O presidente norte-americano Donald Trump assinou duas ordens executivas contra empresas chinesas na noite da última quinta-feira, 6. A primeira ação bane transações nos EUA da ByteDance, controladora do TikTok (Android, iOS), e outra ordem similar contra o WeChat (Android, iOS) da Tencent.

Nos dois casos, a ação de Trump toma efeito a partir de 45 dias. Ou seja, em tempo hábil para um empresa norte-americana comprar o aplicativo TikTok. Nota-se que a ação afeta mais o app da ByteDance do que a plataforma de mensageria da Tencent – que possui poucos usuários nos Estados Unidos.

Conteúdo das ações

Em um verdadeiro ‘cópia e cola’ (CTRL C + CTRL V, na gíria da Internet), o presidente praticamente alterou apenas o nome das empresas nos documentos. Além disso, a ordem de Trump chega a ser vaga, pois não fala quais tipos de transações estão bloqueadas e não endereça tecnicamente como serão feitas e nem como ficam os apps.

Nos dois documentos, Trump acusa WeChat e TikTok de “coletar dados automaticamente” para que o Partido Comunista Chinês acesse dados pessoais e propriedade intelectual dos cidadãos norte-americanos, e que os dois apps repassam aos censores do governo chinês informações de minorias como Uyghurs e muçulmanos e dos manifestantes de Hong Kong.

Contudo, assim como no caso da Huawei, Trump não apresenta provas cabais de tais acusações.

Afirmou contra o WeChat, que, em março de 2019, “um pesquisador descobriu um banco de dados com bilhões de mensagens de EUA, Taiwan, Coreia do Sul, Austrália e China”, porém, sem dizer quem era o pesquisador, qual era a natureza da pesquisa e como ele achou esse banco de dados.

Contra o TikTok, que atualmente está em negociação para ser vendido à Microsoft, e com Trump e o Tesouro dos EUA aguardando sua conclusão para receber parte do dinheiro, o documento presidencial alega apenas que o app “pode” ter colaborado para criar teorias de conspiração das origens do novo coronavírus em 2019 – uma doença que Trump chama constantemente e de forma xenófoba de ‘vírus chinês’.

TikTok e WeChat

Em resposta à ação presidencial, o TikTok publicou nota em seu site afirmando que “estão chocados com a decisão”, uma vez que a ordem executiva foi apresentada sem nenhum processo administrativo, e reiterou que não mantém dados dos usuários norte-americanos. A companhia afirmou ainda que procurou atuar junto ao governo dos EUA para mostrar que está atuando corretamente, mas encontrou uma Administração que “não liga para fatos, ditou termos de um acordo sem seguir os processos legais e tentou se inserir diretamente nas negociações de uma empresa privada”.

Por sua vez, o WeChat disse aos veículos internacionais que está “revisando as ações” para ter compreensão por completo.

Histórico dos EUA

Importante dizer que os EUA possuem uma lei de 1996 que permite a cópia de dados via operadoras de telecomunicações, o CALEA. E vale lembrar que os EUA foram acusados de espionar, via NSA, os líderes de vários países, inclusive aliados de Europa, Oriente Médio e o Brasil, no escândalo do Prisma, em 2013, publicado no The Guardian.

Além disso, o relatório de transparência das empresas Twitter e Facebook, mostram que, na verdade, o governo norte-americano é aquele que mais pede acesso a dados de usuários da rede social, além de solicitar bloqueios de contas de usuários. Recentemente, o TikTok também indicou um aumento desses pedidos pelas autoridades dos EUA.

Além do Prisma, CALEA e dos pedidos de acesso às informações nas redes sociais, uma reportagem do Washington Post descobriu recentemente que a empresa suíça Cryto AG foi, durante 60 anos, uma fachada da CIA e da agência alemã BND para espionar aliados e inimigos através de tecnologias de comunicação.

China

Por sua vez, ao governo chinês pesa um caso de espionagem tecnológica contra o ocidente. O mais recente não envolve Huawei, TikTok ou WeChat, mas milhões de pequenos chips de espionagem – do tamanho da ponta de um lápis – que foram incluídos dentro de circuitos de placas de computadores e servidores que foram montados para 30 grandes empresas dos EUA, como Amazon e Apple. De acordo com matéria da Bloomberg de outubro do ano passado, os chips espiões foram adicionados às cadeias de fornecedores chineses, que repassavam placas para fabricantes de peças norte-americanas. Porém, essa historia foi negada pelas próprias empresas citadas na reportagem.