A maioria das carteiras digitais disponíveis em aplicativos no Brasil têm como público-alvo usuários de médio ou alto valor, já bancarizados, bem familiarizados com canais digitais e que buscam maior comodidade em pagamentos. Mas como inserir nessa revolução dos pagamentos digitais a população brasileira que vive em extrema pobreza? Uma experiência piloto iniciada na semana passada em uma comunidade carente de Vergel do Lago, em Maceió, Alagoas, talvez apresente o caminho. Batizado como Zap do Bem, o projeto está distribuindo R$ 400 mil em doações de R$ 200 para 2 mil pessoas em condições de miséria e está captando mais doações para se tornar uma ferramenta permanente de ajuda social, inclusive expandindo para outras áreas carentes. A gestão dos recursos é toda feita via WhatsApp, em uma interface conversacional com um bot cuja interação foi simplificada para se adequar ao referido público.

“O foco está em pessoas em vulnerabilidade extrema, com renda inferior a meio salário mínimo, em situação de miséria mesmo. Claro que é um auxílio adicional, pois ninguém vai viver só com R$ 200, mas dá um fôlego para muita gente em um período crítico”, explica Rodrigo Abreu, CEO da Oi, em conversa com Mobile Time. O executivo faz parte do comitê gestor do Zap do Bem, composto por vários empresários, e a Oi é uma das companhias que apoia a iniciativa.

A tecnologia por trás da carteira digital foi desenvolvida por uma fintech chamada Conta Zap, que funciona como uma instituição de pagamento associada a um banco custodiante. Para o projeto Zap do Bem, houve uma adaptação da solução, de forma que ficasse ainda mais fácil de usar pelos beneficiados. Tanto o menu quanto o texto das mensagens foram simplificados, relata Abreu.

Como funciona?

Os beneficiados são indicados por líderes comunitários e recebem um link por WhatsApp para abrir uma conta digital, na qual receberão o auxílio de R$ 200. Por meio de comandos enviados ao bot no WhatsApp, o beneficiado gerencia esse saldo. Ele pode pagar boletos, fazer transferências para outros usuários do Conta Zap, recarregar o celular e realizar pagamentos para comerciantes da mesma comunidade previamente cadastrados pelos líderes comunitários. Em breve será lançada a funcionalidade de saque por QR code. Há também a opção de solicitar um cartão de débito, para a realização de saques e pagamentos presenciais.

Os líderes comunitários têm ajudado também a ensinar os beneficiados a usar a carteira digital. “Superada a barreira inicial do cadastro, a conversa com o bot é bastante simples. Quase toda a base doadora já movimentou recursos. É a economia local girando. As três ações mais realizadas são pagamento de conta, recarga de celular e transferências”, informa Abreu.

É importante ressaltar que o Zap do Bem não se restringe a usuários com linhas da Oi.

Planos futuros

A Oi está em negociação com a Conta Zap para desenvolver no futuro um serviço financeiro móvel. Ainda não há detalhes sobre isso, mas Abreu comentou a respeito da importância estratégica de a Oi se posicionar nesse segmento: “É natural que qualquer empresa com um volume de pagamentos grande e recorrente avalie a possibilidade de participar em um serviço de transações financeiras. Vivo e TIM vêm trabalhando em anúncios de serviços financeiros e não seria diferente no nosso caso. Quando olhamos serviços mais tradicionais de conta digital, o foco é muito parecido, sempre no cliente de médio e alto valor, em vez de bancarizar quem não tem acesso nenhum. Nós pensamos em uma inclusão maior”.