Um cão-robô de quatro patas que consegue adentrar em diferentes terrenos, como pedras, concreto, asfalto, metal e até superfícies desniveladas, possui nele inteligência artificial (IA), conectividade 5G, câmeras, microfones e sensores. O nome dele é Spot e este é o caso da solução fornecida pela Boston Dynamics e que vem sendo testada no Brasil pelo Parque Tecnológico Itaipu (PTI). No momento, a empresa aguarda a liberação do produto por parte da Anatel para que a comercialização comece no segundo semestre deste ano. As informações são de Eduardo de Miranda, diretor de negócios e empreendedorismo do PTI, em conversa com Mobile Time.

Em parceria com a Itaipu Binacional, Petrobras e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o robô passou a ser testado em outubro de 2023. No Brasil, ainda não está aberta a comercialização do robô. Atualmente, existem no País duas unidades que estão sendo desenvolvidas: uma na Petrobras e outra na usina hidrelétrica de Itaipu.

O cão-robô

O robô foi desenvolvido para trabalhar em grandes plantas e projetos, não para substituir o humano, mas para que ele possa auxiliar nos trabalhos em áreas de risco, críticas e confinadas. Por isso, o PTI está desenvolvendo casos de implementação em espaços reais para analisar como o Spot pode trabalhar, por exemplo, em uma plataforma de petróleo. Miranda prevê cerca de seis meses para finalizar esses testes em ambas as regiões.

Ele é personalizável, ou seja, a sua estrutura pode ser acrescentada com outras ferramentas, acoplando e desacoplando, como um braço mecânico ou uma câmera, a depender do tipo de trabalho para qual o robô for usado. Isso é chamado de payloads, que Wilbur Souza, gerente de projetos do PTI, descreve como sensores.

Funcionalidades

“Nas iniciativas de inspeção industrial, nós conseguimos colocar a câmera térmica [no robô], que pode avaliar componentes de mal funcionamento, por exemplo, que estejam superaquecendo e não estão se comportando como deveriam. Podemos colocar câmeras com alto nível de resolução de zoom que, dependendo do tipo de inspeção, é possível dar um zoom em um manômetro e verificar como ele está”, conta Souza.

Entre outras funcionalidades, é possível também fazer com que o cão-robô elabore um mapeamento 3D. Isto é, a cada movimento que ele faz, o Spot coleta dados do ambiente construindo uma nuvem de pontos. A análise com inteligência artificial é outra possibilidade, ao fornecer “streaming de informações” com conectividade para que os técnicos não precisem se deslocar em locais perigosos.

Até o momento, o laboratório (PTI) tem usado os dois exemplares de forma distinta. Um deles é para a indústria petrolífera e o outro é na área de energia elétrica. O primeiro exemplar acompanha o braço mecânico que permite abrir portas, fazer movimentos de 90 graus para acionar ou desacionar algum componente – que está em Itaipu. Já o segundo, foi adaptado para a câmera, que pretende coletar imagens de ambientes imprecisos. Ambos os executivos afirmam que depois, quando ele entrar no mercado, o robô vai poder atender todas as empresas.

“Nós estamos ganhando conhecimento técnico da equipe, fazendo treinamento e desenvolvendo para entender como se trabalha com ele para, após isso, poder adaptá-lo em outras plantas, setores e empresas de acordo com as suas necessidades. É muito customizado”, complementa o diretor de negócios.

O que importa, segundo Souza, é a similaridade na parte operacional, visto que é uma plataforma robótica e, assim, pode variar de acordo com cada caso. “Nós já conseguimos mostrar funcionalidade para portos, aeroportos e outros tipos de indústria além daquelas que estamos testando agora”, ressalta.

Casos de uso

Nos Estados Unidos, o cão-robô já é comercializado e, atualmente, auxilia no corpo de bombeiros, na polícia, faz inspeções em portos, aeroportos, na indústria alimentícia, além da área de segurança. Apesar dele já ter sido treinado no país norte-americano, os executivos explicam que a intenção é nacionalizar o Spot e, por isso, estão treinando também no Brasil.

“Falando de aplicações, ele pode fazer rotinas automatizadas. Por exemplo, em um local dentro de uma indústria, possui turnos de seis horas e eu faço uma inspeção a cada turno. O robô fará três a quatro com uma massa de dados muito maior”, compara o gerente. Ele acredita que não irá substituir o humano, e sim vai poder estender a quantidade de informações que o humano poderá analisar e interpretar.

A partir da IA, o robô consegue fazer inspeções com a câmera de alta qualidade que às vezes a olho nu não é possível. “Uma barragem, por exemplo, que obtém pequenas alterações, o Spot tem a capacidade de identificar. E são esses casos que queremos popularizar o uso do robô no Brasil”, afirma Miranda.

Modelo de negócio

O robô é desenvolvido pela Boston Dynamics e o Parque Tecnológico é um parceiro estratégico na implementação dos seus casos de uso. Como ainda não tem a autorização da entrada dele no mercado brasileiro, ainda não foi possível quantificar o valor no Brasil. Porém, o diretor supõe que o robô tenha um custo de aproximadamente R$ 2 milhões a R$ 3 milhões.

Imagem: Spot, o cão-robô. Créditos: Divulgação/Mondoni Press.