O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, informou que a rede social Threads (Android, iOS) chegou aos 100 milhões de usuários registrados nesta segunda-feira, 10. O  executivo afirmou que o crescimento da base ocorre de forma orgânica, sem nenhum tipo de publicidade.

Com o resultado, a plataforma é a mais rápida da história a atingir os 100 milhões, ultrapassando o ChatGPT, que demorou dois meses; o TikTok, nove meses; e o Instagram, dois anos, segundo dados da investidora AppEconomy com base em Yahoo Finance e UBS. Vale dizer que o resultado acontece cinco dias depois do lançamento da plataforma.

 

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Em contrapartida, o CEO da Cloudflare, Mathew Prince, revelou que o principal rival do Threads, o Twitter (Android, iOS), está em queda franca em seu tráfego na web. Os dados são baseados no Cloudflare Radar, a plataforma que contabiliza os principais dados de tráfego web com base em seus produtos para acelerar plataformas na web.

Por sua vez, o controlador do Twitter, Elon Musk, foi para a rede social tecer mais críticas à rival Meta, ao dizer que está vendo vídeo em janela separada e vendo postagens ao mesmo em sua plataforma. Ou seja, uma ironia do investidor ao fato de que o Threads tem poucas funcionalidades. Um cenário que parece longe de terminar.

Competição

Na segunda parte do especial sobre o começo do Threads, os entrevistados pelo Mobile Time apresentam seus pontos de vista sobre o momento da nova rede social e como fica a disputa com os competidores, em especial contra o cambaleante Twitter. Um consenso entre os especialistas ouvidos por esta publicação é que o Threads não é uma rede social de curto sucesso, como aconteceu com Clubhouse ou Koo. E nem será uma plataforma de nicho, igual ao Blue Sky e Koo.

Ainda assim, há divergências.

Ricardo Cavallini, CEO da Makers, acredita que o Twitter pode diminuir bastante e virar uma rede de um público nichado, se o Threads vingar. Também afirmou que o Google “perdeu a oportunidade” de criar uma rede social. O executivo também acredita que ficará bem difícil para qualquer outra rede social avançar e entrar em disputa contra Threads, em especial pelos resultados do primeiro dia em atração de usuários.

Por sua vez, Fernando Moulin, sócio da Sponsorb e professor da ESPM, afirmou que o Google não está fora do páreo e pelo seu tamanho tem estofo para entrar nesse mercado. Mas acredita que a sua disputa será muito mais em inteligência artificial, em especial contra Amazon e Microsoft. Ainda assim, Moulin acredita que o Twitter e Musk estão “em xeque” – traduzindo do linguajar do xadrez, a rede social está a um movimento da derrota com a última jogada da Meta. Sobre a possibilidade de mais espaço, o especialista prevê que esse movimento do Threads pode ser o começo de uma consolidação do mercado de plataformas digitais, assim como aconteceu em outros segmentos (vide telecomunicações).

Léo Xavier, CEO da Môre, acredita que o lançamento da plataforma surge em um momento peculiar para o mercado, uma vez que há aqueles que tentam sair o duopólio de publicidade que é dominado por Google e Meta e criar suas próprias redes. Um exemplo é o mercado de retail media que tem players como Amazon, WalMart, CVS nos EUA e Mercado Livre e Magalu no Brasil. Pelo lado de rede sociais, ainda alerta que pode trazer mudanças e movimentações para rivais diretos, como o TikTok, uma vez que o Threads tem potencial de forte crescimento e retenção do usuário.

Daniel Simões,general manager da MoEngage, prevê uma disputa mais franca e aberta entre as duas plataformas e ressalta que ganhará aquela que tiver mais audiência: “O que vai fazer o jogo virar é a questão da audiência. ChatGPT demorou cinco dias para fazer 1 milhão de usuários. E Twitter, dois anos. A possibilidade de a audiência crescer é muito grande, pois tem a conversão com o Instagram. Estamos falando de 1,3 bilhão de pessoas que o Instagram pode trazer ao Threads”, disse ao comparar a evolução entre Threads e outras plataformas. “E o anunciante vai atrás da audiência. Basicamente é um jogo de audiência”, disse.

“O Twitter sempre foi um modelo de engajamento dos usuários. O TikTok é mais entretenimento. Threads pode integrar tudo em um lugar. Isso mexe com os players de outros segmentos. Assim como pode coletar dados que a Apple não deixa pegar hoje, para entender o consumidor e entregar audiência qualificada à publicidade. A coisa evoluindo, ele tem a possibilidade de incomodar”, complementou Simões.

Interoperabilidade e modelo de negócios

Outro ponto que é novidade no Threads (talvez a principal) é que pela primeira vez a Meta adiantou o próximo capítulo da plataforma, que é o seu avanço para um modelo interoperável e aberto por meio de padrões da W3C. Moulin vê esse movimento como natural, uma vez que outros players do mercado de serviços e plataformas digitais estão caminhando para adotar padrões abertos e que isso abre possibilidade para novos modelos de negócios: “A Meta poderá trabalhar com possíveis integrações e até criar uma ‘suíte Meta’, com novos modelos de negócios no horizonte. Mas é muito interessante ver (Mark) Zuckerberg fazendo isso. Ele não anuncia nada que não tenha pelo menos dois anos de planejamento à frente”, afirmou o executivo da Sponsorb.

Cavallini afirmou que provavelmente esta é a “primeira tentativa de uma rede social descentralizada”, uma vez que o Mastodon – que é aberto –  nunca cresceu. Afirmou ainda que o ideal seria a Meta mudar logo para o padrão aberto e assumir o prejuízo de um formato que deu muito problema no passado – o mais notório foi o caso da Cambridge Analytica que colaborou para alterar o resultado das eleições presidencial dos EUA em 2016. Lembrou ainda que o padrão aberto precisa vir logo, pois a Meta precisará de mais dados para entender o consumidor, uma vez que não têm mais acesso aos dados dos usuários Apple, a regulação da UE ficará mais pesada com o DMA e DSA e outras plataformas também devem caminhar para fechar a porta, como o Google com Chrome e Android.

Simões, da MoEngage, acredita que a interoperabilidade é o começo de um novo modelo de negócios na Meta, uma vez que a companhia sofreu reveses “com o modus operandi anterior” baseado em captura de dados e geração de publicidade. “A Meta está vendo que o mercado está diferente (mais exigente com a privacidade). Ao mesmo tempo, o concorrente principal está perdendo audiência. Isso vai se estender para o modelo de negócios. É algo bom para a empresa. Tem uma discussão a ser colocada na coleta de dados, mas eles estão tentando ser mais abertos”, completou.

Xavier, da Môre, pontuou que a interoperabilidade do Threads pode servir como “balão de ensaio” para que as redes mães (Instagram, Facebook, WhatsApp) avancem para mudanças focadas no mercado europeu, onde a discussão por privacidade e uso de dados com consentimento do usuário estão mais enraizados na regulação: “Aqui (Threads) a ideia é ensaiar, testar, levar para outros produtos e monetizar. Ou seja, a nova rede é mais um grande soldado da Meta pela briga da publicidade digital”, explicou.

Vale lembrar que a primeira reportagem especial sobre Threads foi publicada na sexta-feira, 10, e abordou o avanço da rede social no Brasil.