Já há algum tempo as fabricantes enxergaram no sistema operacional Android a oportunidade para desenvolver aparelhos baratos para o chamado “mercado emergente”. Eram smartphones funcionais, capazes de rodar aplicações básicas como navegação na Internet e e-mails, mas pecavam muito no desempenho e não conseguiam rodar apps mais desejados, como games. Aos poucos, com o barateamento de peças e o aumento da oferta de produtos e do poder de compra do consumidor, os dispositivos foram ficando mais e mais parecidos com os modelos topo de linha nos quais se inspiram, mas ainda com uma diferença abismal na performance.

Aí veio o Moto G, da Motorola Mobility. O smartphone teve lançamento mundial no Brasil, feito pelo CEO da fabricante, Dennis Woodside. A principal arma apresentada pela companhia foi a relação custo-benefício, conforme MOBILE TIME havia previsto antes mesmo de seu anúncio. De fato, o aparelho se destaca na faixa de preço. A versão mais básica, de 8 GB, tem o preço sugerido de R$ 649, mas já teve esse preço diminuído em promoções de e-commerce para algo em torno de R$ 550.

No desempenho, ele igualmente se destaca. Usando o app de benchmark gratuito AnTuTu, o Moto G alcançou 17.501 pontos, ficando pouco abaixo do Samsung Galaxy S3, mas acima do Nexus 4, mesmo que este tenha um processador mais rápido. Ambos os aparelhos são encontrados com preços acima do dispositivo da Motorola. No dia a dia, isso é notado com a fluidez nos comandos e na renderização de páginas e e-mails.

Ele vem com o Android limpo (que será atualizado para o 4.4 Kit Kat em janeiro), quase sem alterações – apenas alguns aplicativos de auxílio para migração de contatos e backup, além do atalho para os apps nacionais obrigatório para obter a desoneração na produção no Brasil. Isso, aliado ao bom processador Snapdragon 400 quad-core e a RAM de 1 GB, fazem com que ele tenha rapidez na usabilidade. Agora, é possível dizer que um autêntico smartphone de entrada consegue rodar um jogo pesado como Real Racing 3. Mesmo que sem tantos detalhes quanto na versão para aparelhos mais potentes, ele consegue ter fluidez no game com taxa de quadros por segundo (pelo menos acima de 30 fps) melhor do que o BlackBerry Z10, um smart topo de linha. Ou seja: ele aguenta apps mais exigentes sem engasgos.

Claro, há pontos que mostram que ele não é exatamente um topo de linha. A construção dele é boa, mas ainda é de um plástico com aparência mais despojada. Não há slot para adição de um microSD para aumentar o armazenamento, algo que seria bem-vindo ainda mais na versão de 8 GB. A câmera é honesta, mas o aplicativo não é bom e a resolução deixa a desejar. Além disso, a boa tela de 4,5 polegadas não tem uma sensibilidade ao toque (especialmente nas bordas) tão precisa quanto a de aparelhos como o próprio Z10 ou o Galaxy S4 e o iPhone. Importante dizer que, ainda assim, é uma tela excelente e com boa resolução e densidade de pixels.

A questão toda é que, com essas características e a adição de elementos populares como rádio FM e dualSIM, o Moto G é de longe o smartphone no Brasil com a melhor relação custo-benefício. Não apenas isso, mas ele é um aparelho bom – e ponto final. E isso é muito positivo, pois fará com que a concorrência precise correr para se igualar nessa relação. O ponto do Google, controlador da Motorola, é justamente oferecer a experiência mais competente possível para um Android. Na verdade, acaba sendo o mesmo motivo pelo qual a empresa lançou no mercado internacional o Nexus 5 ao preço de US$ 350: mostrar que é possível oferecer bons produtos a um preço acessível.

Não é a toa que, na medida em que o Moto G era testado, este noticiário recebia inúmeras perguntas sobre a qualidade do aparelho. Se o interesse se traduzir em vendas, a Motorola pode começar a comemorar seu renascimento no mercado de telefonia celular.