O relatório da investigação feita por um comitê do Parlamento do Reino Unido sobre o uso de fake news e a desinformação – ou seja, aquela informação plantada para confundir ou induzir ao erro –, trouxe um cenário nada favorável para as mídias sociais, em especial o Facebook. No relatório, os legisladores frisam que o escândalo da Cambridge Analytica – que teria usado dados para mudar posição política de usuários daquela rede – foi facilitado pelas políticas da empresa de Mark Zuckerberg e chega a afirmar que essas mídias sociais “não podem agir como gângsters digitais” na Internet.

O relatório segue o posicionamento da comissária de informação do país, Elizabeth Denham, ao declarar que o Facebook não trouxe “foco, atenção e recursos” para proteger os dados dos consumidores. Denham ainda sugere uma mudança significativa no modelo de negócios da companhia, uma vez que os documentos obtidos pelo seu órgão (Information Commissioner Office ou ICO) confirmam que a rede social tinha “intenção e conhecimento” de práticas que violavam a política de proteção de dados e leis anticompetição.

O comitê do Parlamento ainda pede para o regulador Competition and Market Authority (CMA) – similar ao brasileiro Cade – faça uma auditoria da operação de publicidade na rede social. Citando novamente os documentos obtidos pela ICO junto ao desenvolvedor de aplicativo Six4Three, eles acreditam que a companhia de Zuckerberg deve ser investigada para apurar se ela está seguindo práticas anticompetitivas, como “gângsters digitais”, decidindo qual negócio prosperará.

No documento, o grupo de parlamentares afirma ainda que as afirmações de Mark Zuckerberg sobre proteção de dados de seus usuários, e de que nunca vendeu esses dados simplesmente não são verdadeiras.

Vale lembrar que o executivo não compareceu às audiências dos legisladores do Reino Unido, ao contrário do que fez nos Estados Unidos.

O relatório do Parlamento pede ainda: a criação de um código de ética para empresas de tecnologia; novas leis de proteção para regular e evitar que este modelo de negócios continue, e que, uma vez essa legislação criada e em vigor, que as companhias de tecnologia as incorpore; investigação da ICO sobre práticas e captação de dados de usuários do Facebook; mudanças nas leis de eleição do Reino Unido no tocante digital; análise do papel de outros países nas eleições via plataformas digitais (notou-se, inclusive, um aumento no tráfego no site do Parlamento de acessos oriundos da Rússia durante a publicação prévia deste relatório); a criação de ferramentas para separar o jornalismo de qualidade dos conteúdos falsos ou de baixa qualidade; e atenção ao uso de IA no futuro para denegrir dados privados.

A resposta do Facebook

Aos sites internacionais, o Facebook informou que está aberto a regulações e recomendações nas leis eleitorais, que suportam a legislação de privacidade, mas que ainda há muito o que fazer. Por isso, a companhia triplicou o tamanho de sua equipe de segurança em um ano, de 10 para 30 mil pessoas, e vem investido mais em ferramentas de inteligência artificial (IA), aprendizado de máquina e visão computacional, que ajudam a prevenir abusos de dados.