O CEO do iFood e da Prosus na América Latina, Diego Barreto, acredita que a relação com os motociclistas entregadores pode melhorar e reforça que quer pagar previdência, mas acredita que o modelo precisa ser diferente daquele proposto pelo governo.

Em conversa com jornalistas durante o iFood Move, evento organizado pela empresa em São Paulo nesta terça-feira, 5, Barreto afirmou que todos os pontos da regulação dos entregadores avançaram no ano passado junto ao governo federal – o que travou foi apenas na previdência. De acordo com o executivo, o modo como a contribuição previdenciária foi proposta beneficiaria apenas 5% dos trabalhadores entregadores.

“A forma como a previdência foi pensada (pelo governo) é para que as plataformas, em média, aportem 80% do valor previdenciário e o empregador ou motorista aporte em torno de 20%. O problema é que para você ter acesso ao benefício, você tem um mínimo de contribuição. Mas o ganho que o trabalhador tem dirigindo um carro é maior que em uma moto”, disse.

Em sua explicação, Barreto comparou uma pessoa que compra um carro de R$ 150 mil para o seu trabalho, que, em teoria, tem uma remuneração maior do que uma pessoa que compra uma moto de R$ 4,5 mil. Portanto, na lógica econômica, os motoristas ganham mais e chegam no mínimo de contribuição, mas na moto acontece o contrário.

“No iFood, dois terços dos entregadores usam a plataforma como um complemento de renda. Então, veja, ele vai lá e trabalha quatro horas no mês. Ele nas quatro horas fez o seu aporte de 20% e eu (iFood) fiz meu aporte de 80%. Ele não vai ter direito a previdência? Isso é errado. Eu quero pagar os 80%. Eu não estou discutindo isso. Mas eu preciso [do aporte] dos entregadores também”, afirmou.

“Na forma como o sistema previdenciário foi definido, um entregador a cada entrega ganha R$ 15 e contribui 20% em cima disso. Se ele fez uma entrega só e nunca mais fez uma entrega, essa pessoa não tem direito à previdência. Nós não concordamos com isso”, ressaltou Barreto. “Nós precisamos achar uma forma, como, por exemplo, o Estado brasileiro foi capaz de fazer com as domésticas no passado ,que adaptou (a lei) para rotina de uma doméstica”, comparou, acrescentando que essa fórmula não é complexa e pode ser feita.

O CEO do iFood lembrou que após discussão com o governo federal em 2024 no âmbito do ministério do Trabalho, o PL do Breque (2479/2025) precisa ser discutido. Atualmente, o presidente da Câmara dos Deputados criou uma comissão especial para poder discutir os projetos de lei. A esperança é que agora seja designado um relator que aglutine esse com outros projetos similares.

De acordo com o status na Câmara, o texto está aguardando relator na Comissão de Comunicações da Casa.

Protestos contra o iFood

Durante o evento, os entregadores fizeram um protesto na frente do local acusando a companhia e os rivais Rappi, 99 e Uber de serem “parasitas”, aplicarem “escravidão moderna”, além de todo carro que chegava ao local ser recebido com a faixa ‘iFood Move: Festa no Palco, Miséria na Rua!”. Importante recordar que esta não foi a única manifestação dos entregadores neste ano: em 31 de março, os profissionais cruzaram os braços, o que dificultou o ecossistema de entregas nas grandes cidades brasileiras naquele dia.

Barreto vê as manifestações dos entregadores como algo “natural” e que eles têm o direito de se manifestar. Sobre as reinvindicações, como o pagamento mínimo de R$ 10 por corrida, o executivo reforçou que fazem reajuste da taxa mínima ano a ano desde 2019 e que se baseiam nas pesquisas.

“O meu ponto é: quando eu pego os entregadores do iFood, aqueles que trabalham 6 a 8 horas por dia, 5 a 6 dias por semana, e têm na plataforma a sua principal fonte de renda, 96% dizem ‘não quero sair daqui, não quero outro lugar’. Não sou eu que digo isso. São eles que dizem isso, as pessoas mostram isso”, afirmou. “Aí alguém fala assim: ‘eu conheci um entregador que ganhou R$ 200 por mês’. Sim. 2/3 dos entregadores do iFood usam o iFood como complemento de renda”, completou.

No entanto, o executivo acredita que a relação entre iFood e entregadores pode melhorar, uma vez que em sua visão a logística é algo relativamente novo para a companhia – essa divisão foi criada em 2018 e tem pouco mais de sete anos. Afirmou ainda que tem dificuldades, diálogos, tensões e questões operacionais complexas, mas que isso é normal e tendem a evoluir.  Nesta terça-feira, Barreto anunciou que, dos R$ 17 bilhões de investimento que a companhia fará até março do ano que vem, R$ 1 bilhão serão voltados a proteção e infraestrutura, o que inclui centrais de apoio aos entregadores.

Regulação internacional

iFood

Protesto dos motoristas na porta do SP Expo nesta terça-feira, 5 (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)

Em conversa com Mobile Time, Barreto foi questionado sobre as recentes regulações para entregadores no México e na Colômbia. O executivo confirmou que acompanhou, mas acredita que são particulares de cada país e preferiu não comentar.

Vale lembrar que, por exemplo, a regulação mexicana exige que as plataformas devem garantir direitos trabalhistas de motoristas e entregadores, como ao dar rendimentos mensais iguais ou superiores ao salário-mínimo na Cidade do México, flexibilidade para que os trabalhadores definam seus horários de conexão e proibição para pegarem pedidos ou corridas de mais de um app ao mesmo tempo.

Imagem principal: Plateia do iFood Move assistindo palestra de Diego Barreto, CEO da do iFood e da Prosus na América Latina (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)

 

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