As operadoras de telefonia começam a explorar o uso de antenas de micro-ondas como alternativa à fibra ótica no backhaul de 5G, algo que fazem com frequência no 4G. Durante evento organizado pela Huawei nesta quinta-feira, 27, representantes de Claro, TIM e Vivo relataram os benefícios de uso da tecnologia. No entanto, há algumas ressalvas.

“Uma das maiores preocupações no 5G é a latência”, explicou Daniel Dias, analista da Claro. Para determinados serviços de Iot, a baixa latência do 5G é crucial. “Neste sentido, eu entendo que a solução é trazer o core mais perto do usuário. Para ter ideia, um site fibrado a 100 km até o nosso core tem 1 m/s de latência, isso começa a impactar o serviço”, complementou.

Por sua vez, Marco Braga, consultor sênior da TIM, afirmou que o desafio na latência é para aplicações de alta complexidade, como carros e cirurgias conectadas. Assim como Dias, Braga afirmou que o ideal para essas aplicações é ter o “core próximo e virtualizado”. Por outro lado, a operadora já utiliza o mix de micro-ondas e fibra em sua rede atual de LTE e caminha para usar essa arquitetura na quinta geração.

Na Vivo, Wilson Costa, consultor sênior da operadora, explicou que obteve benefícios no uso das antenas de micro-ondas. Trabalhando com enlace de rádio em última milha multibanda para regiões mais densas, o especialista explica que há vantagem em entrega de latência mais baixa na última milha.

“O rádio (micro-ondas), por usar interface aérea, tem uma latência menor que fibra, por refração. Ou seja, existe uma vantagem ante a fibra. A interface aérea tem 1 m/s e a fibra até 1,4 m/s”, afirmou Costa. “A latência está na capacidade de processamento, por isso, nós estamos procurando trabalhar na arquitetura full outdoor: sem necessidade de indoor unit (IDU). Outro detalhe é que precisaremos de um processamento diferenciado, maior que o atual, para suportar todos os devices que entrarem no 5G”.

Exemplos de uso

No ecossistema brasileiro de telecomunicações, Eduardo Tude, presidente da Teleco, explicou que as antenas de micro-ondas podem ser usadas para cumprir as obrigações do leilão, uma vez que o prazo é curto para levar conectividade em 14 mil regiões com mais de 600 mil habitantes e rodovias: “Em muitas conexões de ERBs, usar a fibra não é viável economicamente. Mesmo nas capitais, vemos um monte de links de micro-ondas”, disse Tude. Ele também cita como vantagens: plugar as ERBs existentes com micro-ondas para evoluir do 4G ao 5G; e para expandir a cobertura móvel em regiões rurais, em especial para usuários que precisam de conexões móveis básicas, como acessar um OTT.

Do exterior, um exemplo citado pela Huawei é n Oriente Médio. Segundo Perry Yang, gerente de produto de micro-ondas na Huawei, 60% do backhaul de 5G são feitos com micro-ondas no Oriente Médio, com capacidade de atendimento de última milha do 5G similar à fibra ótica. Neste caso, é utilizada super dual banda na frequência de banda E, pois há dificuldade de passar fibra ótica em regiões remotas.

Estudo

Outro executivo que participou do painel foi o vice-presidente da ABI na região de Ásia-Pacífico, Jake Saunder. Citando dados de uma pesquisa recente da empresa em parceria com a GSMA, o analista afirmou que “mesmo que a fibra seja atrativa”, o micro-ondas é “muito utilizado no mundo”, pois é “versátil e compacto” para implementação da rede no suporte ao 5G.

Do estudo feito em fevereiro, Saunders lembra que instalações de micro-ondas e ondas milimétricas responderão por 60% dos gastos de backhaul até 2027, contra 30% de fibra ótica. No total, os investimentos com 5G em backhaul (de todos os tipos) chegarão a US$ 321 bilhões em sete anos.