Nos últimos anos, uma mudança de comportamento tem sido notada entre os brasileiros no uso dos telefones celulares: as pessoas estão ligando menos. E, quando precisam ligar, avisam antes por mensagem de texto, geralmente no WhatsApp. Para muita gente, ligar de surpresa virou até falta de educação. Mobile Time e Opinion Box resolveram medir isso em uma pesquisa. Descobriu-se que 60% dos brasileiros costumam perguntar antes por mensagem se podem ligar e 52% preferem ser avisados antes por mensagem sobre uma ligação que vão receber.

Para ser exato, 24% sempre perguntam antes se podem ligar e 36% o fazem com pessoas das quais não são muito próximos. E 40% não têm essa prática: ligam para quem precisam sem perguntar antes.

No caso do recebimento de chamadas, 26% gostam de sempre serem avisados antes por mensagem; 23% fazem questão de serem avisados somente quando a ligação for de pessoas não muito próximas; e 51% não se importam de receber chamadas sem aviso prévio.

Interessante notar que há uma diferença significativa de comportamento dependendo do gênero. Os homens são menos preocupados com essa nova etiqueta: 45% não mandam mensagem antes de ligar, ante 35% das mulheres. E 54% dos homens não se importam de receber ligações sem aviso prévio, ante 48% das mulheres.

Há também uma diferença por faixa etária quanto ao recebimento de chamadas: quanto maior a idade, menor o incômodo de receber ligações sem um alerta prévio. Entre os jovens de 16 a 29 anos, 46% não se incomodam. O percentual sobe para 51% na faixa entre 30 e 39 anos, e chega a 55% entre pessoas com 50 anos ou mais.

Análise

Há vários fatores sócio-culturais e tecnológicos que podem explicar essa nova etiqueta móvel do brasileiro. O primeiro deles é a popularização da comunicação assíncrona via WhatsApp. As pessoas se acostumaram (e gostaram!) da dinâmica de ler e responder a mensagens no momento que lhes for mais conveniente, enquanto uma chamada telefônica as obriga a parar o que estiverem fazendo para atender e falar.

Outro motivo pode ser a segurança. Os altos índices de roubos de celulares nas grandes cidades fazem com que muita gente evite atender um telefonema enquanto caminha nas ruas.

Ainda sobre segurança, o excesso de chamadas com tentativas de golpe ou para fins de telemarketing irritaram os brasileiros nos últimos anos, tornando cada vez mais raro atender uma ligação de número desconhecido.

Por fim, um aumento no cuidado de preservar a privacidade também pode explicar a preferência por ser avisado antes de receber uma ligação. Falar em voz alta no telefone em um ambiente coletivo é cada vez mais visto como inadequado, além de chamar a atenção.

Histórico

Ao longo do tempo, o comportamento dos brasileiros em relação às chamadas telefônicas vai se transformando, a reboque de novidades tecnológicas ou comerciais no setor de telecom. Há pelo menos outros três exemplos marcantes nas últimas décadas:

. O declínio do telefone fixo. Nos anos 1980 e 1990, toda residência de classe média tinha um telefone fixo. A popularização do celular a partir dos anos 2000 aliada ao excesso de chamadas de telemarketing nos números fixos fizeram com que, gradativamente, o telefone fixo fosse abandonado. Muitas casas de classe média hoje nem possuem mais número fixo. Esse tipo de telefonia agora está cada vez mais restrito a empresas.

. Do multiSIM ao monoSIM. Por volta de 2010, era comum, especialmente entre clientes pré-pagos, o uso de telefones com múltiplos SIMcards, um de cada operadora. O objetivo era economizar na realização de chamadas, porque as teles ofereciam preços muito mais baratos para ligações “on-net”, ou seja, para outros números da mesma operadora. Porém, alguns anos mais tarde, houve uma mudança de estratégia das teles. Com a queda no preço da interconexão móvel, as operadoras passaram a oferecer pacotes com chamadas ilimitadas, independentemente de serem “on-net” ou “off-net”. Isso acabou com a necessidade de manter várias linhas de teles diferentes e fez cair drasticamente a proporção de pré-pagos na base móvel brasileira.

. Chamadas no WhatsApp. Paralelamente, o sucesso do WhatsApp, aplicativo presente em 99% dos smartphones nacionais, faz com que muitos brasileiros prefiram realizar chamadas de voz através dessa plataforma, em vez de usar a rede de voz tradicional das operadoras. De acordo com a última pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre apps de mensageria, 51% dos brasileiros com smartphone declaram realizar mais chamadas de voz pelo WhatsApp que pelo plano de minutos da sua operadora móvel.

A pesquisa foi feita entre 15 e 24 de novembro de 2023 com 2.068 brasileiros que acessam a internet e possuem smartphone. A margem de erro é de 2,1 pontos percentuais.