A crise do novo coronavírus mostrou que o momento da transformação digital passou para as grandes companhias. Com a aceleração das tecnologias digitais dentro das corporações, o CIO da Tokio Marine no Brasil, Wilson Leal, acredita que o momento é de revolução digital para essas empresas. “Nós, empresas grandes, estamos no momento da revolução digital. O momento da transformação digital já foi”, disse o executivo, durante live organizada pelo Futurecom 2020 nesta terça-feira, 23. “Precisamos fechar todos os lados e as pontas, com todos os processos sendo digital”.

Para ele, a mudança após pandemia mostra que o consumidor buscará mais produtos e serviços sobre demanda. Para isso, as firmas precisam estar preparadas e munidas de soluções tecnológicas baseadas em inteligência artificial, Big Data e Internet das Coisas (IoT). “Com três meses dentro de casa, os hábitos mudam. Essas tecnologias ajudam a ter essa visão (do que o consumidor quer)”, concluiu Leal.

Pelo lado da indústria, Paulo Alvarenga, CEO da ThyssenKrupp na América Latina, alertou que momentos como a atual crise do novo coronavírus empurram o setor a se adaptar e acelerar a adoção dessas tecnologias. Ainda assim, o executivo acredita que a indústria 4.0, expoente das novas tecnologias neste setor, deve ser feita passo a passo.

“A indústria 4.0 é como um mosaico. Você vai construindo peça a peça”, afirmou Alvarenga, que possui fábrica totalmente robotizada sul do Brasil. “A transformação digital pode acelerar a partir de diferentes modelos de negócios, soluções digitais ou pela digitalização da nossa cadeia de valor. O momento atual (da crise pandêmica) é a aceleração pela cadeia de valor, mas acelera também produtos e modelos digitais”.

Cultura

Se por um lado há avanços para a revolução digital, os executivos que participaram veem desafios para a implantação da cadeia. Um deles é a falta de maturidade das empresas de dimensões menores que fazem parte da cadeia de produção nacional, como exposto por Carlos José Bastos Grillo, CDO da WEG no Brasil.

“Queremos ser um fornecedor de indústria 4.0 dentro e fora do Brasil. Mas notamos que as empresas não estão em um nível de maturidade. A fábrica toda customizada e robotizada é algo de elite”, explicou Grillo. “Com isso, acreditamos que a Indústria 4.0 tem que ser simples. E não acreditamos que indústria 4.0 é ‘one size fits all’, um formato único para todos. Por isso, temos construído camada a camada por solução”.

Para André Costa, CIO da CCR, outro desafio é a cultura da digitalização dentro das corporações. Costa lembrou que “tecnologia é meio e não fim”, e que haverá sempre a necessidade de inteligência humana por trás de soluções transformadoras como inteligência artificial, Big Data e machine learning.

“De nada adianta colocar uma tecnologia se as pessoas não se engajam a desenvolver novas competências. Essas evoluções todas, elas vêm para empoderar o usuário final e o cliente”, disse o CIO da concessionária. “O grande desafio é: como nós agregamos mais valor e mais competitividade aos negócios com essas tecnologias, mas sem deixar de pensar que as pessoas que vão usar esse potencial?”

Gerações e clientes

Outros dois desafios citados por Antonio Carlos Neves, CIO da Groupe PSA, são os choques geracionais de trabalhadores e a relação entre parque industrial analógico e um novo parque digital. Em ambos os casos, Neves explicou que é necessária uma coexistência: “Quando falamos de digitalização e uso das (novas) ferramentas, não podemos esquecer que temos pessoas da ‘velha guarda’ que têm conhecimento das atividades. Temos um parque tecnológico que é antigo e não será mudado da noite para o dia, e eles geram produtos”.

“Digo isso, pois precisamos trabalhar a frustração. Você tem que ponderar que a indústria 4.0 não é feita de uma vez, ela é preparada por células. Você tem que ponderar o que você quer fazer, reduzir custos, aumentar produtividade”, completou o executivo da automotiva. “Acho que a grande dificuldade é juntar essas gerações e colocar para administrar. Mas hoje nós temos IA com RPA que automatiza o administrativo, que transforma o analista operacional para analista de dados. É isso que temos que fazer além da transformação cultural”.

Neves afirma ainda que as mudanças têm que acontecer da área de negócios para as áreas de TI e digital das empresas. Ressaltou que a cadeia interna necessita “ter uma estrutura para acontecer”. E lembrou de um outro desafio, o aculturamento do cliente. Cita como exemplo, o fato de usuários comprarem um carro que estaciona sozinho, mas a grande parte das pessoas não usa a função por medo.