A Infobip é uma das maiores empresas do setor de plataformas de comunicação como serviço (CPaaS), na sigla em inglês, com produtos que englobam múltiplos canais, como SMS, WhatsApp, RCS etc. É também uma das pioneiras no apoio ao projeto global Open Gateway, de desenvolvimento e exposição de APIs de rede das operadoras móveis. Mobile Time conversou com o fundador e CEO da Infobip, Silvio Kutic, durante sua passagem pelo Mobile World Congress, em Barcelona. O executivo projeta que dentro de dois ou três anos as APIs de SIM Swap e number verification do Open Gateway podem movimentar pelo menos US$ 10 bilhões ao ano. Mas alerta as teles para tomarem cuidado com a precificação. Nesta entrevista, fala também sobre RCS, IA generativa e o problema de tráfego inflado artificialmente no SMS A2P.

Mobile Time – Open Gateway foi uma das estrelas do Mobile World Congress este ano. Quão otimista você está quanto ao futuro dessa iniciativa? E qual será o papel a ser exercido pela Infobip nesse mercado?

Silvio Kutic O que vemos hoje como casos de uso mais demandados pelo mercado são os de SIM Swap e verificação de número telefônico. A Infobip está investindo bastante nisso. Éramos o parceiro global da GSMA na antiga solução de Mobile Connect, lançada alguns anos atrás. À época desenvolvemos a nossa própria tecnologia de como permitir que as operadoras exponham APIs de rede. Mas O Mobile Connect muito devagar e pouco user friendly. Não era tão seamless fazer uma verificação.

Somos uma companhia CPaaS, na qual entre 15% e 30% do tráfego é autenticação, o que é feito basicamente por SMS, embora o WhatsApp comece a ter um papel importante. O SMS é universal e seamless, mas não muito seguro. Para jogos funciona bem, mas para bancos e governos, é preciso de uma segurança maior e uma melhor integração, como acontece no Open Gateway.

Nosso papel é aproximar os desenvolvedores dos grandes bancos e empresas com os quais trabalhamos. Somos parceiros de mais de 1 mil instituições financeiras no mundo. Somos parceiros estratégicos de operadoras globalmente. Nosso papel é conectar as teles ou sermos enablers para elas participarem de um projeto como o Open Gateway. E, do outro lado, vamos criar casos de uso e integrar as grandes empresas à comunidade de desenvolvedores.

Em quais países a Infobip já está operando com Open Gateway?

Brasil (com as três grandes operadoras), Reino Unido, Espanha, Argentina…

A Infobip será um canal de vendas dessas APIs?

Sim, e vamos construir casos de uso junto com as teles e as empresas, em um processo de cocriação. SIM Swap e verificação de número são interessantes… Para a API de localização precisamos ver como fica a questão de privacidade… Queremos promover casos de uso para os desenvolvedores saberem como podem usar essas APIs.

A Infobip vai trabalhar com todas as APIs do Open Gateway? Por exemplo: vão trabalhar com a API de Qualidade sob demanda?

Temos que ver em quais casos de uso essa API se encaixa. Talvez em vídeo on demand, ou gaming, ou serviços de alta qualidade e baixa latência… Precisamos estudar para decidir se vamos oferecer, porque não é nosso core business.

Tem ideia de qual pode ser o tamanho do mercado para o Open Gateway? Digo em termos financeiros.

O mercado mundial de mensageria em CPaaS é de US$ 50 bilhões, dos quais entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões são para autenticação, cerca de um quarto do total. Uma parte vai para as APIs de SIM Swap e verificação de número do Open Gateway, fora os novos casos de uso para essas APIs. Então eu diria que em dois ou três anos essas duas APIs do Open Gateway podem chegar facilmente a US$ 10 bilhões por ano mundialmente. Isso sem contar outras APIs, como Qualidade sob demanda etc. Mas a grande procura é pelo SIM Swap e verificação de número.

Historicamente, as operadoras costumam cobrar caro pelo acesso a seus recursos. Nos tempos dos serviços de valor adicionado (SVAs), algumas ficavam com até 80% do revenue share em alguns casos. Um dos motivos para o carrier billing nunca ter decolado foi o fato de as teles não abrirem mão de uma fatia generosa da receita. Dependendo de quanto as operadoras cobrarem pelo Open Gateway, existe o risco de a iniciativa fracassar. Você concorda com essa minha preocupação?

Absolutamente, sim. O carrier billing só deu certo para serviços digitais, porque revenue share não funciona para mercadorias físicas. Preço é muito importante. Claro que a segurança e a autenticação transparente têm seu valor, mas se for muito caro, as empresas vão pensar duas vezes… Se houver um caso de uso que requeira mais segurança, vão pagar pelo premium, se não deixarão de lado. Todo mundo gosta de falar em valor, mas preço é muito importante para qualquer companhia.

