Em 1838, Werner von Siemens havia completado seu treinamento como oficial de artilharia, após ter sido obrigado a servir por pelo menos seis anos no exército da Prússia. Lá, recebeu aulas de engenharia por três anos, que deram a ele uma estrutura para seus futuros trabalhos no campo da engenharia elétrica. Desde 1º de outubro de 1842, foi designado para a Oficina Real de Artilharia, em Berlim, e, durante suas horas de lazer, Siemens começou a fazer suas “especulações inventivas”, uma variedade de ideias que iam desde a construção de um regulador para motores a vapor, até experimentos com nitrocelulose (“guncotton”).

Na época, após completar seis anos no exército, ele escolheu não se demitir da artilharia prussiana, principalmente por razões financeiras. Seus pais haviam falecido precocemente, que o fez assumir a responsabilidade de cuidar de seus três irmãos mais novos, Carl, Walter e Friedrich. Em 1845, tornou-se o guardião legal dos três, sendo responsável por todas as despesas e pelo financiamento da educação dos irmãos. Ele acreditava que a falta de fundos era seu principal obstáculo para realmente progredir nas suas “especulações inventivas”.

No verão de 1846, Siemens passou a se aprofundar no projeto de operação de telégrafos elétricos. Depois de um semestre, ele decidiu firmemente “construir uma carreira sólida em telégrafo, seja dentro ou fora das forças armadas”. Entre janeiro e junho de 1847, o telégrafo de ponteiro que ele havia projetado foi construído na oficina de dois mecânicos de precisão, Johann Georg Halske e Friedrich M. Bötticher.

Em agosto do mesmo ano, Siemens aceitou a oferta de uma transferência para a Comissão de Telegrafia do Estado-Maior. Com o novo emprego, não trouxe uma condição financeira melhor que antes, mas lhe deu novas oportunidades para poder comercializar seu telégrafo de ponteiro e para saber em primeira mão onde a Comissão estava planejando instalar novas linhas de telégrafo.

Werner von Siemens e Johann Georg Halske em 1855. Imagem: Siemens/Reprodução.

Antes do final do mês, von Siemens e Johann Georg Halske – um dos mecânicos de precisão – decidiram montar uma empresa de construção de máquinas juntos para fabricar telégrafos, sistemas de campainha para ferrovias e isolamento de fios de guta-percha, que se refere ao látex termoplástico rígido, resiliente, e é um bom isolante elétrico, derivado de uma árvore.

A empresa, que posteriormente ficaria conhecida mundialmente e que atualmente é conhecida por Siemens AG, abriu as suas portas seis semanas depois. Por causa da fundação da companhia, Halske deixou a oficina de precisão que chefiava com Bötticher, assumindo a direção da nova oficina. Enquanto isso, Siemens seria responsável por negociar contratos e planejar linhas telegráficas. Ele já estava planejando o primeiro projeto da nova empresa – estabelecer uma linha telegráfica subterrânea para a Comissão de Telegrafia ao longo da rota de teste Berlim-Köthen.

A oficina na Schöneberger Strasse 19. Imagem: Siemens/Reprodução.

Bem próximo à estação ferroviária de Anhalt, foram alugados dois apartamentos na Schöneberger Strasse 19, com o objetivo de ter um local adequado para as suas construções – um para Siemens, outro para Halske e sua família – além de uma oficina com 300 metros quadrados de espaço. O equipamento básico para a oficina – como máquinas e ferramentas – foi estimado em 5 mil a 10 mil táleres (antiga moeda prussiana).

Os dois não tinham esse dinheiro, além de, na época, Werner Siemens ter cerca de 2 mil táleres em dívida. Por isso, ele foi atrás de um apoio financeiro que seu primo Johann Georg Siemens, um magistrado de Berlim, ofereceu um empréstimo de 10 mil táleres em troca de 20% dos lucros.

A nova empresa, chamada Telegraphen-Bauanstalt von Siemens & Halske, foi fundada em 1º de outubro, com um acordo de parceria entre Werner von Siemens, Johann Georg Halske e Johann Georg Siemens. Em 9 de outubro, a oficina mecânica havia sido registrada como estabelecimento comercial no Royal Trade Tax Office e iniciaram as operações três dias depois, em 12 de outubro.

Mesmo assim, Siemens era ainda um oficial do exército, o que significava que ele era proibido de trabalhar como empresário ao mesmo tempo. Apenas Halske, por sua vez, poderia apresentar seu rosto ao público como proprietário e parceiro pessoalmente responsável. Pelo mesmo motivo, a oficina tinha, naquele primeiro momento, apenas o nome de Halske. Foi somente dois anos após a criação da empresa que Siemens deixou o exército para se dedicar completamente à Telegraphen-Bauanstalt von Siemens & Halske.

Depois de dois meses, a oficina estava já fabricando dois telégrafos, três sistemas de campainha com um novo design para as cabines dos sinalizadores ferroviários, vários instrumentos de teste e uma máquina para isolar fios de cobre com guta-percha. Os telégrafos e as campainhas de sinalização no segmento de teste Berlim-Köthen estavam funcionando “de forma bonita e confiável”, de modo que von Siemens esperava “em pouco tempo tornar [os telégrafos] um evento histórico”. Além disso, a oficina estava, então, totalmente equipada com dez trabalhadores, mas ainda se queixava de graves dificuldades financeiras pessoais.