Recentemente, a empresa norte-americana RT-One optou por instalar seu data center na cidade de Uberlândia/MG. Comprou um terreno de 1 milhão de metros quadrados, sendo 630 mil m2 de área construída e o restante de preservação de mata nativa. O investimento de R$ 6 bilhões na cidade não acontece à toa. A capital do Triângulo Mineiro é um polo em efervescência quando o assunto é inovação. Ao todo são cerca de 300 startups na cidade de 761 mil habitantes, um total de 500 empresas de tecnologia e inovação e R$ 5 bilhões investidos neste setor nos últimos seis anos.
São vários os fatores que atraem empreendedores e investidores. Há, por exemplo, a construção do Polo Tecnológico, um espaço que reunirá as principais empresas de tecnologia e startups locais com venda subsidiada de lotes, uma universidade federal (UFU) engajada com o movimento empreendedor e inovador, cerca de 20 instituições de ensino superior – somando mais de 70 mil alunos –, presença de empresas consolidadas – como Cedro, Bayer, Grupo Algar, Ambev, Grupo Martins, BRF, Cargill, Star Química etc –, proximidade com o agronegócio, localização estratégica por estar a cerca de 530 km de Belo Horizonte, 580 km de São Paulo, 470 km de Goiás, 420 km de Brasília e 800 km da fronteira com o Mato Grosso do Sul, além de possuir malha viária (quatro rodovias), ferroviária, aeroporto (prestes a ser expandido), ter um entreposto da Zona Franca de Manaus e, por fim, mas não menos importante, ser a quarta melhor cidade para se viver no Brasil e a primeira de Minas Gerais, segundo a edição 2024 do ranking Desafios das Gestão Municipal (DGM).
Entre os orquestradores para movimentar a rede de inovação na capital do Triângulo Mineiro está o Sebrae Minas, que promove uma série de ações contínuas de aceleração, eventos técnicos, meetups e fóruns científicos. Em 2019, foi responsável por avançar com a aplicação da metodologia Ecossistema Local de Inovação (ELI), o que permitiu estruturar as iniciativas locais e promover o planejamento conjunto entre os diversos atores, explica Eduardo Ramos, analista do Sebrae Minas.
“Mais recentemente, esse trabalho motivou a criação do Pacto pela Inovação, uma estratégia que une instituições públicas e privadas — como universidades, Prefeitura, incubadoras e centros de inovação — para ampliar o impacto e a efetividade das ações. Tudo isso reforça o papel do Sebrae Minas como articulador e promotor do desenvolvimento do ecossistema de inovação em Uberlândia”, resume.
Exemplos de startups de Uberlândia
Confira alguns exemplos de startups de Uberlândia que já despontam no cenário nacional.
Biofy

Escritório da Biofy. (À esq.) Araújo e Guilherme Bittencourt. Crédito: Isabel Butcher/Mobile Time
A startup Biofy possui parcerias com NVIDIA e Oracle. Recentemente criou o Abby, solução que combina sequenciamento de DNA e inteligência artificial para identificar infecções bacterianas, suas resistências aos antibióticos, e a partir destas informações, recomendar o tratamento mais indicado para aquela pessoa. A ferramenta reduz um processo que costuma durar de cinco a dez dias para apenas 4 horas.
A expectativa é crescer para todo o Brasil. No momento, os testes acontecem no hospital Dante Pazzanese, que integra o Sistema Único de Saúde de São Paulo e, em breve, haverá uma expansão dos testes para mais pacientes, podendo chegar a 200 ou 300. “E estamos fechando parcerias com laboratórios particulares de Uberlândia”, explica Felipe Araújo, especialista em marketing da Biofy. “A gente viu que é viável, é possível, agora precisamos escalar os processos, ter mais dados e mais amostras. Até o final do ano teremos chegado a mais de 1 mil amostras”, completa. A ideia é terminar a validação ainda em 2025 e começar a vender o produto para clínicas e hospitais logo em seguida.
Atualmente, a preocupação da startup é aumentar a quantidade de amostras, mas a intenção é ser uma empresa global. “Mas, no momento, estamos no cenário nacional, ainda”, diz Araújo.
“A nossa proposta de sequenciamento é local e expandir para qualquer lugar do mundo é relativamente tranquilo, mas assim que estivermos estabelecidos aqui, no Brasil”, completou Guilherme Bittencourt, desenvolvedor de IA da Biofy e bioinformata, que citou Estados Unidos, Europa e México como possíveis próximos mercados da Biofy.
Futuramente, a Biofy pretende contribuir para o desenvolvimento de novos antibióticos ou outras drogas para combater as superbactérias.
Sem dar detalhes, Araújo explica que a Biofy deverá anunciar em breve o primeiro investidor da startup.
Blips

