A estrutura centralizada do STIR/SHAKEN, comum às operadoras, estará pronta para uso em dezembro deste ano. E, em janeiro, a solução estará disponível comercialmente. Gustavo Borges, superintendente de controle de obrigações da Anatel, conversou com Mobile Time sobre a tecnologia e disse que, no momento, há uma corrida entre as operadoras para ver quem oferecerá o serviço primeiro às empresas de telemarketing e de cobrança.

Isso porque quem passar a usar o STIR/SHAKEN não precisará mais usar o número 0303 (para empresas de telemarketing) nem o 0304 (para empresas de cobrança). Com isso, as companhias serão devidamente identificadas, com logos e com o motivo da ligação à vista para os usuários, o que deverá diminuir a desconfiança e aumentar o atendimento dessas chamadas.

“As empresas de telemarketing estão muito interessadas no serviço porque, atualmente, são obrigadas a usarem o número genérico 0303. O cliente sabe que é uma venda, mas não sabe de quem é e, assim, a ligação tem pouca atratividade. De acordo com as nossas pesquisas, quando a chamada é identificada, o cliente tem uma tendência maior em atendê-la. A indústria do telemarketing se propôs a financiar a estrutura centralizada no Brasil de tão interessada que estava. Mas, como é uma tecnologia que vai afetar diretamente a infraestrutura das operadoras, as empresas de telecom vão financiar sozinhas esse custo”, explicou Borges.

Anatel

Gustavo Borges, superintendente de controle de obrigações da Anatel. Foto: divulgação

As operações com o STIR/SHAKEN devem começar aos poucos, em determinadas redes e localidades, por conta do seu alto custo. A Anatel determinou que o uso da tecnologia não será obrigatório por conta do seu alto valor. E a adesão voluntária pode ser em algumas áreas.

“Mas criamos uma pimentinha. A adesão é incentivada porque, se o telemarketing está tão interessado, esta empresa não precisaria mais adotar o número 0303. Com isso, criamos uma demanda muito forte para este serviço. Mas a oferta será por adesão. Se a operadora não oferecer, estará abandonando o mercado”, resumiu o superintendente da agência.

Ou seja, como as empresas de telemarketing estão bastante interessadas no produto, a ideia é que elas vão usar os serviços das primeiras operadoras que implementarem o STIR/SHAKEN para deixarem de usar o 0303. E, quem não ofertar logo, pode perder a fatia de mercado.

Caberá às empresas decidirem onde o STIR/SHAKEN será adotado em primeiro lugar. No entanto, por conta da tecnologia em questão, a solução precisa ser implementada em uma rede moderna e onde o telemarketing atue com força.

“Será uma dinâmica de mercado. Para funcionar, três etapas precisam ser superadas: uma é a empresa que origina a chamada estar apta. Normalmente é uma empresa de telefonia fixa, como uma de call center. A estrutura centralizada tem que estar OK, e ela estará funcionando em dezembro. E precisamos que as empresas de telefonia celular estejam OK também porque essas chamadas vão para o celular. Cada operadora tem um cronograma interno próprio. No momento, há uma concorrência de prazo, quem chega primeiro, porque tem clientes ávidos pela solução e uma corrida contra o tempo para ver quem será a primeira a oferecer”, explica.

Modelo de negócios

A Anatel não vai estipular valores para as ligações identificadas pela solução. Caberá a cada operadora definir seu preço e determinar seu modelo de negócio. É diferente dos Estados Unidos, que, além de a implementação da tecnologia ser uma obrigação, as operadoras não têm autorização para cobrar pela melhoria.

“A Anatel autoriza que as operadoras cobrem por essa melhoria, com o valor adicional. Isso está combinado com os call centers, só que com uma dinâmica que não é uma tarifa, não é um custo regulado pela Anatel, mas concorrência”, complementa Borges.

Cobranças e spoofing

O Stir/Shaken também funcionará para empresas de cobrança. Assim, uma empresa que usar a solução não precisará mais do número 0304. “Os bancos estão muito interessados por causa das fraudes. Eles querem fazer uma comunicação para o cliente, mas o cliente fica ressabiado, sem saber se a informação é verdadeira ou falsa. Com o STIR/SHAKEN eles poderão fazer ligações de relacionamento com mais segurança”, diz o superintendente da Anatel.

Como funciona a solução

O STIR/SHAKEN também ajudará no combate ao spoofing, quando um número de telefone acaba sendo adulterado.

O spoofing ficou mais popular quando a rede de telefonia tradicional passou a se interconectar com a camada VoIP, ou seja, com a Internet. Foram desenvolvidos protocolos para criar a autenticação das chamadas, pois nem sempre uma ligação é entre clientes da mesma operadora. Às vezes, uma chamada envolve duas, três ou até quatro operadoras e, com isso, é possível que um número seja adulterado no meio do caminho.

A lógica do STIR/SHAKEN é uma lógica de tokens, chaves públicas e privadas que garantem que a chamada na forma como ela foi originada chegue do mesmo jeito em seu destino. Caso confirme as chaves pública e privada, no destino final, significa que a chamada não foi adulterada. Mas se alguns dos parâmetros foram alterados no caminho, as chaves não batem e a chamada não é autenticada.