pagamentos instantâneos

[Matéria atualizada em 16/12/21, às 19h30, para explicar sobre a fintech Saks] A fase 4 do open banking inicia o compartilhamento de informações sobre produtos de investimento, previdência, seguros, câmbio, entre outros. Neste momento, os clientes poderão compartilhar seus dados sobre esses temas, com consentimento. A ideia é que nasçam novas ofertas para esses produtos e serviços, personalizados e integrados. Uma das possibilidades são comparadores de preços, nos moldes de um Buscapé, que compara preços de produtos de uma série de comércios eletrônicos. Esses comparadores vão ajudar os consumidores com seus investimentos a partir de março de 2022. Esta é uma das previsões de Karen Machado, líder do projeto open banking no Banco do Brasil (BB).

“Nesta primeira parte da fase 4 (4-A), os bancos não trocam informação do cliente, só dados de produtos. Isso é uma informação muito valiosa para as empresas, pois pode surgir o ‘Buscapé dos investimentos”, disse a executiva do banco. “Também tem a mudança de preço nas instituições”, completou ao dizer que puxará a competição entre as instituições.

A especialista do BB explica que o comparador de preços pode acontecer também com os outros setores que estão englobados nesta etapa da regulação, como seguros e câmbio. Afirmou ainda que como é aberto, não será necessariamente criado por bancos ou instituições financeiras, ou seja, qualquer desenvolvedor pode criar uma aplicação desse tipo.

Luisa Soares, líder do comitê de fintechs e meios de pagamentos da ABO2O (Associação Brasileira de Online to Offline), lembra que a maioria dos bancos múltiplos – aqueles que estão inseridos obrigatoriamente no open banking – trabalham com investimento e câmbio. Portanto, a fase 4 serve para que essas empresas tenham uma noção mais ampla de produtos, serviços e a estrutura de preços existentes, o que “diminuirá a assimetria de informação e custo transacional”, além de promover o surgimento de “empresas e serviços com propostas inovadoras”.

Luiz Bacellar, CEO da Saks, fintech que sugere opções de planos de previdência privada, entre outras funcionalidades, acredita que esta etapa do open finance permitirá que a empresa evolua e escale seu produto por conta da facilidade que é o compartilhamento de dados. “Antes, o cliente tinha que acessar a conta dele, pegar um extrato e compartilhar esse extrato com outra instituição. Hoje, apenas com dados como agência, conta, usando um aplicativo – e inserindo a senha – ele compartilha esse dado. É muito mais simples”, explica.

Para o executivo, o ponto agora é desenvolver essas novas tecnologias de modo seguro para manter bem guardadas essas informações.

“A segurança vai ao encontro da LGPD. O cliente compartilha, mas a gente, como fintech, tem uma responsabilidade perante esses dados que acessamos. Imagina se o dado fica público? Se isso acontece, as instituições financeiras terão um problema, principalmente a empresa que foi lá buscar a informação que o cliente autorizou”, diz.

Entenda

ABO2O; Hash

Luísa Soares, líder do comitê de fintechs e meios de pagamentos da ABO2O

A fase 4 do open banking inicia nesta quarta-feira, 15, mas entra em vigor, na prática, em março do próximo ano. Isso acontece devido a uma normativa (Nº 205) publicada pelo Banco Central na última semana que escalonou a implementação a partir das seguintes etapas:

  • Obtenção da certificação funcional das APIs: de 15 de dezembro de 2021 até o prazo definido no inciso II para cada conjunto de produtos e serviços especificado;

  • E registro no ambiente produtivo do Diretório de Participantes das APIs relativas a produtos e serviços de:

a) seguros, previdência complementar aberta e capitalização: até 4 de março de 2022;

b) serviços de credenciamento em arranjos de pagamento: até 11 de março de 2022;

c) operações de câmbio: até 18 de março de 2022; e

d) contas de depósito a prazo e outros produtos com natureza de investimento: até 25 de março de 2022.

“A fase 4 é uma evolução natural do movimento de compartilhamento de dados e serviços que já vimos acontecer com o open banking no Brasil e no mundo até o momento. A implementação desta fase permitirá que novos produtos e serviços – como investimentos e previdência – recebam os benefícios que são associados ao open banking: mais competição e melhores serviços aos usuários finais”, disse Soares, da ABO2O.

Soares lembra ainda que os testes são “parte fundamental” na certificação funcional das APIs. E esses testes podem ser acompanhados no site oficial do open banking.

Escalonamento

Karen Machado, líder de open banking no BB, durante o 5×5 Tec Summit na primeira semana de dezembro

Na visão de Machado, a decisão do regulador foi acertada, pois há outros players participando, como seguradoras e plataformas de investimento e câmbio. Ou seja, há mais demanda para construção de diálogo e consenso entre os participantes, representados por instituições, como Febraban e Abecs.

“Os grupos (associações) discutem os temas. O momento no qual estamos é de construir as especificações (das APIs), que, uma vez testadas, seguem para as integrações. Com a extensão do cronograma, as instituições participantes terão até março para construir”, explicou a executiva do BB. “É um grande processo de aprendizado. Todo processo de inovação é assim. É normal começar uma fase e ter problema de integração, são muitas instituições. É natural identificar processos de melhoria”, concluiu.

Soares explica também que as fases 2 e 3 demandam certa “manutenção” constante em decorrência, especialmente, da necessidade de conciliar diversas instituições financeiras e de pagamentos.

Por outro lado, ela lembra que a fase 4 estabelece o “compartilhamento estruturado de dados de produtos e serviços não abrangidos” nas fases anteriores ou em sistemas equivalentes no mundo. Dito isso, o “escalonamento é necessário” para que as instituições participantes testem e efetivem as soluções desenvolvidas.

A líder de open banking do BB lembra que através de acertos e discussões como essas é possível encontrar paradigmas para atender o cidadão corretamente. Um desses casos foi o prazo de consentimento. No Reino Unido, o principal exemplo de open banking no mundo hoje, o prazo de consentimento de compartilhamento de dados era de no máximo 90 dias, ou seja, a cada três meses o usuário britânico precisa aprovar o compartilhamento de dados. No Brasil, o prazo foi ampliado para um período máximo de 12 meses.

Do consumidor ao banco

Quando instalada, a fase 4 eleva o open banking para open finance, ou seja, o sistema financeiro aberto com participantes de fora da cadeia bancária. Atualmente, apenas os bancos fazem parte do sistema aberto organizado com apoio do BC, mas de forma autorregulada. Nessa etapa, Machado explicou que funcionará da seguinte forma: o consumidor tem que fazer a gestão de toda informação dele e os bancos terão uma visão completa para oferecer produtos melhores.

“A quarta fase completa a visão 360 do cliente. Quanto mais informação do cliente, melhor as instituições podem atender e serem mais assertivas. A segunda fase ainda não olhava para patrimônio. É uma oportunidade de ter uma fotografia completa”, explicou a executiva. “A partir do momento que o cliente puder compartilhar suas informações de uma instituição para outra, ele poderá abrir o app e ver todos os investimentos que tem em outros bancos. É algo que agrega todas as informações”, conclui.

Soares, da ABO2O, acredita que a fase 4 é “uma evolução natural do movimento de compartilhamento de dados e serviços” que vimos acontecer com o open banking no Brasil e no mundo até o momento. Para a especialista, a implementação dessa fase permitirá que novos produtos e serviços – como investimentos e previdência – recebam os benefícios que são associados ao open banking: “Mais competição e melhores serviços aos usuários finais”, prevê. (colaborou Isabel Butcher)