A indústria brasileira de telecomunicações tem sido um terreno fértil para inovações tecnológicas, mas também um campo onde sistemas legados ainda operam. Diante da iminente obrigatoriedade da NFCom, a Nota Fiscal Fatura de Serviço de Comunicação eletrônica, a partir de abril de 2025, surge um desafio premente para as empresas do setor: como adequar essas tecnologias legadas às exigências da nova normativa?

Uma das questões centrais é a multiplicidade de sistemas de faturamento em operadoras de telecomunicações. Não raras são as empresas que mantêm na média entre oito e 12 ferramentas rodando simultaneamente, para dar conta da emissão de faturas mensais, e boa parte dessas tecnologias são oriundas de décadas passadas. Com tecnologias legadas ainda operando em larga escala, a integração desses sistemas com a NFCom torna-se indispensável.

A complexidade reside na necessidade de adotar um middleware, como é conhecida a plataforma que permite diversos modelos de integração entre diferentes sistemas para operar em um único ambiente virtual. Compreende o ambiente nuvem, a programação, a Inteligência de Negócios (BI), os serviços web e aplicativos (API), o banco de dados relacionais (RDBMS) e os sistemas de processamento de eventos complexos (CEP).  Essa abordagem é essencial para garantir que o processo de emissão da NFCom seja fluido, independentemente da tecnologia utilizada pelo sistema de faturamento.

No entanto, enfrentamos uma série de desafios significativos ao lidar com essa transição. Primeiro, o saneamento de dados dos clientes torna-se uma prioridade, uma vez que a NFCom exigirá validação detalhada dos dados cadastrais dos clientes. Falhas nesse processo podem resultar na rejeição das notas fiscais, afetando diretamente o faturamento das operadoras. Depois disso, o volume massivo de emissões de faturas mensais representa um desafio operacional considerável. As operadoras precisam de soluções capazes de processar faturas dentro de janelas de tempo limitadas, garantindo eficiência e conformidade com os requisitos legais.

Nesse contexto, a busca por soluções SaaS (Software como Serviço) emerge como uma estratégia viável. Centralizar o processamento das NFCom em uma plataforma SaaS oferece estabilidade e reduz os custos associados à infraestrutura de TI, especialmente em comparação com ambientes de nuvem tradicionais. Porém, é fundamental que essas soluções sejam estáveis e evoluam em conformidade com a legislação em constante mudança. A capacidade de adaptar-se às atualizações nos sistemas autorizadores do FISCO é essencial para garantir a continuidade das operações e evitar potenciais penalidades.

Apesar dos desafios, a NFCom também representa uma oportunidade significativa para as empresas de telecomunicações. Ao invés de encará-la meramente como uma obrigação regulatória, as operadoras podem aproveitar esse momento para reavaliar e aprimorar seus processos internos. A automação e otimização dos fluxos de trabalho podem reduzir o retrabalho, melhorar a experiência do cliente e aumentar a eficiência operacional, resultando em margens mais saudáveis.

É crucial que as empresas adotem uma mentalidade proativa diante desse cenário. Ao invés de simplesmente cumprir uma exigência governamental, devem enxergar a NFCom como um catalisador para a transformação digital e uma preparação para as mudanças tributárias que se desenham. As operadoras que adotarem essa abordagem estarão mais bem posicionadas para enfrentar os desafios futuros e prosperar em um ambiente cada vez mais complexo e competitivo.

A integração de tecnologias legadas com a NFCom apresenta desafios significativos, mas também abre portas para oportunidades de melhoria e inovação. Com uma abordagem estratégica e investimentos adequados em soluções tecnológicas, as empresas de telecomunicações podem não apenas atender às exigências regulatórias, mas também impulsionar sua vantagem competitiva e preparar-se para o futuro digital.