Carlos Moyses é CEO do iFood

Carlos Moyses, CEO do iFood, representou o ecossistema empreendedor brasileiro no Web Summit, evento de tecnologia que acontece em Lisboa até quinta-feira, 7. Em entrevista exclusiva para Mobile Time, o executivo fala da importância da inteligência artificial, dos robôs que serão usados a partir de janeiro de 2020 para auxiliar no processo de entregas de comida em shopping centers em São Paulo, e apresenta alguns números da empresa unicórnio: em setembro o iFood atingiu a marca de 21,5 milhões de pedidos processados, totalizando 159,3 milhões desde o início de 2019. A presença da companhia no País aumentou em 24%, passando de 662 cidades, em julho deste ano, para 822, em setembro.

Mobile Time – O senhor foi um dos palestrantes brasileiros no Web Summit 2019. Quais foram os assuntos abordados em sua apresentação? 

Carlos Moyses Participei de um painel com Tim Stevens, editor da Roadshow, e com o CEO da Bolt, Markus Villig, sobre o impacto de serviços como o delivery de alimentos na cultura e sistemas de transporte das cidades, e quais inovações estão ocorrendo no circuito global.

Abordamos o propósito de reforçar nossa visão de crescimento futuro, em que tecnologias inovadoras serão o motor de funcionamento e operações do iFood, aumentando a previsibilidade de demanda, traçando rotas mais inteligentes e melhorando ainda mais o sistema de alocação de pedidos.

É sua primeira participação como palestrante no WS e como participante do evento? 

Sim, é a primeira participação. É importante estar em um ambiente que traz novidades e discussões sobre tecnologia. Existe uma troca abrangente de conhecimento e experiências dos mercados de atuação. Consideramos uma ótima participação o iFood, empresa 100% brasileira, estar presente no evento e vemos uma sinergia muito grande com as demais participantes com grande expertise em cada um desses segmentos que se complementam.

Poderia atualizar números da evolução da empresa em 2019 (investimentos, retornos de investimentos, quantidade de usuários no Brasil e exterior, receita, etc?) O desempenho tem sido melhor ou pior do que em 2018? Por quê?

O iFood se consolidou como a foodtech líder da América Latina e segue em ascensão positiva. No mês de setembro, por exemplo, a empresa atingiu a marca de 21,5 milhões de pedidos processados no mês, totalizando 159,3 milhões desde o início de 2019. A capilaridade do iFood no Brasil também deu um salto de 24%, passando de 662 cidades, em julho deste ano, para 822, em setembro. Já presente em todos os estados do Brasil, o número de restaurantes cadastrados chegou a 116 mil. Os resultados demonstram confiança e o crescimento da foodtech como fomentadora da economia compartilhada, assim como a sua contribuição para o desenvolvimento de todo o ecossistema, que envolve fornecedores de insumos, produtores, restaurantes e clientes.

Quais são os principais desafios tecnológicos da iFood? Pretende ou já está investindo em inteligência artificial, novas tecnologias para plataformas móveis, novos apps, por exemplo?

Somos uma foodtech e, por isso, nosso foco está em desenvolver constantemente tecnologias voltadas ao universo da alimentação, o que vai muito além de delivery.

A inteligência artificial está completamente enraizada em tudo o que fazemos e é inquestionavelmente o mecanismo por trás do crescimento do iFood. Então decidimos que é essencial ser a primeira empresa brasileira a ajudar a educar todos os nossos funcionários em IA durante o ano de 2020.

Com IA melhoramos muito nossas operações logísticas, desenvolvemos nosso próprio sistema de mapeamento baseado em localização e análise de dados, possibilitando entender quanto tempo os restaurantes demoram para preparar os pratos, identificar os horários exatos de coleta das refeições e instruir os entregadores parceiros para serem mais eficientes e aumentarem suas receitas.

Somos movidos por disrupção e tecnologia para trazer as mais inovadoras experiências de consumo aos nossos clientes. Sabemos do importante papel que as assistentes virtuais por comandos de voz, como Alexa, terão nos próximos anos e queremos levar mais essa inovação no dia a dia dos nossos usuários.

O iFood é a primeira foodtech do Brasil a trabalhar com a Amazon para permitir pedidos de food delivery usando o comando de voz como “Alexa, falar com o iFood” ou “Alexa, abrir o iFood” em português. Os usuários poderão obter informações detalhadas sobre pedidos e acompanhar seu status das refeições.

Em janeiro seremos também os primeiros na América Latina a utilizar robôs autônomos para ajudar nos estágios inicial e final do processo de entrega de comida nos shopping centers, a princípio na cidade de São Paulo. A parceria feita com a empresa Syncar é a aplicação efetiva de IA, garantindo otimização logística pela complementaridade de modais.

Como fidelizar clientes na era digital?

Há alguns anos, um negócio de sucesso era aquele que tinha uma proposta de valor e mercado voltado para resultados. Na era digital, é preciso estabelecer sinergia com o cliente. As mudanças não se referem somente à inserção da tecnologia nos negócios: a tecnologia mudou a vida das pessoas, a forma como pagamos contas, como viajamos, como nos relacionamos com outras pessoas e como nos alimentamos. Acreditamos na personalização, de que cada cliente é único e seguimos trabalhando e investindo cada vez mais em soluções customizadas que facilitem a sua jornada de consumo, seja com inteligência artificial, ou com serviços e produtos que tragam uma experiência completa.

Visto que são uma empresa unicórnio, como manter a tendência de crescimento enquanto se observa a movimentação da concorrência?

O mercado mundial de delivery de comida vive uma gigantesca expansão e movimenta US$ 160 bilhões. O Brasil, que é um País com proporções continentais, ainda tem muito potencial de crescimento. Se pensarmos que, em média, uma pessoa faz 90 refeições por mês, vemos que temos muita oportunidade para crescer ainda. Além disso, pesquisas recentes de associações do setor apontam para o crescimento da alimentação fora do lar, que movimenta mais de R$ 200 bilhões por ano. Embora o Brasil seja um mercado com grande potencial, ele tem particularidades e desafios que talvez muitos players internacionais não tenham total visibilidade e entendimento para entrar no mercado e manter uma operação saudável. Hoje, o iFood capitaneia o segmento e coloca a América Latina em destaque. Atribuímos esse crescimento à movimentação da cadeia e estamos sempre atentos às tendências que possam impactar positivamente todo o ecossistema, que inclui consumidores, restaurantes e parceiros de entrega.