Ilustração: La Mandarina Dibujos

No setor de saúde, existe a figura dos enfermeiros navegadores, profissionais que atuam como um elo entre o paciente e as equipes médicas. Uma de suas tarefas é realizar o acompanhamento pós-operatório de pacientes, mantendo contato por telefone ou e-mail. O hospital A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo, realizou um teste, no qual um chatbot fez esse tipo de atendimento por meio do WhatsApp (Android, iOS).

O acompanhamento foi feito com 78 pacientes que haviam passado por cirurgia de remoção de câncer colorretal. Eles relatavam ao chatbot como estavam se sentido, descrevendo seus sintomas. O teste alcançou uma taxa de 100% de engajamento e 82% de satisfação. Nas conversas, o robô constatou 16 eventos adversos. Destes, nove foram orientados a ir ao pronto-socorro imediatamente. Três eram casos realmente sérios, que precisaram ser tratados na hora. A estimativa é que o atendimento com o chatbot tenha economizado a todos os pacientes cerca de R$ 100 mil.

“Nós seguimos a jornada digital do paciente de acordo com o momento do pós-operatório”, explicou Alexandre Luque, diretor sênior de negócios da Johnson & Johnson MedTech Brasil, no evento Cidade do Futuro, realizado nesta quarta-feira, 25, em São Paulo. Luque deu um exemplo de interação: o chatbot pergunta, “bom dia, como você dormiu essa noite?”. E o paciente responde, “senti falta de ar”. O algoritmo da inteligência artificial (IA) identifica que o sintoma é relatado por 98% das pessoas que sofrem de dispneia. Também entende que, na condição do pós-operatório, este é um sintoma preocupante, por isso, avisa a equipe médica responsável pelo paciente. 

“Esse é um exemplo de como o uso da inteligência artificial com processamento de linguagem natural (PLN) pode ser aplicada à saúde, como uma relação mais próxima com o paciente pode modificar completamente o setor”, disse o diretor. Ele destacou que o índice de avaliação foi melhor no atendimento com chatbot, em comparação com um humano, devido à flexibilidade de horário que o paciente tem para conversar com o robô – a qualquer hora.

“Essa revolução é disruptiva e conflituosa”, afirmou, referindo-se ao uso de IA na saúde. “Nos próximos cinco anos, vamos ver manifestações, como aquelas entre Uber e taxistas, por temas que não conseguimos prever, porque ela gera conflitos sobre inúmeros aspectos na sociedade. Nós não acreditamos que a inteligência artificial vai substituir o profissional de saúde. Mas o profissional de saúde que usar inteligência artificial vai definitivamente substituir o profissional que não usar”, argumentou.

Na visão de Luque, passamos por um momento de inflexão na sociedade, com a democratização do uso de IA – que antes era restrita a empresas maiores devido ao alto custo. Com a popularização de ferramentas como o ChatGPT, que está sendo utilizado por estudantes a cientistas, esse acesso se tornou público. No entanto, para Luque, a democratização não passa somente pelo uso da ferramenta, mas também por ter acesso ao algoritmo por trás dela.