Índia, Brasil e Estados Unidos, nesta ordem, são os países com mais downloads do Threads (Android, iOS), a nova rede social da Meta. De acordo com dados exclusivos enviados pela Sensor Tower ao Mobile Time nesta sexta-feira, 7, das 40 milhões de instalações globais contabilizadas pela empresa, 8,8 milhões foram na Índia (22% do total), 6,4 milhões no Brasil (16%) e 5,5 milhões nos EUA (14%).

Os dados analisados são sobre as primeiras 48h de operação da plataforma, entre 5 e 6 de julho.

O analista de mercado do Bank of America Justin Post afirmou ao Seeking Alpha que o alcance do microblog da Meta está acima das expectativas. Avalia ainda que, se mantiver o ritmo de crescimento, poderá chegar a 250 milhões de usuários ativos em 2024, com metade da receita média por usuários (ARPU) do Twitter, que é de US$ 23. Segundo seus cálculos, há uma oportunidade de receita para a Meta de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões.

Nesta sexta-feira, Mark Zuckerberg, CEO da holding, atualizou, em sua conta na nova rede social, que Threads passou dos 70 milhões de usuários. Com isso, o app da companhia passa o ChatGPT e se torna o crescimento mais rápido em base de usuários na história da tecnologia.

 

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Mas, qual o segredo para esse crescimento rápido? Mobile Time conversou com especialistas de tecnologia e do mercado de mobilidade sobre o avanço do Threads para entender o que Zuckerberg conquistou, quais são os próximos passos e até o futuro das redes sociais e dos rivais da Meta. Essa é a primeira de três partes de uma reportagem especial sobre o Thread.

Estratégia

Para Daniel Simões, general manager da MoEngage no Brasil, o principal motivo para o grande crescimento do Threads em menos de 24 horas é a integração com o Instagram. Em sua visão, o fato de o usuário poder conectar e seguir pessoas de sua conta da rede social imagética com apenas um clique deixou fácil a transição. Simões também acredita que a nova plataforma da Meta nasce com o propósito de trazer o melhor de cada rede social, tanto aquelas da Meta quanto as rivais.

Por sua vez, Fernando Moulin, sócio da Sponsorb e professor da ESPM, acredita que o atual ritmo e a estratégia de integração com o Instagram podem levar o Threads ao primeiro bilhão de usuários em breve e antes do rival Twitter, uma vez que a rede social de Zuckerberg pode ocupar o espaço com “muita gente órfã” do antigo Twitter, uma plataforma que era mais focada em trazer informações em tempo real e tinha mais regramentos. Moulin lembra ainda que esta é a primeira aplicação plena e pura da Meta desde o Facebook, ou seja, não foi feita por meio de aquisições e fusões como Instagram, Quest e WhatsApp. Porém, Elon Musk ameaçou processar a Meta por roubo de propriedade intelectual para criar o Threads.

Ricardo Cavallini, CEO da Makers, explicou que a Meta conseguiu avançar em algumas etapas, como lançar uma ferramenta que funciona e trazer uma ampla audiência. Mas há outros desafios que a companhia precisa alcançar com o Threads, como lançamento de features que os usuários pedem (vide ver a linha do tempo das pessoas que o usuário segue), reter os usuários e achar o modelo de negócio certo, mas esse último não deve ser tão complicado. “O último desafio que é o modelo financeiro será o mais fácil. Eles não precisam monetizar e correr atrás de receita hoje. Pode ser mais fácil até que o WhatsApp”, disse.

Léo Xavier, CEO da Môre, afirmou que a Meta conseguiu neste primeiro momento trazer olhos/usuários para sua comunidade. Algo que foi feito com Mark Zuckerberg e sua equipe focando mais no presente e deixando em segundo planos as apostas para o futuro, como Metaverso e realidade virtual, que foram vistas de forma cética pelo mercado.

Desafios e problemas

Xavier afirmou ainda que entre os desafios da Meta no Threads está se diferenciar do Twitter, algo que precisará de uma janela de aprendizado com a base de usuários. Também acredita que a vocação do canal ainda não está tão clara do ponto de vista de marcas e empresas que precisam se relacionar com as pessoas, se será algo mais efêmero e positivo, como o Instagram, ou um espaço para discussões e temas polêmicos como o Twitter. Mas o executivo acredita que o espaço está aberto inclusive para uma terceira frente.

Já Simões acredita que essa terceira via pode ser o caminho que a Meta quer avançar. O profissional enxerga que o Threads eventualmente pode ser o centro das mídias do usuário, onde ele pode consumir conteúdo noticioso, de entretenimento, publicidade, além de sincronizar e integrar suas contas da Meta (Instagram, WhatsApp, Facebook). Essa possibilidade tem capacidade de atrair muitas marcas, desde que mantenham os usuários.

Cavallini  disse ainda que o Threads chega como uma alternativa para reiniciar o Twitter e traz vantagens de “zerar o jogo”. Mas tem receio pelo histórico de políticas de algoritmos da Meta: “O algoritmo da Meta é mais flexível que outras redes para conquistar usuários. Contudo, a Meta tem uma oportunidade de ser uma rede menos tóxica que o Twitter”.

Vale dizer, a preocupação do CEO da Makers vai ao encontro com o início de averiguação da ANPD sobre o tratamento de dados pessoais praticado pela nova rede social da Meta nesta sexta-feira.