Uma terceira alternativa à fibra ótica e ao FWA (Fixed Wireless Access) – que deve demorar para se popularizar no Brasil – pode ser o Wi-Fi 6E. Segundo Abraão Balbino, superintendente executivo da Anatel, a agência tem sinalizado que o padrão de Internet sem fio com as faixas de frequência de 6 GHz deve ser introduzido ao debate “para bagunçar a discussão”.

“Para um provedor regional, quando ele tem que usar muitos postes, há uma dificuldade para estar legalizado e muitos deles não estão por causa dos custos. À medida que você passa a regularizar mais o poste, a fibra se torna mais cara de operar do que o FWA”, comentou o superintendente executivo da agência.

A discussão aconteceu durante o segundo dia do Telco Transformations Latam, que aconteceu na quarta-feira, 30, e envolveu banda larga fixa e o FWA, com representantes da Vero Internet e Claro, além do superintendente executivo da Anatel.

FWA caro no residencial, mas possível em grandes empresas

No Brasil, os modems (CPEs) para a Fixed Wireless Access ainda são caros e a expansão da cobertura 5G ainda é tímida, fatores que limitam sua expansão. Não à toa, somente a Claro começou com oferta de serviço FWA 5G no País para residências. E a TIM adiantou que Fixed Wireless Access para o consumidor final somente em 2024.

Também no debate, Rodrigo Rescia, CTO da Vero Internet, provedora de banda larga fixa, acredita que no curto e no médio prazo – pensando até 2030 – a rede de fibra e o FWA serão complementares.

O executivo acredita que a fibra oferece mais estabilidade e velocidade do que o FWA. A Vero está presente em 204 cidades dos três estados da região Sul do País, além de Minas Gerais e Centro-Oeste. Rescia explicou que a cobertura móvel nessas regiões ainda é problemática e não atende a todos, o que é um complicador para a expansão do FWA 5G.

“O FWA pode ser um serviço importante para as capitais, é bacana. Mas os valores dos equipamentos ainda são um impeditivo, ao contrário da fibra. Mesmo a gente precisando pagar por postes, manter a infraestrutura, comprar fibra, o modem tem valor aceitável. Já no longo prazo (sobre quem se sobressai, FWA ou fibra) vou estudar porque em telecom não conseguimos prever por muito tempo”, brincou.

Para Antonio José Silvério, gerente executivo de engenharia da Claro, as redes se complementam. Mas o FWA ainda tem uma série de desafios como cobertura, custo do CPE e questões do mercado. Mas o executivo acredita que grandes empresas e indústrias podem adotar a tecnologia.

“Vemos que há uma forte tendência de grandes empresas investirem no FWA por conta da qualidade e da disponibilidade de rede. O 5G traz melhorias na banda e na latência. É uma opção interessante”, disse.

Silvério reforçou em sua fala a importância da produção local dos CPEs para impulsionar a penetração do FWA no País e da homologação dos dispositivos junto à Anatel.

O gerente executivo de engenharia da Claro explicou que o FWA ainda está entrando no mercado e que tem o “ônus da inovação”, quando se trata da sua versão residencial. Uma de suas dificuldades é encontrar o melhor local para a instalação do modem. Para isso, a empresa vem testando um software que se comunica via bluetooth com o CPE de modo a encontrar o melhor lugar para instalar o modem. “É uma tecnologia que está entrando e uma desoneração fiscal seria interessante. Até para ter uma escala semelhante àquela que aconteceu nos EUA”, complementou, comentando também sobre o peso do Fistel.

Tributação

Rodrigo Rescia, CTO da Vero Internet, também reconheceu que o Fistel é uma conta pesada e, por isso, o FWA tem empecilhos para avançar. E alfinetou Balbino dizendo que “a Anatel fomenta a concorrência, mas, para ter concorrência, não basta ter somente três operadoras.”

“Quando a fibra foi desonerada, isso fez dela um produto interessante. Mas ainda temos questões, como tivemos no ano passado, quando houve dificuldade para entrar nos prédios. O FWA vence esse problema. Mas tem o desafio de encontrar o local adequado para ele. Por isso, estamos testando um software que nos ajuda a identificar o melhor lugar para colocar o modem”, disse.

Perguntado sobre uma possível desoneração fiscal sobre o FWA, Balbino disse que não vê essa discussão em um momento em que o tema principal para as operadoras é a Reforma Tributária e convencer governo e parlamento de que as empresas de telecomunicações fornecem serviços essenciais e que devem ter uma tributação menor. “Todo o foco está em mostrar para o Congresso que não se pode colocar telecom como tabaco, mas como serviço essencial e não estar sujeita a uma tributação suplementar. Esse é um debate que tem pertinência técnica, do ponto de vista de simetria regulatória, mas não vejo neste momento uma janela política para que essa discussão avance”, resumiu.