As plataformas chinesas que englobam e-commerce, meios de pagamento e mensageria – conhecidas como super apps ou Transactions Super Apps (TSA) – são uma realidade no mundo. Segundo dados da e-Marketer, a indústria de pagamentos estima alcançar 577,4 milhões de usuários na China, a maioria pagando via dispositivos móveis e carteiras digitais. A indústria brasileira tenta entender como isso pode funcionar no País.

De acordo com Rogério Panca, diretor de meios de pagamento do Banco do Brasil, aplicações como o WeChat e AliPay dependem da adoção por parte do consumidor: “Na China existem dois grandes conglomerados oferecendo super apps: Alibaba (AliPay) e Tencent (WeChat Pay). Dizer que isso (super apps) não vai colar por conta da cultura, é tapar o Sol com a peneira. O cliente é quem vai decidir. Nosso desafio é entregar para o cliente a experiência, independentemente do formato. Se a gente (indústria de pagamentos) não fizer, nós seremos intermediados”.

Por sua vez, Marcelo Kopel, diretor-executivo para cartões e loyalty do Itaú, acredita que as super carteiras de pagamento vão acontecer eventualmente. Contudo, acredita que no mercado há espaço para crescimento tanto das atuais empresas de pagamento como das eventuais companhias de tecnologia que apostam no segmento.

Ainda assim, Danilo Caffaro, VP executivo de produtos, negócios e marketing da Cielo, explicou que diversos parceiros do setor de pagamentos brasileiro têm procurado a empresa para desenvolver soluções similares no País. Ele frisou que a solução está pronta, uma vez que a Cielo tem um papel de viabilizar este tipo de produto.

“Temos uma série de desafios para replicar esse modelo no Brasil. Tenho conversado na indústria e constatei que muitos players querem replicar. Antes, é importante dizer que o segredo do super app é o pagamento”, disse Caffaro. “Adotamos o papel de viabilizador de pagamentos. Nosso setup é feito para construir esse tipo de oferta. Temos infraestrutura sólida para aderir a isso de forma rápida”.

O tema dos super apps foi debatido por executivos do setor durante o 13º Congresso de Meios de Pagamentos Eletrônicos (CMEP). Entre eles, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Mastercard Brasil, Paulo Frossard. O executivo defendeu que os super apps “são um caminho sem volta, que deve acontecer em breve”. Mas acredita que ficará a critério do consumidor definir qual app escolher.

QRCode, LGPD e adquirência

Durante o CMEP, realizado em São Paulo nesta quarta-feira, 27, a padronização nos pagamentos com QR Code, a entrada do Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no setor e os embates entre os adquirentes pelo mercado de maquininhas de cartão foram discutidos pelos executivos.

Sobre a disputa no POS, Rodrigo Carneiro, diretor de produtos da Rede, frisou que, na visão de sua empresa, a única maneira de se diferenciar de suas rivais que buscam atrair o consumidor com preços baixos é oferecer mais vantagens a seus compradores.

“Não é segredo para ninguém que o mercado de credenciador tem uma disputa acirrada. Eu só vejo uma saída para que esse modelo tenha margens confortáveis: tem que se diferenciar por qualidade de serviço, proximidade de atendimento e oferta completa para atender o cliente com o que ele precisa”, frisou o executivo da adquirente.

Sobre LGPD, Kopel, do Itaú, procurou fazer uma associação com o uso da inteligência artificial (IA) nos bancos. Para ele, LGPD e IA precisam ser considerados com prudência, mas há potencial para trazer mais produtos e serviços para toda cadeia de pagamentos.

“Se a empresa acerta a mão (no LGPD e IA), você será assertivo no contexto e na hora certa para o usuário. Se erra a mão, você será inconveniente com o cliente. Isso requer muito teste antes de trabalhar”, explicou o diretor-executivo do banco. “A LGPD é um marco na história. Nós vamos ter que lidar com isso. Mas vai abrir uma série de oportunidade para a gente”.

Sobre QR Codes, Eduardo Abreu, vice-presidente de desenvolvimento de novos negócios da Visa do Brasil, afirmou categoricamente que a solução “não vai funcionar no fim do dia se cada um usar um modelo diferente”. Ele explicou que as bandeiras têm um padrão para pagamentos com QR Code, algo que pode melhorar a experiência do cliente, inclusive em P2P.

Fintechs e big techs

Os representantes da indústria de pagamentos ainda debateram outras questões, como a entrada das fintechs no setor, e uma eventual disputa com as big techs (Google, Facebook e Apple). Para Eduardo Chedid, CEO na cartão ELO, a entrada de grandes empresas de tecnologia pode ser um desafio para toda a indústria.

“É um desafio principalmente pelos modelos de atuação, que não são similares. Por exemplo, Facebook e WhatsApp entram em parceria com a indústria. O Google, na Índia, foi para um caminho diferente. Mas são movimentos inevitáveis”, disse Chedid. “A indústria de pagamentos tem se portado como um movimento de parceria. A discussão da Abecs nos pagamentos P2P é uma prova que os atores estão se mexendo”.

Sobre as fintechs, os executivos, no geral, defenderam que a presença das novas entrantes ajuda o setor. Abreu, da Visa, lembrou que sua companhia, como outras, têm feito programas de aceleração para atrair empresas inovadoras. Por sua vez, Carneiro, da Rede, frisou que é necessário mais colaboração entre empresas e fintechs, devido ao dinamismo das tecnologias no mundo atual.

Já Kopel, do Itaú, defende a parceria do ecossistema de pagamento com as fintechs: “É mais fácil trabalhar juntos com as fintechs . É bem mais produtivo do que ser inimigo delas”.