|Atualizado em 25 de janeiro, às 22h30|

O fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, está planejando consolidar a infraestrutura por trás dos aplicativos WhatsApp, Messenger e Instagram. Os apps continuariam existindo separadamente para o consumidor final, mas seu backend seria unificado. Outra medida consistiria em adotar a criptografia fim a fim no Messenger e no Instagram, tal como já acontece no WhatsApp. A meta seria concluir essa integração até 2020. O plano foi divulgado pelo jornal norte-americano The New York Times, citando fontes anônimas do Facebook.

O objetivo da unificação da infraestrutura seria abrir uma série de novas possibilidades de cruzamento de dados e de funcionalidades entre os aplicativos. Um usuário do Messenger poderia enviar uma mensagem para outro que usa somente o WhatsApp, por exemplo, o que hoje não é possível. O jornal cita também a possibilidade de compradores e vendedores do marketplace do Facebook conversarem via WhatsApp para acertarem os detalhes do negócio. Isso sem falar nas oportunidades de se melhorar a assertividade das ferramentas publicitárias contidas atualmente no Facebook, no Instagram e no Messenger.

O jornal insinua que a intenção de integrar os apps de mensageria estaria causando mal-estar dentro da empresa, principalmente entre os funcionários do WhatsApp e do Instagram, e teria sido o motivo para a saída dos antigos fundadores dos dois aplicativos.

Em comunicado enviado à imprensa, o Facebook confirma o plano em estudo, mas ressalta que ainda está em fase inicial e pode ser alterado ao longo do tempo: “Queremos construir a melhor experiência de mensagens possível, e as pessoas querem que as mensagens sejam rápidas, simples, confiáveis e privadas. Estamos em um estágio bastante inicial de avaliar maneiras de adicionar criptografia à comunicação pessoal, e considerando formas de tornar mais fácil para que as pessoas falem com amigos e família em diferentes redes. É comum debatermos internamente opções de produto de longo prazo, e essas discussões evoluem e vão se ajustando ao longo do tempo”

Análise

A integração de infraestrutura afetaria exatamente os quatro apps mais populares do Brasil. WhatsApp, Facebook, Instagram e Facebook Messenger, nesta ordem, são os aplicativos mais presentes na homescreen do smartphone nacional, de acordo com a mais recente edição do Radar de Popularidade de Apps, produzido por Mobile Time e Opinion Box. O WhatsApp é encontrado na tela inicial de 62% dos smartphones nacionais, seguido pelo Facebook (53%), Instagram (36%) e Messenger (19%).

É sabido que os serviços de mensageria e de redes sociais são extremamente sensíveis a questões como preço, privacidade, publicidade e spam. Qualquer alteração nesses componentes pode provocar desconforto na base de usuários e levar à migração para outros apps. Se, por acaso, o WhatsApp errar a mão nessas mudanças, os beneficiados no Brasil seriam, provavelmente, o Telegram e o RCS – este último somente se as operadoras móveis já tiverem adotado a tecnologia. Por enquanto, apenas a Oi lançou RCS, mas Vivo e TIM prometem fazer o mesmo ainda este ano.

Os maiores mercados do WhatsApp no mundo são Índia e Brasil, a ponto de o aplicativo ser capaz de influenciar eleições e provocar linchamentos públicos. De acordo com a mais recente pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre mensageria móvel, 97% dos internautas brasileiros com smartphone têm o WhatsApp instalado; 73% têm o Messenger; e 15%, o Telegram. Entre os usuários do WhatsApp, 98% acessam o app todo dia ou quase todo dia. No Messenger, são 67%. No Telegram, 57%. Enquanto isso, apenas 25% declaram enviar SMS todo dia ou quase todo dia, e 54% recebem SMS com essa frequência.

O WhatsApp tem agido com cautela ao adicionar ferramentas de monetização, consciente de que um movimento abrupto e mal planejado poderia ocasionar a debandada dos usuários. Somente em agosto do ano passado, o app abriu sua API para disparo de mensagens corporativas, mas o acesso está restrito a poucos parceiros homologados – no Brasil, somente Infobip, Take e Wavy. Além disso, todo novo cliente corporativo e seu fluxo de conversação precisam ser aprovados pelo WhatsApp antes de o canal ser liberado para o público.

Na Índia, o app está experimentando uma ferramenta para pagamentos e transferências entre usuários, em parceria com bancos locais. Há rumores de que iniciaria os testes no Brasil este ano.

A notícia publicada pelo New York Times indica uma mudança de rumos na estratégia global do Facebook, aproximando-se mais de Zuckerberg e menos das ideias dos fundadores do WhatsApp. Isso pode significar uma aceleração no lançamento de novas funcionalidades e de meios de monetização. Se isso acontecer, resta ver qual será o impacto sobre a base de usuários.