Escritório da Blips em Uberlândia. Crédito: Isabel Butcher/Mobile Time
Avaliada em R$ 500 milhões e um recente aporte de R$ 50 milhões da Headline, a Blips se consolidou como uma fintech especializada em facilitar o acesso a equipamentos produtivos e crédito para empreendedores frequentemente desassistidos pelo mercado financeiro tradicional.
Fundada em 2019, a empresa projeta alcançar um faturamento de R$ 350 milhões neste ano, e meta de R$ 550 milhões para 2026. Atualmente, a Blips conta com 350 funcionários e possui mais de 7 mil máquinas instaladas em mais de 120 cidades do Brasil.
Na prática, a empresa aluga ou oferece leasing de maquinários como:
- Comunicação Visual: Plots de impressão, utilizadas para imprimir banners e adesivos, e facas de gravação a laser.
 - Confecção: Impressoras específicas para sublimação, usadas na fabricação de camisas e estamparia.
 - Estética: Aparelhos estéticos, como máquinas de depilação a laser e para tratamentos de ultrassom micro e macrofocado.
 - Sorvete: Máquinas de sorvete soft, semelhantes às utilizadas em grandes redes (como McDonald’s).
 - Fitness: Equipamentos de cárdio para academias, incluindo esteiras e escadas.
 - Construção Civil: Mini escavadeiras.
 
Para fazer a análise de crédito, a Blips utiliza um score próprio gerado através de uma análise que inclui o potencial empreendedor do proponente, o tempo de CNPJ e a existência de uma carteira de clientes no segmento. Este sistema permite aprovar créditos que seriam teoricamente reprovados em outros lugares.
Outro ponto é que todas as máquinas possuem um dispositivo IoT de telemetria, batizado como Neurônio. Os equipamentos trazidos da China são adaptados para o mercado nacional e ganham um Neurônio, que é conectado à placa do equipamento, permitindo que a máquina seja rastreada e monitorada. Caso o cliente fique inadimplente, a tecnologia de rastreamento permite que a startup bloqueie o equipamento remotamente. Dessa forma, a própria máquina se torna a garantia real do negócio, o que possibilita à Blips aprovar um volume maior de crédito se comparada com os grandes bancos.
A Blips aprova mais de 50% dos clientes que solicitam a compra. Em comparação, a empresa afirma que, para cada 100 pessoas que um banco tradicional rejeita, a Blips aprova 50% desse público.
O modelo de finanças e crédito criado pela Blips se mostrou tão bem-sucedido que está dando origem a uma spin-off chamada Finza, que será a “financeira pura” e terá como objetivo disponibilizar o serviço de crédito diferenciado, incluindo o uso do Neurônio, para outras indústrias no mercado.
A Blips oferece um modelo de locação da máquina com opção de compra no final do contrato (no 37º mês, após 36 meses de pagamento).
Para o futuro próximo, a Blips planeja expandir para os setores de logística (com paleteiras e carregadeiras de palet) e comunicação visual digital (como painéis de LED)
Espresso

Carolina Mesete, sócia da Espresso em conversa com jornalistas no MTI. Crédito: Isabel Butcher/Mobile Time
Espresso é uma plataforma especializada em gestão de despesas com solução de multiprodutos, como reembolsos e agendamentos, cartão corporativo, caixinha para as empresas e pagamentos de fornecedores.
Fundada há pouco mais de 9 anos, a empresa oferece as seguintes funcionalidades:
- Plataforma Gerencial: Permite às empresas uma gestão completa das informações de todo o processo de gestão de despesas digitalizadas, incluindo reembolsos e pagamento de fornecedores.
 - Aplicativo para Colaboradores: Utilizado para solicitação de reembolso e adiantamento.
 - Cartão Corporativo: Os “cartões adiantamento” da Expresso, possuem bandeira Mastercard e fornecem adiantamentos ao colaborador que automaticamente se tornam despesas acompanhadas pelo gestor financeiro.
 
Em 2023, a Espresso lançou sua inteligência artificial, a Barista IA, criada para auxiliar na auditoria do processo de prestação de contas, mitigando problemas como fraudes.
E, recentemente, a plataforma expandiu para oferecer cartões de benefícios (VA, VR), uma conta digital de pagamentos (com estrutura bancária integrada e vinculada a sistemas como RTC), e serviços de viagens (compra de passagens e hospedagem).
A Espresso mantém sua sede oficial em Uberlândia, no espaço colaborativo MTI (Minas, Tecnologia e Inovação).
Ao todo, a startup conta com 100 clientes (CNPJ) que somam mais de 100 mil usuários utilizando a solução em todo o Brasil. A empresa é composta por 42 colaboradores e já possui clientes com operações internacionais nas Américas, Ásia e Europa. Entre as curiosidades, 52% do total de funcionários é formado por mulheres e, entre os 13 líderes, oito são mulheres. Vale dizer ainda que a empresa foi adquirida pela Sankhya em agosto de 2024.
Foto de Uberlândia/MG. Crédito: Secretaria de Governo e Comunicação/PMU
*A jornalista viajou a convite do Sebrae Minas.
