A iniciativa de centros de competência da Embrapii quer atrair operadoras e outras empresas do ecossistema de telecomunicações. De acordo com Thales Marçal, coordenador de projetos para transformação digital da estatal, as companhias do setor podem se beneficiar da “associação tecnológica”, ou seja, do modelo de assinatura dos centros de competência.

O modelo de assinatura pode variar de caso a caso e centro a centro. Entre os benefícios, os institutos de pesquisa podem oferecer acesso às tecnologias e laboratórios do espaço de pesquisa, investimento em startups ali alocadas e até cadeira no conselho, dependendo do valor a ser pago. No caso das operadoras, a vantagem seria alinhar a rota de pesquisa juntos aos institutos, além de participar no desenvolvimento de padrões do 6G e OpenRAN.

Inicialmente, o centro de competência é  vantajoso apenas para empresas da Lei de Informática (vide, fabricantes de equipamentos). Isso porque essas companhias podem alocar parte de seus investimentos de pesquisa e informática que garantem o subsídio na lei para os centros de competência. Mas Marçal explicou que qualquer empresa pode participar dos centros, uma vez que o modelo por assinatura está aberto para qualquer empresa e traz benefícios.

“Muitas empresas não visualizam a importância da inovação aberta. Estamos falando da colaboração antes da criação de um produto ou serviço. Isso é muito comum no exterior. Por isso que vemos rivais participando do mesmo centro, pois não querem ficar para trás”, disse o gerente da Embrapii. “Aqui, as empresas colaboram para desenvolver um padrão. A concorrência virá só depois da criação da tecnologia. Em um futuro produto ou serviço”, completou.

OpenRAN

Um exemplo de centro de pesquisa que conversa com o ecossistema de telecomunicações é o CPQD, que atua na competência de OpenRAN. A instituição de Campinas conversa com as três principais operadoras do País (Claro, TIM e Vivo), além dos novos entrantes que compraram frequência no leilão do 5G, associações, ISPs e integradores – esses mirando a padronização em redes privativas. Também estão nesse bojo de conversas as plataformas de computação em nuvem.

“O centro de competência é uma iniciativa significativa, pois posiciona o Brasil no contexto global das redes de padrão aberto. Com isso, nós podemos reter talento (pesquisadores) e evitar a evasão de cérebros (brain drain, no original em inglês), fazer intercâmbio com pesquisadores internacionais e realizar spin-off de empresas dentro do CPQD”, explicou Gustavo Corrêa Lima, gerente de soluções de conectividade do centro de pesquisa.

Marçal explicou que o investimento de três anos da Embrapii nos centros de competência pode servir para ajudar a padronizar tecnologias de rede, inclusive enviar pessoas dos centros de pesquisas para as discussões na UIT que definem como as regras de conectividade são aplicadas globalmente.

Centros de competência

Criados há dois anos, os centros de competência funcionam como um hub de inovação aberta entre os principais centros de pesquisas do País, empresas e startups. O intuito dessa relação é criar tecnologias de fronteira, ou seja, aquelas que tenham uma padronização no nível 6 de maturidade tecnológica ou de manufatura (TRL/MRL), mas ainda não possuem aplicação e modelo comercial.

Com duração de três anos e R$ 60 milhões para serem aportados em projetos, a Embrapii selecionou oito centros de competência, são eles:

  • Centro de Competência Embrapii em OpenRAN. Unidade gestora: Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações – CPQD (SP);
  • Centro de Competência Embrapii em Tecnologia e Infraestruturas de Conectividade 5G e 6G.
    Unidade gestora: Inatel – Inatel Instituto Nacional de Telecomunicações (MG);
  • Centro de Competência Embrapii em Tecnologia Quântica. Unidade gestora: SENAI Cimatec – Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (BA);
  • Centro de Competência Embrapii em Tecnologias Imersivas Aplicadas a Mundos Virtuais. Unidade gestora: CEIA-UFG – Centro de Excelência em Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (GO);
  • Centro de Competência Embrapii em Plataformas de Hardware Inteligentes e Conectadas – Smart Gride e Mobilidade Elétrica. Unidade gestora: Lactec – Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (PR);
  • Centro de Competência Embrapii em Plataformas de Hardware Inteligentes e Conectadas – Agricultura Digital. Unidade gestora: Instituto SENAI de Inovação (ISI) em Sistemas de Sensoriamento (RS);
  • Centro de Competência Embrapii em Plataformas de Hardware Inteligentes e Conectadas. Unidade gestora: Virtus-UFCG – Núcleo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Tecnologia da Informação, Comunicação e Automação, da Universidade Federal de Campina Grande (PB);
  • Centro de Competência em Terapias Avançadas. Unidade gestora: Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein (SP).

Na última quarta-feira, 21, os dois centros de SP (CPQD e Hospital Albert Einstein) receberam um adicional de R$ 60 milhões para desenvolvimento de projetos em um convênio da Fapesp com a Embrapii. Importante dizer que a liberação do dinheiro depende de aprovação do fundo de pesquisa paulista e da Embrapii.

Um nono centro de pesquisa ainda deve ser selecionado para atuar dentro da competência de cibersegurança. O nome e o valor que o espaço receberá ainda não foram divulgados.

Vale dizer, independentemente de sua competência, uma companhia pode pleitear para entrar em um dos oitos centros existentes. Por exemplo, uma telco pode investir e se associar a um centro de inteligência artificial ou tecnologias imersivas. Assim, como uma petrolífera pode entrar nas competências de OpenRAN ou 6G.

Imagem principal: Evento de apresentação dos Centro de Competência do Embrapii na Fiesp (divulgação: Embrapii)