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O Brasil tem fortes vocações quando o assunto é inteligência artificial. No setor financeiro, no setor público, em especial o jurídico, e na agricultura, com a Internet das Coisas como abre-alas. Para Christian Perrone, coordenador da área de direito e tecnologia, Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio), a falta de foco é um dos principais problemas da Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA) divulgada pelo governo federal neste ano. Ele também citou a economia criativa e a saúde como polos importantes. O debate foi conduzido no Super Bots, evento de quatro dias organizado por Mobile Time que terminou nesta sexta-feira, 27.

“Acredito que o setor público seria um dos primeiros a utilizar a IA. E, como estamos bem na estratégia de IoT, o agronegócio tem um potencial de ganho enorme no uso dessa tecnologia”, continuou Perrone. “A economia criativa e a área da saúde também são setores importantes onde a IA se desenvolveu nos últimos três anos. E completaria a lista com o setor financeiro. A América Latina, em especial o Brasil, é um dos grandes polos mundiais de fintechs”, completou.

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Dora Kaufman é professora do Programa Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP

Dora Kaufman, professora do Programa Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP, concordou com algumas das verticais citadas por Perrone, e lembrou que o histórico financeiro do País nos anos 1980 e 90, com alta inflação, fez com que os bancos brasileiros investissem muito em tecnologia. E a inteligência artificial é um importante motor para manter o País relevante no segmento. “No setor financeiro, sem dúvida, temos uma tradição e temos um papel de destaque no mundo”, disse.

Com relação ao agronegócio, a professora aponta o fato de o Brasil ter a vantagem de possuir duas grandes colheitas anuais como um ponto importante para o uso da tecnologia.

“Não colocaria a área pública como um todo, mas sim a Justiça. Não temos vantagens do ponto de vista tecnológico, mas o uso da IA seria extremamente importante porque temos um problema grave no sistema jurídico em que a Justiça não funciona. Há um excesso de informação que o sistema jurídico não dá conta e a IA é perfeita para enfrentar questões com grandes quantidades de dados”, explica.

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Eduardo Paranhos é coordenador do GT de inteligência artificial da ABES e sócio-fundador do escritório EPG Advogados

O próprio setor da tecnologia no Brasil também tem tudo para se beneficiar da IA. É o que acredita Eduardo Paranhos, coordenador do GT de inteligência artificial da ABES e sócio-fundador do escritório EPG Advogados. “Se a gente fomentar setores pensando puramente nas verticais de usuários finais, mas não no produtor, no desenvolvedor de tecnologia, podemos enfrentar um gargalo em que as tecnologias não estarão disponíveis”, salientou.

Viés discriminatório

Outro ponto abordado pelos painelistas foi sobre quais cuidados são necessários para que os algoritmos não repliquem discriminações e como a IA pode ajudar a reduzir essas injustiças.

“O viés é uma das grandes questões. É complexa a origem do viés. Muitos pensam que ele está apenas na base de dados, mas está também no processo (de elaboração do algoritmo) e nas decisões tomadas pelo desenvolvedor. Começa desde o rótulo de um dado”, explica a professora da PUC-SP. “E a realidade é enviesada. O ser humano é extremamente enviesado. Todas as decisões que tomamos são preconceituosas (no sentido do pré-conceito que fazemos a partir da nossa experiência de vida)”, ponderou

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Christian Perrone é coordenador da área de direito e tecnologia do ITS-Rio

Na visão de Perrone, o viés está em todas as fases: na concepção, no desenvolvimento, na implementação e no gerenciamento da IA. Mas, para o coordenador da área de direito e tecnologia do ITS-Rio, é preciso estar atento não apenas à discriminação, mas à exclusão de uma parcela significativa da população a partir do uso da inteligência artificial ou da tecnologia. Um exemplo que ele deu foi o das ações de políticas públicas, como o auxílio emergencial, que demanda de quem vai receber o benefício ter acesso à Internet. “É uma exclusão de uma parcela significativa da população sem o viés da discriminação. Deveríamos pensar em uma IA com conceito de diversidade, inclusão e não discriminação by design”, concluiu.