A Keeta anunciou nesta quinta-feira, 14, a abertura de um processo contra a 99Food por práticas anticompetitivas que estariam impedindo a sua entrada no mercado de delivery brasileiro. A ação foi aberta no Foro Central de São Paulo e busca impedir o que a empresa chama de “cláusulas anticompetitivas” e sua proibição em futuros acordos.

De acordo com o material enviado a Mobile Time, a 99 estaria impondo uma cláusula de bloqueio para grandes redes de restaurantes não entrarem em novas plataformas. Em contrapartida, os comércios receberiam um adiantamento de seus ganhos em sua plataforma. Esse acordo não envolveria um bloqueio contra o iFood, formando a criação de um duopólio e a exclusão de qualquer outro entrante no mercado brasileiro.

A marca de delivery da Meituan para o mercado brasileiro ainda acusa a rival de oferecer R$ 900 milhões em adiantamento para 100 redes de restaurantes. O valor seria o equivalente a 90% do R$ 1 bilhão que a 99 reservou para investir com sua operação de delivery no Brasil. Segundo a empresa, ao menos metade desse montante oferecido foi aceito por restaurantes selecionados.

Vale dizer que deste R$ 1 bilhão anunciado pela companhia, R$ 500 milhões serão destinados para São Paulo. Na última terça-feira, Simeng Wang, diretor geral da 99 no Brasil, afirmou que o capital será usado para dar benefícios a clientes, entregadores e restaurantes, como vouchers, isenção de taxas e valores adicionais por meta de entrega.

Chama a atenção o fato que a Keeta preferiu não abrir um processo no Cade. Vale lembrar, uma ação similar de prática anticoncorrencial da Abrasel com Rappi, UberEats e a própria 99Food foi aberta no Cade contra uma prática parecida feita pelo iFood. Como resultado, o principal serviço de delivery do país foi obrigado a assinar um Termo de Compromisso de Cessação (TCC) que proibiu a companhia de firmar contratos de exclusividade com grandes redes de restaurantes a partir de fevereiro de 2023.

Questionada por esta publicação por que não foi ao regulador e se pretende fazer isso em algum momento, a Keeta preferiu não responder. Assim como não informou como obteve a prova dos valores e os contratos praticados pela sua competidora.

A 99 também foi procurada por este noticiário, mas não se posicionou até o final desta reportagem. O espaço fica aberto para atualizações.

Histórico

A 99 voltou oficialmente com sua entrega de comida em abril deste ano. Em junho, a companhia lançou sua primeira operação em Goiânia e obteve 1 milhão de entregas em 45 dias. Nesta semana, a empresa anunciou o lançamento do delivery para a região metropolitana de São Paulo com 20 mil restaurantes e 50 mil entregadores.

Em maio, a Keeta anunciou a chegada de seu delivery no mercado brasileiro. A expectativa é de lançamento ainda em 2025. Para isso, a operação de delivery terá um investimento de até R$ 6 bilhões em cinco anos para apoiar a sua expansão no segmento de restaurantes e bares.

Importante ressaltar, a marca da Meituan ainda não começou a sua operação no Brasil.

iFood em GO

Enquanto 99 e Meituan entram em disputa, o iFood informou que cresceu 31% em julho na cidade de Goiânia, ante o mesmo mês em 2024. Esse crescimento foi impulsionado por um aumento de 28% na base de usuários, em especial na classe C.

A empresa reforça que “mesmo após a entrada da concorrente” 45  dias depois (leia-se 99Food), a base de restaurantes foi mantida e o volume médio diário de pedidos do iFood cresceu mais de 9%, o que foi impulsionado também por ações comerciais, como 70 mil itens em promoção e frete grátis em mais de 4 mil estabelecimentos. Importante dizer, a informação veio logo depois da notícia do lançamento da 99 em São Paulo, que conta com uma campanha agressiva de marketing nas ruas e mídias digitais.

Uma semana antes da chegada da rival na capital paulista, o CEO do iFood, Diego Barreto, afirmou que não entraria em guerra pelo delivery brasileiro. Porém, a empresa lançou entrega rápida e pratos baratos a partir de R$ 15 para alcançar a classe C.

Guerra nada fria

Fontes próximas aos rivais do iFood veem os pratos de R$ 15 como um primeiro movimento para uma disputa, uma vez que a principal estratégia da 99Food foi cortar taxas dos restaurantes para oferecer o valor dos pratos no mesmo preço do cardápio, ou seja, sem acréscimos.

Os especialistas ouvidos também estranharam a fala de Barreto a Mobile Time sobre observar movimentos regulatórios na Arábia Saudita e em Hong Kong contra práticas desleais, com empresas de delivery dessas regiões reduzindo o preço das taxas para baixo para abocanhar um pedaço do market share.

Importante recordar, o Panorama Mobile Time | Opinion Box sobre o comércio móvel de dezembro de 2024 revelou que o iFood é o app favorito para 81% dos brasileiros, seguido, bem longe, pelo WhatsApp, citado por apenas 4%.

Imagem principal: Ilustração produzida por Mobile Time com IA

 

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