O filme Jobs começa com o ator Ashton Kutcher no papel do fundador da Apple apresentando o iPod para uma plateia de geeks e jornalistas em 2001, simbolizando o que seria o triunfo de Steve Jobs ao retornar e reerguer a empresa. Estranhamente, o roteirista preferiu não mostrar os seis anos posteriores, quando o executivo lançou o aparelho que garantiu à companhia o título de mais valiosa do mundo por algum tempo. Em junho de 2007, quando foi apresentado, o iPhone realmente revolucionou o mercado e transformou a marca da Apple em símbolo de status e desejo para além do universo geek e de descolados. De lá para cá, o smartphone ganhou um padrão de lançamento com completa remodelação a cada dois anos, ganhando uma versão “intermediária" com a letra S adicionada: iPhone 3GS, 4S e, agora, o 5S, lançado no final de novembro no Brasil.

Mas essa fórmula parece estar se esgotando. Diferentemente do que aconteceu nos últimos anos, o iPhone 5S (e, muito menos, o modelo 5C, que é basicamente uma recauchutada no iPhone 5) não provocou grandes filas na ocasião de seu lançamento. Novamente, as operadoras organizaram festas com famosos (alguns nem tanto) para a chegada do aparelho à meia-noite. Mas a badalação foi bem menor do que dos anos anteriores. Na loja da Vivo do Shopping Morumbi em São Paulo, por exemplo, a fila formada foi pequena e as subcelebridades atraíram mais atenção do que o produto.

O deslumbre diminuiu mais no Brasil por dois motivos: o preço salgado (a versão mais barata do iPhone 5S, de 16 GB, sai por R$ 1.700 com subsídio em plano pós-pago) e o aparelho em si. Não tiremos os méritos: o 5S é, obviamente, o melhor iPhone que a Apple já produziu. Mas é mais do mesmo. O processador melhorou, agora com poder de 64 bits, e o dispositivo conta com um leitor de digitais que realmente funciona como autenticação biométrica. Não parece que são novidades tão chamativas quanto as enormes telas dos mais recentes modelos high-end com Android, ou as câmeras absurdamente potentes dos dispositivos da Nokia.

O fator tamanho de tela é importante porque é um ponto que tem mostrado grande evolução nos modelos que usam o sistema operacional do Google, mas não no aparelho da Apple. A tela do 5S é a mesma do 5, que, por sua vez, era apenas uma polegada maior do que a do iPhone original, de 2007. É uma tela IPS de 4 polegadas com a tecnologia Retina (com grande densidade de pixels) que continua muito boa, mas o tamanho provavelmente agrada mais os próprios fãs da Maçã do que os acostumados com Androids, que dificilmente conseguem se acostumar com a tela menor.

Na parte de software, o iOS é basicamente o mesmo encontrado nas outras versões do aparelho. Não existe um killer app que justifique algum diferencial forte para se ter um iPhone 5S e não um 5 (ou 5C, realmente tanto faz).Sim, os games rodam melhor e mais suaves, há o recurso AirDrop de troca de arquivos pelo Wi-Fi, a câmera tem slow-motion em 120 quadros por segundo, o leitor de digital consegue substituir as senhas para a App Store. O processador M7, especializado em movimento, também não é um fator tão especial para conseguir atrair o consumidor. Para os brasileiros, é interessante que se trata do primeiro iPhone compatível com o 4G na faixa de 2,5 GHz, mas isso é obviamente um serviço ainda em fase inicial e com disponibilidade limitada. Nada disso justifica ou instiga a compra do smartphone para quem já tem uma versão anterior.

Desconsiderando o preço brasileiro, é um telefone com incrível poder de processamento e que traz funcionalidades que todos os fãs da marca amam. É um excelente smartphone, provavelmente um dos melhores da atualidade. Ele apenas não é marcante. Seja pelo design idêntico ao iPhone 5, seja pela falta de experiências realmente diferentes, específicas para quem se dispõe a comprar o novo modelo.

A estratégia da Apple de atualizar o aparelho a cada dois anos mostra sinal forte de cansaço. Ter um iPhone atualmente já não garante o mesmo status de antes. As filas no lançamento diminuíram também por isso. E melhorar o desempenho apenas não garante mais a fidelidade do consumidor. Mesmo revolucionário, o iPod não é mais relevante. O iPhone pode ir para o mesmo caminho. Por mais que valorize a imposição de tendências no mercado, a companhia precisa entender que não tem a mesma força que tinha na era Jobs. Nesse setor, a arrogância custa caro – essa foi a lição que a Nokia e a BlackBerry experimentaram com muito dissabor. Se não se reinventar, a Maçã poderá apodrecer logo.