Após anos de resistência, a Apple anunciou a maior mudança nos sistema de pagamento, cobrança e oferta de apps da App Store na Europa (e apenas na Europa) nesta quinta-feira, 25. Para entrar em conformidade com o Ato de Mercados Digitais (DMA), a companhia tirou barreiras e dará mais liberdade de escolha aos consumidores, ao permitir que desenvolvedores ofereçam:

  • Outras formas de pagamento fora de seu marketplace;
  • Aplicativos fora da App Stores;
  • a interoperabilidade com plataformas externas.

De acordo com a Apple, a mudança será em mais de 600 APIs, dados analíticos de apps, funcionalidades alternativas em navegadores e opções para processamento de pagamentos e distribuição em apps – esse último é a liberação do sistema de pagamento.

Além da App Store, estão englobados na alteração o sistema operacional iOS e o navegador Safari. Oficialmente, a alteração acontece em 24 março para 27 países europeus, mas as novas funções já estão habilitadas para testes na versão beta do iOS (17,4).

O Spotify adiantou essa mudança da App Store na última quarta-feira, inclusive explicando as opções de promoções e reduções de valores que isso traria a seus usuários. Além disso, os desenvolvedores poderão oferecer os aplicativos fora da App Store e, com isso, o usuário poderá baixar em outras lojas.

A Apple também adiciona a esse pacote duas novidades recentes em pagamento: a liberação do uso do NFC para outras carteiras e formas de pagamento além do Apple Pay; e a opção para usuários escolherem outra carteira como sua principal, no lugar da Apple Pay. Na prática, isso abre a opção para desenvolvedores terem sua carteira diretamente com o usuário Apple, sejam bancos, governos ou até rivais como a Samsung Pay ou Google Pay.

Estratégia do medo

Contudo, em seu posicionamento, a Apple não cede e não reconhece que a mudança trará melhorias financeiras. A companhia apela ao medo da falta de segurança, ao dizer que a abertura de mercado é um risco. Algo que foi o mote da empresa durante todo o processo regulatório.

“As novas opções de processamento de pagamento e downloads no iOS abrem novas avenidas para malwares, fraudes, golpes ilícitos e conteúdo danoso, além de outras ameaças à segurança e privacidade”, disse a empresa que apresentou uma ferramenta de autorização para os desenvolvedores que desejam sistemas de pagamentos externos, o Notarization.

“Mesmo com essa proteção, muitos riscos ainda estão em jogo”, reforça em seu comunicado.

Fica comigo

Para os desenvolvedores, o tom da comunicação foi diferente daquela que foi para a imprensa. A Apple apela para o “não muda nada” para quem quiser continuar o sistema de pagamento da App Store: “Se você quiser que nada mude para você (desenvolvedor) – na forma como a App Store trabalha atualmente na União Europeia e no resto do mundo – não precisa fazer nada. Você pode continuar distribuindo seus apps apenas na App Stores e usar a privacidade e segurança do nosso sistema de pagamentos in-app”.

A Apple ainda colocou à disposição desses profissionais uma calculadora (com valores e metodologia próprias) para mostrar que há vantagem em manter seu app exclusivamente na App Store. Além disso, a companhia apresentou três alterações no sistema de pagamento e cobrança da App Store como uma forma de manter os apps, são elas:

  1. Redução da comissão de receita (revenue share) para 10% no primeiro ano ou 17% se for produto ou serviço (assinatura);
  2. A taxa de processamento de pagamento para 3%;
  3. E a taxa de uso do core da tecnologia de 0,50 euros por cada primeira instalação de app por ano acima do limite de 1 milhão (essa vale para App Store ou app em marketplace alternativo).

Na visão da empresa, a maioria dos desenvolvedores devem reduzir ou manter os valores que ganham com a Apple se adotarem as novas regras da União Europeia, ou seja, se deixaram o lock-in da Apple. E menos de 1% dos desenvolvedores pagariam para ter um core de tecnologia (que traz toda robustez e segurança) na União Europeia.

Imagem principal: Loja da Apple (crédito: Shutterstock)