Pouco mais da metade (51%) das mulheres da América Latina têm conta em banco, ante 57% dos homens. Esse é um dos dados do estudo da Trendisity encomendado pelo Mercado Pago que entrevistou 4,2 mil consumidores e vendedores do marketplace na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México, entre julho e agosto de 2021. Outra resposta que mostra uma lacuna severa entre homens e mulheres é que apenas 10% das mulheres conseguem poupar dinheiro, em comparação a 16% dos homens.

“Tem dois aspectos importantes neste gap. Tem déficit de renda das mulheres, que gera menos poupança. E a mulher fica sobrecarregada. A partir do momento que a família se desfaz, ela fica com a casa, filhos e de vez em quando com uma pensão”, diz Ilton Teiltabaum, professor de publicidade na PUC-RS e responsável pela pesquisa na Trendisity. “É uma questão de papéis na sociedade. O homem é o provedor principal, mas quando ele desaparece, ela acumula essas funções. Isso é uma realidade regional (da América Latina)”, analisa.

Teilteabaum explica que isso também se reflete no acesso à tecnologia, em especial no mobile. Em outro achado da pesquisa, o acumulado das respostas mostra que o acesso das mulheres aos smartphones é menor ante os homens: “Hoje na América Latina tem muito mais linhas de celular do que gente. Essa digitalização é mobile, pois as pessoas são móveis. O open banking, o Pix e as carteiras são contemporâneos da digitalização mobile. Mas as mulheres estão menos nisso, porque têm sete pontos percentuais a menos que os homens no mobile”.

Educação financeira, o futuro

Além da lacuna de gênero, o estudo também mostra que falta conhecimento de educação financeira aos latino-americanos. 15% dos entrevistados dizem que não consultam, nem se informam antes de utilizar ou consumir produtos e serviços financeiros. “Sete em dez usuários da região carecem de educação financeira”, alertou Gabriela Szprinc, head de pagamentos do Mercado Pago, usando dados da pesquisa.

“40% dos nossos usuários de cartão nunca tiveram acesso ao cartão de crédito antes. Ou seja, iniciou com necessidade de acesso ao crédito durante a pandemia, mas eu comecei a ensiná-lo a usar. Trago o usuário dentro do sistema e faço com que ele use bem. Como o momento certo de dar ou não dar crédito”, completou a executiva.

Teiltabaum afirma que o problema é multigeracional, porém com focos diferentes: “O jovem (geração Z) sabe usar a tecnologia, o que ele não tem é dinheiro. O jovem adulto (geração Y) tem um pouco mais de dinheiro e habilidade para o digital. Ele aprendeu sozinho e confia em propósitos. Talvez ele seja o mais privilegiado. E a geração X tem uma vida mais estável em termos de dinheiro, mas não está tão inserida nesta jornada”.

“A pandemia fez as pessoas viverem no limite da sobrevivência. Elas entraram nos serviços financeiros digitais por necessidade”, relata o pesquisador. “Temos pessoas que entraram no banco digital por necessidade de ter uma forma de pagamento. Agora, a manutenção é por esse caminho (educação financeira)”, complementou.

Pelo lado do Mercado Livre e Mercado Pago, a jornada de digitalização acontece com a educação do consumidor e dos vendedores, uma vez que ambos foram inseridos neste novo universo digital na base da necessidade.

“Temos dados (internos) de vendedores que mostram que a nossa participação em online payments já superou o boleto. 20% do total transacionado por nossos vendedores online já é Pix. Por isso, a educação financeira precisa estar próxima. O que percebemos é o fluxo de clientes cada vez mais engajados em educar”, explicou a head de pagamentos.

Digitalização

A pesquisa revela ainda que a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV 2) acelerou a digitalização. Ouvindo pessoas de 16 a 65 anos de idade, o estudo da Trendsity mostrou que um a cada quatro usuários passou a usar meios de pagamento digital a partir de março de 2020. Entre os vendedores do Mercado Livre, um em três começou a usar ferramentas digitais para vender e nove em dez usam carteiras digitais como novos meios de pagamentos.

“Acompanhando o resultado nessa pesquisa, vimos um aumento de novos entrantes. Só no Mercado Pago vimos 9 milhões entrando com o Auxílio Emergencial. 61% dos vendedores que usavam a maquininha, passaram outros meios de pagamentos. Apesar das grandes lacunas, nós demos um empurrãozinho (para a digitalização financeira)”, relata Szprinc.