5G

A entrada do 5G no Brasil a partir de seis novas operadoras móveis é um processo que finaliza uma etapa da transformação do setor que começou nos últimos dois anos. Pelo menos é o que acredita Ari Lopes, gerente sênior da Omdia. Agora, o mercado de telecom avança a partir de um novo modelo de negócio: as empresas de aluguel de espectro.

“Passamos pelos movimentos das towers (torreiras), entrou em infra companies (que ofertam infraestrutura de telecom) e agora teremos spectrum companies (empresas que alugam frequências adquiridas no leilão). Teremos uma série de empresas atuando no atacado e outras se preparando para entrar no mercado móvel, sem precisar mais daquele modelo clássico de abrir MVNO na Anatel”, disse Lopes. “Teremos uma desconcentração e sofisticação do mercado. Várias empresas devem abrir suas operações. As empresas de nicho podem seguir o caminho de se tornarem uma operadora móvel virtual. As companhias com mais escala e que tenham infraestrutura maior podem alugar capacidade de espectro das empresas e se consolidar”, completou.

Contudo, Gustavo Nascimento, sócio-fundador e CEO da Phygitall, explicou que as grandes operadoras de telefonia levaram o filé mignon do certame (as faixas nacionais de 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz), “nada além do que era esperado” por estarem mais preparadas e com mais recursos para investir. Com isso, Claro, Vivo e TIM eliminaram a capilarização da oferta por operadores menores.

Vale dizer que a Winity tornou-se um novo player nacional ao fazer a proposta de R$ 1,4 bilhão pela frequência de 700 MHz. Porém, a empresa de telecomunicação da Pátria Investimento atuará justamente como spectrum company.

Ainda assim, Vinicius Castelo, diretor de telecom da Oliver Wyman, explica que a dinâmica ainda é boa a partir do 5G, mesmo sem um quarto grande player nacional: “Tivemos players novos e diferentes dos leilões do 4G. Agora, o Brasil tem seis operadoras com espectro no mercado (antes eram quatro, sendo que a Oi está sendo fatiada para Claro, TIM e Vivo). Além disso, há outras oportunidades para que outros participem, via mercado secundário”, explicou.

Do interior para o centro

Castelo e Lopes acreditam que o 5G pode avançar mais do interior para o centro mais rapidamente ante o que aconteceu no 4G. Ambos citam que a chave para essa dinâmica mais ligeira foi o avanço e o apetite dos ISPs no leilão do 5G. O analista da Omdia deu como exemplo a Brisanet que avançará para o nordeste a partir da aquisição de um bloco de 3,5 GHz e que, muito provavelmente, a companhia deve oferecer conectividade para o setor agrícola, além do B2C. Lembrou também de Sercomtel e Unifique terem avançado no certame com foco no atacado, mas eventualmente podem caminhar para o varejo.

“Por conta das presenças no leilão, teremos o 5G no interior do Brasil antes do 3G e do 4G, quando foram realizados lançamentos em bolsões em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, e só depois para outras capitais e cidades grandes. E as cidades menores e o interior receberiam depois de três, quatro anos”, disse o gerente da Omdia. “Em termos de competição, não teremos uma nova Oi, um grande player nacional competindo com as três. Mas ISPs, principalmente Brisanet e Algar, que podem ter um lugar ao sol, em um mercado descentralizado e com competições em alguns locais do Brasil”, prevê.

Lopes recorda que outras empresas que podem acelerar essa capilarização regional são os perdedores do leilão, como o consórcio dos ISPs: “As empresas ganhadoras (Winity, Sercomtel, Unifique) podem entrar em conversa (com esses players)”, sugeriu.

Por sua vez, o diretor da Oliver Wyman afirma que a dinâmica é muito nova com os novos players de mobile regional, mas acredita que é positivo: “Não sei se a competição vai aumentar, pois demanda investimentos pesados em infraestrutura. Mas o fato é que o recurso e o acesso de players a mercados de capitais aumentaram. Como vimos com Brisanet, recentemente. Esse dinheiro vai levar o 5G a cidades que talvez não tivessem tão cedo”, disse.

Disputas

A leitura dos executivos ouvidos por Mobile Time é que a disputa mais forte pelos blocos do leilão de frequências foi no 2,3 GHz, com disputas para tomar o espaço de rivais em regionais ou empresas buscando entrar no segmento de redes celulares.

“Para os lotes B nacionais de 3,5 GHz tínhamos quatro lotes e três grandes operadoras e inclusive com ágios menores. B4 nem teve concorrente. Para os demais lotes do 3,5 GHz e 2,3 GHz, já havia escassez”, disse Castelo. “Um exemplo é a Brisa. Se perdesse aquele lote, ela não teria uma segunda chance de ir para o móvel. Isso justifica o forte ágio e não deixa ninguém questionar a hegemonia. Mesma coisa a Algar no 2,3 GHz e no 26 GHz. Por mais que tivesse 140 lotes, a disputa ficou bem acirrada”, completou.

Por outro lado, Nascimento, da Phygitall, lembra que houve oferta de quatro blocos, porém apenas três foram arrematados. Para ele, um dos motivos é que apenas as maiores operadoras têm a condição de criar infraestrutura para cobrir todas as 26 capitais até o meio do ano que vem. Em contrapartida, o executivo vê que as pequenas prestadoras formaram consórcios regionais e arremataram os lotes em seus redutos onde, atualmente, já ofertam serviços de banda larga e outras soluções de conectividade.

“O fato de que todos os oito lotes regionais foram arrematados reitera e fortalece o papel social e de desenvolvimento econômico que esses pequenos provedores cumprem em suas regiões ao oferecerem serviços de muita qualidade”, afirmou.

Lopes, da Omdia, ressalta que, por outro lado, os blocos que não foram arrematados mostram que ainda há desafios no 5G: “O modelo de negócios não é muito claro. Tem características técnicas boas no 5G, mas vai ter que trabalhar de dois a três anos sem um modelo de negócios claro. Também tem o outro lado: vimos muita frequência, então é natural não ter apetite suficiente. Ainda assim, estamos falando do maior leilão da história da agência com 15 proponentes”, completou.