A API de verificação de número vai roubar o mercado que hoje é de autenticação por SMS?

Em parte vai canibalizar, sim, mas depende do preço. Mas a torta como um todo vai crescer porque vão surgir novos casos de uso. É como SMS e RCS. Ou SMS e WhatsApp. Há alguma canibalização, mas o SMS segue crescendo, e o WhatsApp é usado para diferentes casos de uso. Segundo o Gartner, o mercado de CPaaS 1.0, composto por SMS e voz, cresce 15% ao ano, e o de CPaaS 2.0, com WhatsApp e RCS, cresce 35% ao ano. Porque traz novos casos de uso com IA generativa etc. Em resumo, há alguma canibalização, mas é pequena, porque novos mercados são criados.

Quais as perspectivas para o RCS, especialmente depois de a Apple ter anunciado que vai adotar essa tecnologia?

A Apple deve aderir ao RCS entre setembro e outubro deste ano, com seu novo lançamento, primeiramente com interoperabilidade P2P. Mas nós estamos interessados no A2P, ou seja, na comunicação entre empresas e pessoas. O WhatsApp começou em 2018 a abrir a plataforma. As empresas precisam de tempo para trabalhar em campanhas multimídia e criar tecnologia para medir os resultados etc. Esse mercado está crescendo muito rapidamente e as operadoras querem fazer parte dele. Há mercados como o Brasil em que o Android tem 80% de share. E com a chegada da Apple o RCS terá 100% de penetração. Somos parceiros da Meta, claro, mas também de vários outros OTTs e operadoras. Para a Infobip é uma ótima notícia (a adesão da Apple). As operadoras globalmente estão adotando muito rapidamente o RCS porque perceberam que estavam perdendo mercado para o WhatsApp em comunicação multimídia. E entenderam que precisam se adaptar, senão também terão o SMS canibalizado.

Acredita que o RCS pode ser o canal líder de mensageria em algum mercado no futuro? Talvez nos EUA…

Nos EUA com certeza, porque lá o WhatsApp é usado apenas por parte da população. É um mercado em que a Apple tem 60% de share. Se ela fizer a interoperabilidade, todo mundo estará no RCS ou no iMessage e ninguém precisará de outra aplicação. E mesmo mercados como o Brasil… O SMS é bem sucedido por ser universal e muito usado pelas empresas. O WhatsApp tem 90% de penetração, mas se aparecer uma tecnologia como SMS 2.0, com penetração de 100%, ela terá uma vantagem. Mas o Whatsap tem a vantagem de ser uma entidade única com 2,7 bilhões de usuários, enquanto o RCS é mais complexo porque envolve Google e várias operadoras…

Com que velocidade está crescendo o volume de mensagens RCS na Infobip?

Está crescendo rápido: 358% no ano passado. Mas ainda somos muito mais fortes com WhatsApp. Só que não é uma questão de se o RCS vai acontecer, mas quando e em quais mercados.

Qual é a abordagem da Infobip em IA generativa?

Bots e IA generativa fazem parte do CPaaS. Temos um produto chamado Answers, que está operando há quatro anos. 780 companhias usam. O Answers tem NLP, NLU, machine learning e agora IA generativa. Podemos usar para criar assistentes digitais. Estamos fazendo para verticais como varejo, telecom e finanças, nas áreas de suporte, vendas e marketing. Analisamos todos os dados, produtos e serviços da empresa, e também as melhores pessoas no serviço de atendimento para criarmos um assistente digital. Ele pode ser multimodal e assumir múltiplos personagens, mudando a forma como se comunica dependendo do interlocutor. 45 companhias já usam essa solução.

Recebemos algumas semanas atrás um relatório alertando sobre o aumento das fraudes de Tráfego Inflado Artificialmente (AIT, na sigla em inglês). Quão grave é esse problema no mercado de SMS A2P e como resolvê-lo?

São pequenas empresas no ecossistema que estão fazendo isso e trazendo instabilidade ao mercado. É um grande problema. Que bom que a indústria está alerta para o AIT, e combatendo o problema em diferentes níveis.

A Infobip tem parcerias com as teles globalmente e implementou o SMSC em mais de 100 operadoras. Em 2010 criamos nossa solução de firewall para SMS que hoje está em 120 teles. Somos os maiores nisso. Como proteger teles e assinantes de rotas cinza, spam, phishing e smishing? Em 2022 houve esse aumento de AIT. Criamos um sistema de filtragem com inteligência artificial chamado Signals, que analisa todos os dados e podemos bloquear o tráfego AIT. Esse sistema foi desenhado especificamente para combater AIT.

Imagem no alto: Silvio Kutic, CEO da Infobip, no Mobile World Congress (Divulgação)