A Cisco enxerga um grande potencial de crescimento a partir de parcerias no mercado dos pequenos provedores de serviço de rede e grupos conglomerados que ganharam licitações do espectro do 5G, os ‘espelhinhos’ – ISPs que “passam a fibra ótica em pequenas cidades e saem operando”, como exemplificou Ricardo Mucci, presidente da fornecedora de backbone e infraestrutura de rede no Brasil.

“Eles (espelhinhos) têm uma facilidade (de penetração) muito grande. Vamos ver isso acontecer com o 5G agora. Fora o espectro nobre do 3,5 GHz, veremos os espelhinhos capturando os clientes/assinantes e provendo serviços”, disse Mucci. “Na criação desses backbones menores (Cisco NSS), nós temos conversado muito com eles. Estão com apetite e dinheiro de investimento muito forte”, completou.

Redes privativas e PPPs

A Cisco também vê potencial para avançar no segmento dos governos estaduais com estrutura para redes móveis, como fez com o governo do Piauí por meio de parceria público-privada (PPP): “Fomos afortunados e escolhidos pela PPP como parceiro tecnológico para o backbone, para a parte de segurança de rede. É um projeto que está levando 5 mil km de fibra. Gosto do modelo não só pela questão de levar conectividade para todo o estado, mas pelo fato de que o ente privado pode participar. Por exemplo, o projeto explicita que 60% da capacidade produtiva da rede é do governo e os outros 40% podem ser usados para o mercado privado”, disse.

Com essa divisão da rede, Mucci explica que a PPP colabora para criar um mercado secundário, pois pode vender a capacidade que sobra para os pequenos provedores em cidades menores do Piauí. “O Piauí investiu zero reais para construir a rede. Ele paga apenas o serviço. E está gastando 30% menos do que gastava com a Oi”, complementou.

“2023 é o ano que começamos a enxergar andando para frente projetos de PPP. É o início de novos governos. E vejo caminhando tratativas com esses governos para caminhar e criar sua rede de infraestrutura e serviços, mas muitos caminhando no modelo de PPPs”, prevê o presidente da Cisco Brasil.

Mucci também vê potencial em projetos dedicados a setores e secretarias. Um exemplo é o projeto de Escolas Conectadas que a Cisco está fazendo com o BNDES.

Operadoras

Outra área que a Cisco vê potencial em 2023 é na atualização da infraestrutura de rede IP em operadoras e empresas. Um exemplo citado por Mucci é a Telebras que fez uma previsão de aquisição de core de backbone, três anos atrás, e estão gradativamente fazendo a migração dessa plataforma. Outro exemplo é uma operadora que está migrando “100% do core e da infraestrutura deles, saindo dos finlandeses e voltando para Cisco”.

“É um modelo justamente de revitalização e de crescimento principalmente no backbone IP. Então, quando olhamos uma mudança e uma revitalização dessas infraestruturas, estão indo 100% do modelo de IP. Passam a não olhar mais camadas de transmissão convencional e vão automaticamente. E temos trazido ao mercado nacional todos os equipamentos com visão de ótica”, completou.

Em gestão, o exemplo é o recente acordo da Cisco com a V.Tal. A operadora de rede neutra tem 450 mil km de fibra herdados da Oi, uma infraestrutura que a fornecedora é parceira junto com a operadora para revitalizar e transformar essa rede em IP. Mas o problema está na gestão da rede que tem mais de 200 pessoas.

Aceleram também a demanda por equipamentos e serviços de rede da Cisco o fato de que as operadoras começam a oferecer para seus clientes corporativos cloud com a infraestrutura, assim como acordos de revenue share e gain share com empresas de CDN do exterior, como a Qwilt com CDN para Disney em parceria com Algar e Oi: “A questão aqui é como se ajustar nesse modelo de nova economia digital. Vemos uma movimentação muito forte de alguns certos providers entrando com o modelo do digital”, complementou.

Enterprise

Nas empresas, o presidente da Cisco afirmou que também há revitalização, mas não “tão exponencial” quanto a dos services providers, e sim pelo movimento de cloud-first nas aplicações. Mucci citou como cloud-first o recente plano de migração de serviços Itaú com plano de migração para AWS, mas que precisaria de suporte de infraestrutura de rede.

Outro modelo de negócios que a fornecedora tem avançado com as empresas é o modelo de consumo, ou seja, a companhia que contrata produtos e serviços da Cisco paga apenas por aquilo que consome: “Isso permite que ele (empresário) faça essa migração gradativa e pague conforme for consumindo essa infraestrutura”, concluiu.