O governo francês proibiu ministros e suas equipes de gabinete de utilizarem os apps de mensageria mais comuns, como Messenger, Signal, Telegram e WhatsApp. A medida começa a contar a partir de 8 de dezembro, quando as pessoas deverão usar uma aplicação nacional, a Olvid. O motivo está na segurança.

Em uma circular que percorreu a administração federal, a primeira-ministra francesa, Elizabeth Borne, pede que se faça uma “substituição de outros serviços de mensagens instantâneas para fortalecer a segurança das trocas”. Segundo a nota, a primeira-ministra alega que “as principais aplicações de mensagens instantâneas do público em geral ocupam um lugar crescente nas nossas comunicações”, mas “não estão isentas de vulnerabilidades de segurança”. Além da segurança, Borne justificou a mudança para também haver “avanço para uma maior soberania francesa”.

Nesta quinta-feira, 30, Meredith Whittaker, presidente do Signal, postou no X que ficou preocupada que a alegação da primeira-ministra seja “falhas na segurança” no Signal para justificar a mudança. “Esta afirmação não é apoiada por nenhuma evidência e é perigosamente enganosa, especialmente vinda do governo”, escreveu.

https://twitter.com/mer__edith/status/1730207726180204885

Em outro post, foi além: “Se você quiser usar um produto francês, vá em frente! Mas não espalhe informações erradas no processo. O Signal é auditado de forma independente, de código aberto e nosso protocolo é testado há mais de 10 anos”, completou.

Will Cathcart, head do WhatsApp, repostou o texto de Whittaker, concordando com a executiva do Signal. “On est du même avis”, disse Cathcart, ou “temos a mesma opinião”, na tradução livre para o português, no mesmo dia em que o app de mensageria lançou uma nova camada de segurança, o código secreto para conversas.

Borne e sua equipe usam o Olvid desde julho de 2022 e o ministro de assuntos digitais, Jean-Noël Barrot, enxerga o app francês como o “mais seguro do mundo”.

Vale dizer que o governo francês já baniu redes sociais como TikTok, X (ex-Twitter) e até mesmo o Candy Crush entre seus funcionários.

Olvid, o app da polêmica

Segundo o jornal Libération, o Olvid foi criado em 2019 por dois especialistas franceses em segurança: Thomas Baignères e Mathieu Finiasz. Seu diferencial é, além de ter os dados criptografados de ponta a ponta, como os outros apps, fazer o mesmo com os metadados (quem falou com quem, e quando), garantindo o anonimato dos interlocutores.

A ferramenta garante nunca ter acessado os dados transmitidos no app e a empresa se sustenta a partir da cobrança de assinaturas (5 euros por mês por usuário ou um plano empresarial de 10 euros por mês por usuário, além de uma taxa anual de 5 mil euros). Há também uma versão gratuita do app.

Segundo a AFP, o Olvid tem mais de 100 mil usuários.

O app não requer número de telefone celular para cadastro. E a adição do contato é feita por meio de leitura de QR code de uso único. Cada usuário recebe um código de quatro dígitos para se comunicar com o novo contato.

A alternativa francesa, no entanto, permanece praticamente desconhecida do grande público.