mob (Android, iOS) e traz o conceito de gameficação. Os apoiadores recebem pontos em troca da sua participação, seja pelo compartilhamento de conteúdos disponibilizados no app ou pela realização de “missões”. O app da campanha petista se chama O Brasil Feliz de Novo (Android, iOS) e traz uma série de conteúdos oficiais sobre a candidatura. Ele também inclui uma seção com missões para a militância. O mesmo caminho de gameficação foi adotado pelo app da campanha de Alckmin (Android, iOS).

Álvaro Dias não tem um app específico de sua candidatura, mas seu partido, o Podemos, inovou ao criar um aplicativo para a participação popular na elaboração de projetos de lei. O Podemos (Android, iOS) permite que qualquer um redija uma proposta de lei, que pode ser curtida ou rejeitada pelos demais usuários. O partido se compromete a encampar os projetos que tiverem mais de 20 mil curtidas. Há dezenas de sugestões enviadas, desde as mais pitorescas, como regulamentar o uso do termo “doutor” estritamente como título acadêmico, até outras mais sérias, como estabelecer votação popular para a escolha de juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) ou a correção da tabela do imposto de renda de acordo com a inflação. O app também pede a opinião popular sobre projetos polêmicos que tramitam no Congresso, como a reforma da Previdência, a privatização da Eletrobras e o fim do foro privilegiado.

Análise

Mobile Time acompanha a utilização de tecnologias móveis nas eleições desde 2012, quando o site foi criado. A cada pleito surgem novas tendências. Em 2012 houve um boom na utilização de apps por candidatos a vereador e a prefeito do Brasil inteiro. A maioria, contudo, não tinha grande utilidade: servia apenas para distribuir conteúdo sobre o candidato, mas seu alcance era pequeno em razão do baixo número de downloads. Muitos eram toscos e mal desenvolvidos.

Em 2014, começaram as primeiras experiências de mobilização via WhatsApp, mas ainda um tanto tímidas, para não ferir as regras contra o uso comercial da plataforma na época, e também porque a popularização dos smartphones ainda não era tão grande quanto agora.

Em 2016, o boom dos apps já havia passado e sua utilização foi menor, porém mais assertiva, geralmente para mobilização da própria militância, tendência que ganha força agora. Em 2016, houve também quem experimentasse novas redes sociais, como Snapchat e Instagram.

Uma tecnologia que ainda não saiu de moda nas eleições é o SMS. Só que, infelizmente, esse canal tem sido adotado principalmente para espalhar ataques apócrifos contra adversários políticos, aproveitando ferramentas de disparo pirata de mensagens de texto, sejam chipeiras ou as chamadas rotas cinza, o que torna quase impossível a identificação dos remetentes. Desde meados dos anos 2000 há relatos de envio de SMS pirata com ataques contra candidatos em eleições no Brasil. Os disparos costumam acontecer na véspera ou no próprio dia da eleição, para dificultar qualquer punição.

Em uma eleição de curta duração e baixo orçamento como esta de 2018, é provável que o SMS volte a servir para a disseminação de fake news. Desta vez, contudo, deve ganhar a companhia do WhatsApp. A diferença é que no SMS serão feitos envios para milhares de pessoas simultaneamente, enquanto no WhatsApp o mais provável é que haja uma disseminação em rede, com os próprios cidadãos passando adiante vídeos, áudios, memes e textos ofensivos a determinados políticos.

Vale destacar que o WhatsApp tomou algumas medidas recentes para minimizar o mal uso da plataforma durante as eleições: as mensagens encaminhadas passam a ser identificadas como tal; e foi limitado o número de grupos para os quais uma mensagem pode ser enviada simultaneamente.