As operadoras têm buscado alternativas para a racionalização do mercado nacional de telecomunicações, com o intuito de oferecer aos seus investidores retornos mais atrativos e aos seus consumidores melhores serviços. Em um contexto de baixo crescimento econômico e mudanças significativas na vida da população e das empresas promovidas pela Covid-19, observamos cinco principais movimentos:

  1. Potencial concentração do mercado móvel – Uma potencial concentração do mercado de operadores móveis de grande porte pode trazer maior racionalidade a um mercado caracterizado, nos últimos anos, por constantes guerras de preços e, em certos casos, destruição de valor. Um melhor equilíbrio econômico tem o potencial de permitir às operadoras maiores níveis de investimento, oferecendo aos seus consumidores serviços de melhor qualidade, ainda a preços amplamente competitivos. Em particular, importantes investimentos serão necessários para que as operadoras possam brindar aos seus consumidores B2C e B2B serviços de quinta geração em sua plenitude, com capacidade e níveis de cobertura equivalentes aos de outros mercados desenvolvidos.
  2. Corrida pelo 5G – Em meio as incertezas sobre o modelo a ser utilizado para a alocação das novas faixas de espectro, operadoras e investidores avaliam os potenciais benefícios e investimentos associados a nova tecnologia. Muitos questionam o potencial retorno em um mercado com declínio no número de conexões e relativa estabilidade no ARPU (recentemente beneficiado pela redução da base e migração pré-pós). Outros enfatizam os benefícios associados a melhor experiência do usuário, a redução do custo de servir (R$/Mbps) e ao potencial dos novos casos de uso relacionados a aplicações de baixa latência, FWA (banda larga wireless) e IoT. Em meio as incertezas, duas questões surgem com maior frequência: a) Qual o potencial disruptivo do 5G para os operadores regionais de fibra? e b) Qual o potencial transformador dos casos de uso de médio-longo prazo e quais novas capacitações serão requeridas por parte dos operadores?
  3. Concentração dos operadores fixos regionais – Apesar do significativo potencial de crescimento do mercado de banda larga (+ 40 MM de conexões em 2025) e da forte migração tecnológica em curso, já observamos jogadores em busca da consolidação de ativos que permita a captura de sinergias operacionais e comerciais. À medida em que regiões outrora pouco exploradas esgotem seu potencial e que cresça o “overbuild” entre operadoras, é natural que jogadores do mercado busquem um arranjo competitivo mais racional, reduzindo assim o número de operadoras.
  4. Lançamento de redes neutras – A separação das redes tradicionais em camadas de serviço e rede é foco de várias empresas do setor assim como de potenciais novos investidores. Ambos ambicionam uma maior utilização dos ativos e melhor performance operacional. Trata-se, no entanto, de um modelo ainda recente, o qual requer não apenas as redes de atacado, mas também empresas interessadas na compra e comercialização desta capacidade disponivel. É  importante reconhecer, nesta equação, os desafios econômicos associados ao lançamento e monetização de redes FTTH em localidades de menor receita/Km2, assim como as implicações de “overbuild” e maior intensidade competitiva em regiões economicamente mais atrativas. Apesar dos méritos conceituais do modelo, a captura de valor dependerá da formatação do entorno competitivo futuro.
  5. Busca por adjacências – Em função da relativa estagnação nas receitas tradicionais, empresas do setor tem buscando acelerar a captura de receitas adjacentes, em setores como serviços financeiros, educação, saúde e agro-negócio. Buscando ir além da oferta de conectividade, entretenimento e serviços B2B taradicionais (ex. coloboração, segurança, redes privadas etc…), algumas operadoras recentemente celebraram parcerias para a oferta de novos serviços como crédito B2C e telemedicina. Outras, no entanto, tem optado pelo desenvolvimento de plataformas que permitam o desenvolvimento de ecosistemas associados a verticais especificas.

Neste contexto, os próximos 12-24 meses deverão ser caracterizados por importantes mudanças capazes de tornar o mercado de telecomunicações mais dinâmico e atraente a novos investidores, contribuindo de forma relevante para a retomada do crescimento econômico e da competitividade da economia Brasileira.