Ericsson

Os bastidores para o fornecimento de infraestrutura de tecnologia para a rede 5G já estão movimentados. A Ericsson, por exemplo, tinha na semana passada, antes do leilão, 1,2 mil pedidos de rádios 5G – exclusivos para a quinta geração de rede móvel, em 3,5 GHz –, ou aproximadamente 400 sites. Passada uma semana, os números cresceram: agora são 2 mil rádios encomendados, para cerca de 650 sites. Todos estão em processo de instalação. Sem dar nomes, Rodrigo Dienstmann, presidente da fornecedora no cone sul da América Latina, explicou em conversa com Mobile Time que alguns contratos já foram fechados e que outras ordens de compra estão chegando. Informou também que a empresa já instalou algumas dezenas de sites 5G no Brasil. O executivo da fornecedora disse também que não se espantou com a quantidade de empresas participantes do leilão de 5G, já que, das 15 empresas que atuaram no certame, 12 já estavam em conversa com a Ericsson.

Dienstmann aposta que as operadoras móveis vão trabalhar com mais de uma fornecedora para o 5G, tal como fizeram no 3G e no 4G. As mais cotadas são as tradicionais Ericsson, Huawei e Nokia.

Mobile Time – Qual sua opinião sobre o número de participantes e o tipo de participantes do leilão de 5G?

Rodrigo Dienstmann – Não fiquei surpreso (com a quantidade). Já vínhamos conversando, em maior ou menor grau, com todas as empresas, à exceção de três ou quatro.

Acredito que são empresas que enxergam o 5G como um meio de gerar potenciais novos serviços e hipóteses mercadológicas. Espero que essas empresas – que vêm de diferentes segmentos – gerem receita a partir da mobilidade. Mas (a receita) vai vir do FWA, seja residencial ou comercial, com a cobertura de fibra, mas também com upgrade ou redes privadas empresariais, para segmentos como os de logística, comércio, indústria etc. É preciso incrementar a oferta de valor.

Tem até fabricantes de equipamentos. O que leva um fabricante a participar? A rede neutra é o futuro do 5G?

É natural. A tendência de redes neutras não é brasileira. É o que acontece em outros locais do mundo. O fato é que rede neutra consegue mais eficiência de Capex, por evitar duplicação da rede. A rede neutra é um complemento tanto para as operadoras grandes quanto para as regionais.

Na época do leilão do 4G, os tempos eram outros. Como será a implementação do 5G, considerando que estamos num período de recursos financeiros mais escassos?

A lógica do 3G e 4G foi diferente. Eles foram upgrades. Presumia-se que já havia redes, base de clientes etc. Na época do 4G não se falava de uma nova operadora só 4G.

O 5G é uma tecnologia que tem múltiplos casos de uso e permite que uma operadora de nicho – automação industrial ou agro – possa se estabelecer.

A automação industrial que não estava tão presente no 4G, nem a criação de novos serviços. Apresento dois exemplos. Primeiro, para o consumidor final, há serviços inéditos de jogos que não são possíveis no 4G. Com o 5G é possível criar um serviço de game diferente, único. E, no caso do B2B, um exemplo é criar propostas de valor com a indústria 4.0, ou serviços de segurança pública, criados através de network slicing, com alta confiabilidade, o que o 4G não permitia.

A indústria 4.0 serve como uma rede local para equipamentos de altíssima confiabilidade e baixíssimo tempo de resposta. São veículos autoguiados, sensores de máquinas. Uma parte até pode ser feita em Wi-Fi. Mas o 5G traz uma camada mais confiável de alta performance. A fábrica da Ericsson, por exemplo, não pode ser automatizada com Wi-Fi, mas com 5G.

No 3G/4G, as operadoras dividiram os fornecedores por regiões. Você acha que isso vai acontecer novamente com o 5G?

Acredito que essas empresas tenderão a seguir essa mesma lógica. E terão que fazer agregação de canais. O 3,5 GHz tem alta capacidade, mas sua cobertura não é tão extensa. As operadoras vão usar o 700 MHz para aumentar a cobertura do 3,5 GHz. Acredito que a tendência é que as operadoras mantenham seus fornecedores.

Os rádios são novos e tem o baseband – que é a parte computacional de controle de rádios. Mas o core é reaproveitável.

Quem são os players? Quais são as empresas que vão disputar o mercado de infraestrutura do 5G? É o trio de sempre: Ericsson, Nokia e Huawei? Prevê alguma nova entrante?

Não temos notícia de entrada de novos fornecedores. Não tenho visto.

Os players regionais que não têm redes legadas terão mais liberdade (para contratar equipamentos de fornecedores). Mas aconselho comprar de um fornecedor estabelecido no Brasil. Existe toda uma logística de reparo, suporte, equipes de instalação. É natural que a Ericsson atenda os atores regionais. Uma empresa tem dificuldade para contratar gente, supply, às vezes nem são homologados na Anatel. É natural que a gente consiga fornecer satisfatoriamente para esses novos entrantes. A gente fabrica no Brasil.

Vocês já receberam das operadoras e empresas participantes do leilão de 5G RFPs (Request for Proposal)?

Já temos contratos fechados. Inclusive já temos algumas dezenas de rádios-base instalados para três operadoras. E já recebemos ordens de compra. Algumas (das clientes) querem lançar ainda este ano.

Quatro semanas atrás, diria que os rádios estavam encaixotados. Três semanas atrás, diria que tínhamos pedidos de compra. Mas agora, já posso afirmar que temos rádios instalados. Ao todo, no momento, são 1,2 mil rádios encomendados e fabricados no Brasil. Já é bastante animador. São rádios-base exclusivos para a quinta geração de rede móvel, em 3,5 GHz.

A assessoria de imprensa da Ericsson atualizou os números nesta semana: agora, são 2 mil rádios encomendados, o equivalente a 650 sites. Todos estão em processo de instalação.

Está otimista? 

Estou realista. E isso é estar otimista. No 4G, quem realmente monetizou foram as OTTs. Elas, sim, ganharam dinheiro em cima das redes. Foram os apps de carro, de entrega, de streaming… No 5G – uma rede muito mais poderosa –, os modelos de monetização são diferentes. As operadoras poderão criar novos serviços. E é isso que vai ditar a velocidade do investimento do 5G no Brasil. De acordo com uma pesquisa nossa, as operadoras (no mundo) que fizeram no 5G o que fizeram no 4G não conseguiram um delta aberto. Mas aquelas que criaram novos serviços e modelos de negócio tiveram 25% de incremento. Vão criar serviços adicionais e gerar rendas adicionais. E aí, ao invés de cobrar R$ 99 por um pacote, vão cobrar R$ 129.