Existe hoje um enorme mercado de SMS corporativo no Brasil que será beneficiado pela adoção da tecnologia de RCS, o que vai melhorar a comunicação entre marcas e clientes, assim como abrir novas possibilidades de casos de uso. Mas e quanto à comunicação por mensagem entre usuários finais? Dá tempo das operadoras reconquistarem os consumidores que foram perdidos para o WhatsApp? De acordo com a mais recente pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre mensageria móvel no Brasil, 97% dos internautas brasileiros com smartphone possuem o WhatsApp instalado e 98% deles acessam o aplicativo de mensageria todo dia ou quase todo dia. Enquanto isso, apenas 25% declaram que enviam SMS praticamente todo dia, e 54% recebem SMS com frequência diária.

“O que o RCS traz de novo será suficiente para provocar uma migração da comunicação P2P? Honestamente, eu não sei. E acredito que ninguém tenha certeza disso. No fim, a decisão estará na mão do cliente”, comenta Rodrigo Gruner, diretor de serviços digitais e inovação da Vivo.

O executivo lembra que nem sempre o app com melhores recursos vence essa guerra. Cita como exemplo o Viber, que tinha mais funcionalidades e mesmo assim foi preterido pelo WhatsApp pelo público brasileiro, anos atrás, quando a disputa estava em aberto.

Investimento em mídia de massa também não é garantia de sucesso. Que o diga o chinês WeChat, que descarregou uma montanha de dinheiro no Brasil em 2013 com campanha na TV aberta e o Neymar de garoto propaganda. Não foi suficiente.

No fundo, o que conta é onde está a rede de contatos das pessoas, ou seja, seus amigos e familiares. Se a maioria estiver em uma determinada rede social ou aplicativo de mensagem, há uma força gravitacional que puxa o resto do público. Ela cresce quanto mais aumenta a base. E o WhatsApp hoje é praticamente uma unanimidade no Brasil, usado por todas as faixas etárias e classes sociais.

O trunfo das operadoras

As operadoras vão começar trabalhando a comunicação de seus próprios produtos através do RCS, apresentando promoções e novos serviços para os seus assinantes com mensagens multimídia no lugar das velhas mensagens de texto.

Em uma segunda fase, virá a comunicação A2P, ou seja, de empresas com seus clientes, substituindo gradativamente o que hoje acontece por SMS. Em vez de meras notificações, começará a acontecer conversas entre marcas e consumidores via RCS, inclusive com a utilização de chatbots.

Com isso, os clientes vão aos poucos se familiarizar com o novo canal e começar a experimentar em conversas com os amigos. E aí é fundamental que o RCS esteja funcionando de maneira interoperável em todas as grandes teles do País, assim como na maioria dos handsets Android – a Apple ainda não aderiu ao RCS, mas representa um share pequeno no Brasil, menor que 10% da base.

Então, as operadoras terão a oportunidade de usar um trunfo que têm nas mãos: o controle sobre a rede de dados móveis. Hoje, Claro, Oi, TIM e Vivo oferecem acesso ao WhatsApp sem descontar da franquia de dados. É uma forma de atrair e fidelizar os clientes. Mas e se resolverem trocar o WhatsApp pelo RCS? O que aconteceria se, em uma terceira fase do RCS no Brasil, sua navegação passasse a ser ilimitada e sem desconto na franquia de dados, enquanto o WhatsApp voltasse a gastar o plano de dados do consumidor? Em uma economia emergente como a brasileira, em que os consumidores são extremamente sensíveis a preços e promoções, este pode vir a ser um trunfo das teles para reconquistar o tráfego de mensageria P2P.

Porém, um movimento conjunto pode ser questionado do ponto de vista da legislação concorrencial, assim como no que tange o Marco Civil da Internet. Cabe lembrar, entretanto, que as reclamações de que o oferta de navegação gratuita em alguns apps feriria a neutralidade de rede não prosperaram no Brasil até agora.

De todo modo, no fim, o que importa mesmo é onde estarão nossos amigos e familiares. É para lá que todos iremos… ou de onde não sairemos.