Há poucas semanas, a Zenvia anunciou a venda da sua área de direct carrier billing (DCB) para a norte-americana Syntonic. O fundador e CEO da compradora, Gary Greenbaum, está no Brasil esta semana e conversou com Mobile Time sobre os planos para o País. Ele demonstrou empolgação com a possibilidade de mesclar sua plataforma de dados patrocinados com DCB para gerar novas oportunidades de negócios para as teles nacionais dentro da economia de apps. Mas, para tanto, alerta que as operadoras precisam se mover rapidamente e aceitar uma participação menor do que estavam acostumadas com os serviços de valor adicionado (SVAs) de antigamente.

Gary Greenbaum, fundador e CEO da Syntonic

Mobile Time – A sede da Syntonic fica em Seattle, nos EUA, mas a empresa é listada na Bolsa de Sydney. Por que?

Gary Greenbaum – Precisávamos crescer capital e havia interesse de investir mais em mobile no Sudeste Asiático do que em outros lugares. Então decidimos fazer o IPO na Austrália. Levantamos dinheiro e isso nos deu credibilidade para lidarmos com operadoras de grande porte.

O Brasil passa por uma severa crise econômica e política nos últimos anos. Por que investir no Brasil agora?

Tenho uma visão de longo prazo. Reconheço que o Brasil é a nona maior economia do mundo e está crescendo. E é uma economia mobile first. Nosso foco é justamente em países em desenvolvimento, como aqueles do Sudeste Asiático e da África Subasaariana. Agora estamos entrando na América Latina.

Quais são seus planos para o Brasil após a aquisição da área de carrier billing da Zenvia?

Com direct carrier billing (DCB) queremos ajudar as operadoras a participarem do ecossistema de apps, de comércio móvel e de publicidade móvel. O DCB é o meio para as operadoras móveis participarem de um mercado que hoje é controlado por empresas over the top (OTTs). As teles podem seguir investindo somente em voz e texto e ver sua receita vai cair. Ou podem participar dessa onda de crescimento da economia de apps. Elas estão em uma posição perfeita no ecossistema móvel para participar desse mercado que movimenta US$ 2 trilhões no mundo: elas têm uma relação de confiança com o usuário final; armazenam créditos; e têm uma interface de billing para uma cobrança sem atritos.

DCB hoje movimenta US$ 30 bilhões no mundo. Queremos que as teles participem também do mercado de publicidade móvel, que fatura US$ 200 bilhões por ano e é dominado por Google e Facebook. Nossa plataforma permite que as operadoras ofereçam a marcas e provedores de conteúdo meios para aquisição e engajamento de usuários a um bom custo-benefício adotando, por exemplo, dados patrocinados.

Poderia dar um exemplo prático dessa combinação de DCB e mobile advertising?

O mercado de games, por exemplo, é bastante competitivo. Os publishers de jogos gastam muito dinheiro para divulgar seus games e engajar os usuários. Imagine se o Pokemon  Go oferecesse download sem descontar da franquia de dados e, digamos, 30 minutos por dia para a pessoa jogar de graça. Depois disso, com o usuário conquistado, ficaria mais fácil vender itens in-app, e neste caso poderia usar DCB. Mas as operadoras precisam se mover rapidamente, senão serão substituídas por carteiras digitais.

Uma das maiores dificuldades para o desenvolvimento do DCB no Brasil sempre foi convencer as operadoras a reduzir a sua participação no revenue share. Como resolver isso?

Em SVA boa parte do conteúdo tinha margem alta e as operadoras podiam pegar uma fatia grande. No novo mundo, ou seja, nessa economia dos apps, as margens são menores, mas há muito mais demanda por conteúdo móvel. A operadora tem a chance de participar desse crescimento de conteúdo premium com margens menores ou não participar.

De quanto deveria ser a margem das operadoras em DCB?

Tem que ser menos que  30%, porque é o que Apple e Google cobram.

Seu foco então será o uso do DCB para conteúdo móvel, não para a compra de bens físicos ou serviços O2O?

Exato. O2O não é nosso foco primário. Nossa prioridade é o mercado de apps, a venda de bens virtuais.

Há outros players de DCB no Brasil, como Bango e Boku. O que diferencia a Syntonic?

Temos uma solução ‘carrier grade’, que atende às necessidades das operadoras em larga escala. A Verizon Wireless e a Smart, por exemplo, são nossas clientes. Juntamos monetização e publicidade. Pretendemos reinventar o DCB. Você não vai ouvir a palavra VAS de mim. Estamos falando da nova economia de apps, vamos focar em conteúdo premium.

A Syntonic vai cortar serviços antigos de SVA que usam a plataforma de billing da Zenvia hoje?

Não vamos cortar nenhuma campanha ou relação de negócios. Vamos investir mais, pois acredito que exista outro segmento no qual queremos focar, que é o premium. Muitas marcas grandes de conteúdo nos procuram dizendo que não sabem como monetizar nos celulares. Nossa tarefa será educar as marcas e as operadoras de como participar nesse mercado. É o nosso papel.

Em quais mercados vocês atuam com dados patrocinados?

Na África do Sul, na África Subsaariana e em partes do Sudeste Asiático.

Gostaria de compartilhar mais alguma informação com os leitores do Mobile Time?

Estamos empolgados de estar no Brasil. O mais importante é transformar o ecossistema móvel permitindo que as operadoras participem da economia de apps.