Os serviços de previsão do tempo oferecem pouco detalhamento sobre as condições do vento. Para quem pratica esportes náuticos como vela, windsurf e kitesurf, acompanhar o vento em tempo real e com a maior precisão possível faz toda a diferença. Para atender a esse público, nasceu a startup MuitoBonsVentos, que instala estações para monitorar o vento ao longo da costa brasileira, transmitindo os dados de minuto em minuto pela rede celular e apresentando-os em um site móvel para o público.

Seu fundador, Marcelo Barbosa, costuma velejar em Ilhabela/SP, onde instalou as primeiras estações. Ele conta a Mobile Time que a ideia surgiu em 2015, enquanto velejava: “Eu tinha pego um vento muito forte, com rajadas que pareciam de 30 nós. O Iate Clube tinha dados muito precários, com estação em terra que não pegava o vento verdadeiro. Enquanto eu velejava, reparei em um farolete da Marinha no meio do mar e pensei que ali seria um bom lugar para ter uma estação de medição.”

A partir daquele dia, Barbosa, que também é programador de software, começou a pesquisar sobre Arduino e outras tecnologias para criar uma solução de monitoramento dos ventos. “Fui encomendando itens como hobby. Juntei as peças e fui quebrando a cara. Comprei muito modem bugado, instável. E muita peça não deu conta do ambiente marinho de oxidação”, relembra Barbosa.

Marcelo Barbosa instalando a estação de Ubatuba/SP

O empreendedor acabou conseguindo montar por conta própria uma estação combinando um anemômetro, um painel de energia solar e um modem para comunicação pela rede celular. Paralelamente, obteve autorização da Marinha para instalar o equipamento no referido farolete em Ilhabela.

Ao longo do tempo, foi aperfeiçoando sua solução. Aprendeu, por exemplo, que não devia usar um chip comum de celular, mas uma versão voltada para M2M. “Em Ilhabela, na virada do ano, quando a população quadriplica, eu ficava sem sinal com um chip normal. O M2M, por usar banda estreita, tem privilégio na rede”, explica. Barbosa teve que lutar também contra os albatrozes, cujas fezes tampavam o painel de energia solar. Para afastá-los, passou a colocar na estação alguns objetos que os afugentam.

Cada estação informa de minuto em minuto a velocidade e a direção do vento. São cerca de 30 MB transmitidos por mês por cada estação. Com base em dados históricos de cada local, a MuitoBonsVentos consegue prever o comportamento do vento para o futuro próximo, o que é muito útil para qualquer esporte a vela. Além disso, Barbosa trabalha agora no desenvolvimento de um algoritmo para classificar o vento de cada local, levando em conta mais alguns critérios, como a sua constância.

Os modems são bidirecionais, o que significa que a MuitoBonsVentos pode enviar comandos para os equipamentos ordenando, por exemplo, que passem a fazer monitoramento mais frequente, de cinco em cinco segundos, o que pode servir para a atracação de navios de grande porte.

Hoje a MuitoBonsVentos tem instaladas cinco estações em Ilhabela, uma na represa de Guarapiranga e uma em Ubatuba. A localização de cada uma é decidida conversando com os desportistas da área. É sempre aproveitada alguma estrutura fixa pré-existente. Os próximos locais serão Araruama, Santos e Angra dos Reis. Até o final do ano, a expectativa é ter entre 30 e 40 estações operando.

Plataforma e modelo de negócios

Painel da MuitoBonsVentos

As informações coletadas pelas estações são disponibilizadas em um painel online da MuitoBonsVentos, em um site “mobile first”. Qualquer pessoa pode consultar os dados de graça, com atualização de hora em hora. Quem precisar de dados com atualização de minuto em minuto, pode se tornar um apoiador do projeto, pagando uma mensalidade de R$ 9,30 por local monitorado, ou de R$ 15,30 se quiser dados de todas as estações. O projeto foi lançado ao público há dois meses e já conta com mais de 300 pessoas cadastradas. A maioria, cerca de 70%, são praticantes de kitesurf, informa Barbosa.

Outro meio de monetização da startup é através de publicidade. Comerciantes locais podem adicionar ao mapa um pin representando o seu negócio em troca de uma mensalidade de R$ 200. Em Ilhabela o mapa conta no momento com seis pins.

Cat-M

O próximo passo tecnológico do projeto será a adoção de modems Cat-M, o que depende ainda da disponibilização dessa tecnologia pelas operadoras celulares nas regiões de atuação da startup. A grande vantagem será a redução de consumo de energia. “Para o painel solar será uma beleza”, comenta.